segunda-feira, 29 de maio de 2023

A DEMOCRACIA E O ESTADO TERRORISTA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Ruslan Oleksiyovych Stefanchuk representa a ala neonazi do Partido Servo do Povo, no poder na Ucrânia. É presidente do parlamento ucraniano. Há um ano, deu a cara pela aprovação de uma lei que ilegalizou vários partidos políticos, alguns com representação parlamentar. A lei celerada foi assim justificada: “Combater actividades de partidos anti-ucranianos e colaboracionistas na Ucrânia, proibindo-os”. Primeiro foram banidos. As provas que venham mais tarde.

O presidente do parlamento disse aos deputados quando a lei foi aprovada: “O Ministério da Justiça vai recolher provas das actividades contra a pátria e levá-las ao tribunal, que deve proibir o partido que está a trabalhar para o inimigo. Se o partido for proibido, a propriedade e outros bens tornam-se propriedade do Estado.” O regime fascista e colonialista português fazia exactamente a mesma coisa. Por isso é estranho que Augusto Santos Silva e vários deputados portugueses tenham ido a Kiev render homenagem ao seu homólogo neonazi.

Para que conste, aqui ficam os nomes dos partidos ucranianos ilegalizados: Plataforma de Oposição-Pela Vida, Bloco de Oposição, Partido de Shariy, Nashi, Estado, Bloco Volodymyr Saldo, Oposição de Esquerda, União de Forças de Esquerda, Partido Socialista Progressivo da Ucrânia, Partido Socialista da Ucrânia e Partido dos Socialistas. Ouros tinham sido banidos quando Zelensky chegou ao poder, ainda antes da guerra. É assim que o grande herói do ocidente alargado defende a democracia.

A Plataforma de Oposição-Pela Vida, com 43 deputados no parlamento, liderava a oposição. O partido foi acusado de ser pró Putin. Mas condenou publicamente a invasão da Federação Russa à Ucrânia. Mais grave ainda. O líder da oposição,  Viktor Medvedchuk, foi preso pela pide do Zelensky e levado para parte incerta. Familiares e correligionários denunciaram o rapto. No ocidente alargado nem um protesto. Nem uma notícia sobre o desaparecimento do líder da oposição. 

A Federação Russa entregou à Ucrânia combatentes neonazis do Batalhão de Azov feitos prisioneiros em Mariupol. Em troca Zelensky entregou Viktor Medvedchuk. Deve ser a primeira vez na história da democracia representativa que o líder da oposição de um país é moeda numa troca de prisioneiros. Assim de se defende a democracia no ocidente alargado. 

Dezenas de jornalistas já passaram pela Ucrânia desde o início da guerra. Nem um entrevistou políticos dos partidos banidos. Nem um falou com deputados da oposição. Nem um quer saber o que pensam os ucranianos que não votaram no partido Servo do Povo. O jornalismo foi morto e enterrado na Ucrânia. Mas já estava moribundo há muitos anos. Melhor assim. Morreu de vez, já só são enganados os tolos.

O Presidente Ramaphosa denunciou pressões inaceitáveis das potências ocidentais sobre os países africanos para imporem sanções à Federação Russa. A África do Sul recusa prestar vassalagem aos que armaram, municiaram e financiaram o regime racista de Pretória. África tem agora uma oportunidade de ouro para se desfazer do lixo esclavagista e colonialista. Infelizmente, alguns países africanos preferem continuar escravos. Nada de novo. Quando os libertadores chegaram às plantações do Sul dos EUA e libertaram os escravos, muitos revoltaram-se. Queriam continuar a viver na escravatura.

Os anos mais trágicos de África nos tempos modernos foram vividos quando o ditador Mobutu dominou o continente e controlou a Organização de Unidade Africana (hoje União Africana). Os angolanos sentiram esse colaboracionismo até derrotarem a África do Sul no Triângulo do Tumpo, à vista do Cuito Cuanavale. 

Em1974, o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) apoiou os independentistas brancos. Apoiou a FNLA. Apoiou Jonas Savimbi. Apoiou os racistas de Harare e Pretória. Mas os angolanos resistiram e venceram.

Hoje Angola e João Lourenço estão ao lado dos EUA fazendo o mesmo papel que fazia o Zaire e Mobutu. Já nem sequer interessa como vai acabar esta vassalagem. Os dias que vivemos agora são suficientemente negativos para termos a certeza da tragédia.  Resta-nos acreditar que com o MPLA a vitória é certa. Acreditar sempre no legado de Agostinho Neto.

* Jornalista

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