domingo, 25 de junho de 2023

Angola | CERCO DO CUITO E A LISTA DE ANTÓNIO GUTERRES -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A cidade do Cuito estava cercada pelos criminosos de guerra da UNITA em Junho de 1994. A população sofreu bombardeamentos de artilharia pesada durante 27 dias. Mais de 7.000 civis morreram e entre eles, centenas de crianças. O 28 de Junho é Dia dos Mártires da Resistência da Batalha do Cuito. Mais de 500.000 habitantes ficaram sem comida, sem medicamentos, sem energia, sem água. Apenas tinham os seus mortos que enterravam nos quintais. Este hediondo crime de guerra praticado pelos matadores de Jonas Savimbi não mereceu um segundo nos noticiários dos Media mundiais. Nem uma notícia “solta” de jornais.

Enquanto milhares de civis eram bombardeados e ficavam com os corpos destroçados, morriam de fome ou por falta de cuidados de saúde, os esbirros da UNITA passeavam-se em Portugal. Um deles, Adalberto da Costa Júnior era o “chefe do escritório internacional da UNITA em Portugal”. Outro era Rui Oliveira, o porta-voz dos assassinos. Ambos foram incluídos na lista de altos dirigentes do Galo Negro sancionados pelas Nações Unidas por crimes de guerra e kamanga (tráfico de diamantes de sangue). Assassinos de crianças na cidade do Cuito e em 70 por cento de Angola ocupada pelos matadores de Savimbi.

O Rui Oliveira clamava vitórias. O Adalberto dizia aos jornalistas portugueses que o “éme-pê-élhiá” estava derrotado. O primeiro-ministro português Cavaco Silva assobiava para o lado. António Guterres, alto dirigente socialista, nem uma palavra. Hoje é secretário-geral da ONU e acaba de anunciar que a Federação Russa está na “Lista da Vergonha” alegadamente porque matou crianças na Ucrânia. Os seus sócios da UNITA nunca entraram na lista da ratazana. E mataram milhares de crianças angolanas que tiveram a desdita de não nascerem num país da OTAN (ou NATO) e não serem brancas, loiras e de olhinhos azuis. 

António Guterres (manguço com ninho no altar) em 1995 era primeiro-ministro de Portugal. A rebelião armada de Savimbi estava no auge. Matava civis nas cidades vilas e aldeias. Destruía importantes equipamentos sociais tornando a vida impossível às populações. Milhares de angolanos eram mortos, feridos ou raptados. Sujeitos a terríveis torturas só porque não eram do Galo Negro. No Portugal de Guterres os sicários da UNITA passaram a ter estatuto de “embaixadores”. Guterres era sócio do Savimbi. E ao mesmo tempo secretário-geral do Partido Socialista que se dizia irmão do MPLA. O rato de sacristia está na minha lista dos leprosos morais mais repugnantes. Não vale nada mas sabe-me bem.

As ONG que traficam em Angola queixaram-se à ONU contra legislação que está em apreciação na Assembleia Nacional, já aprovada na generalidade. A queixa seguiu em registo de “carta aberta” assinada por Florindo Chivucute, director executivo da Friends of Angola, com sede em Washington e cantina da CIA. Pensam (erradamente?) que Angola já é um cubico às ordens do Biden e seus traficantes. A “carta” é um insulto e um atentado à soberania nacional. Mas João Lourenço lá sabe o que prometeu ao estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA).

As ONG estão contra a nova lei porque ficam sujeitas a inspecção e controlo. (Que horror!). Porque passam a ter de comunicar às autoridades angolanas competentes, os seus meios de financiamento (um atentado à liberdade!) Devem fazer relatórios mensais, trimestrais, semestrais e anuais sobre as suas actividades (Metediços! A CIA disse-nos que estávamos isentos de prestar contas).

A nova lei (se for aprovada na especialidade) obriga as ONG a declararem a origem dos seus recursos financeiros, enumerar as aquisições de bens importados e adquiridos internamente, apresentar planos de acção anuais e partilhar avaliações das parcerias que estabeleceram. (Terrível! Angola tem de ser a Jamba). O autor da carta diz que assim existe “excessiva interferência do Estado, que afectará a independência e a eficácia financeira e operacional das ONG”. Lá se vai a rentabilidade do negócio!

A nova lei exige que as ONG adquiram bens e equipamentos no Mercado Angolano. Isto admite-se? Querem acabar com a candonga a as sobre facturações! As vigarices. Cada vez se percebe melhor que Angola nunca devia ser um país independente. O estado terrorista mais perigoso do mundo tem de corrigir isto e avassalar o soba de serviço. As ONG passam a ser fiscalizadas pelo Ministério das Finanças. Pode? Não se admite. Também não podem exportar ou revender bens e equipamentos adquiridos ou importados com fundos doados ao Povo Angolano. Horrível! Lá se vai o parasitismo e o dinheiro fácil.

As ONG podem ver as suas actividades suspensas quando praticarem actos que atentem contra a soberania nacional, segurança e integridade da República de Angola (Artigo 32). Também vão à vida“ quando  desenvolverem actividades que não estejam em conformidade com o seu objectivo estatutário (Artigo 33). Na carta do amigo americano de Angola dizem que “são argumentos vagos”. Sabem lá eles o que é soberania nacional! Nasceram enrolados, cresceram de cócoras e estão à venda por quem der mais.

O governador da província do Uíge, José Carvalho da Rocha, reivindica uma linha férrea que a partir do Lucala atravesse todo o território até ao couto mineiro do Mavoio. Velho sonho com cem anos! Em 1923, Alves dos Reis criou a empresa do Caminho-de-Ferro de Ambaca para levar o comboio, então um meio de transporte revolucionário, ao Congo Português. 

O sonhador meteu-se em vigarices, burlas e marimbondices. O projecto ficou no papel mas o comboio chegou ao Lucala. Depois derivou para Malange. O Norte precisa mesmo de comboios. Sei que é difícil porque o terreno não ajuda. Mas também era difícil construir o ramal do Golungo Alto e ele existe. Entre Lucala e Bungo, a norte do Negage, não há dificuldades. Do Bungo em diante há problemas a superar entre Mucaba e a Damba mas já está aberta a estrada. O caminho-de-ferro pode seguir o mesmo percurso paralelamente. Levem o comboio malandro ao Norte!

Mas deixem-se de fantasias. Ouvi alguém com muitas responsabilidades dizer que a província do Uíge volta a ter hegemonia na produção de café se existirem investimentos. Tanta ignorância! O café comercial mais valioso só se dá em mata fechada. Robusta. Caturra. Cazengo. Ambriz. Para produzir é necessária mão-de-obra escrava. Os bailundos acabaram! Nada de culturas agrícolas que exigem escravos. Angola é um país independente. O Ferreira Lima já não manda. Já não tem milícias para matar negros. Querem o regresso dos contratados? Querem as rusgas dos sipaios aos jovens das sanzalas? Tenham juízo e deixem o café para os países com escravatura. Ou produzam café arábica que só precisa de máquinas mas vale pouco.

*Jornalista

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