quinta-feira, 27 de abril de 2023

Portugal | A RATOEIRA DO CHEGA

Domingos de Andrade* | Jornal de Notícias | opinião

Percebe-se que há um limite para tudo. Que um dia a paciência se esgota e se perdem as estribeiras. Foi o que aconteceu ao presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, perante o abastardamento permanente dos deputados do Chega quando Lula da Silva discursava no Parlamento, no dia em que se assinalou o 49.º aniversário do 25 de Abril de 1974.

Não está aqui em causa um olhar político sobre as polémicas entre a Esquerda e a Direita na véspera da visita do presidente do Brasil, que culminaram com uma solução salomónica e Lula a discursar antes das comemorações oficiais.

Quando convidamos alguém para nossa casa, mais a mais quando essa casa é a da Democracia, está em primeiro lugar sabermos receber, independentemente da ideologia ou credo que professemos. É uma questão, no mínimo, de boa educação e de respeito. Tudo o que faltou aos deputados do Chega, com cujo comportamento ninguém pode pactuar.

O problema é que a estratégia ruidosa e agitadora que está no ADN dos partidos populistas colhe ecos na sociedade. E colhe tantos mais apoios quanto mais aumenta a perceção da impunidade dos poderosos, quando o amontoar de casos degrada a vida política e desacredita os políticos. E essa responsabilidade, a da perceção do ambiente putrefacto que se vive, cabe inteiramente a quem nos governa.

Acresce que a reação compreensivelmente irritada de Augusto Santos Silva, seguida da decisão menos compreensível de excluir o Chega das delegações das visitas a parlamentos estrangeiros, mesmo alegando que os representantes do partido demonstraram que "não garantem a 100% que respeitam essas altas entidades", tem um único efeito: permitir que André Ventura se vitimize, o que se tem refletido na subida nos votos e na simpatia popular.

As democracias continuam sem saber como atuar perante o surgimento de fenómenos populistas, parecendo hoje evidente que a excomunhão só beneficia os extremismos. E não é nada difícil atuar. Basta que os partidos cumpram a sua razão de existir e deem respostas para os problemas reais das pessoas.

*Diretor-geral Editorial

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