quinta-feira, 15 de junho de 2023

Angola | Delírios Perigosos de Adalberto & Bangula -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Adalberto Costa Júnior diz que o governo do MPLA dá “sinais de incapacidade de governação em democracia. De não ter soluções para a pobreza, para o desemprego, para a diversificação da economia, para as reivindicações dos sindicatos, para as exigências da sociedade civil, para as classes profissionais, para os jovens, para as mamãs que zungam para sustentar as suas famílias”. Face a este quadro, a UNITA convocou as suas tropas de choque e os idiotas úteis para no próximo sábado lançarem mais uma insurreição. 

Quem perdeu as eleições e continua a dizer que as ganhou e vai governar em democracia no lugar de quem venceu há apenas dez meses. A UNITA passou décadas a destruir Angola e a matar angolanos ao serviço do regime racista da África do Sul. Destruiu equipamentos sociais. Provocou deliberadamente o êxodo de milhões de angolanos das suas terras para Luanda e outras grandes cidades do litoral. Minou os trilhos de acesso às lavras! Mutilou milhares de pessoas que iam trabalhar a terra para sustentarem as suas famílias. Raptou mulheres para escravas sexuais. Raptou crianças e fez delas carne para canhão. 

A UNITA paralisou a vida social e económica de Angola durante décadas. Tudo parado à bomba, a tiro, com acções terroristas. A UNITA matou, violou, escravizou populações indefesas. Causou milhões de deslocados e refugiados. Por isso Angola é um país mergulhado no subdesenvolvimento. E assim vai continuar porque o Galo Negro fomenta o caos, a rebelião, a destruição de bens públicos e privados. A operação marcada para o próximo sábado é mais uma peça para tomar o poder ilegitimamente. 

A direcção da UNITA faz política fomentando o ódio e promovendo a violência. Depois queixa-se das autoridades que se opõem às golpadas. Foi isso que aconteceu no Cafunfo. Bandoleiros ao serviço do Galo Negro instigaram manifestantes a atacarem a esquadra da Polícia Nacional. No meio iam os terroristas de Adalberto. Mataram agentes policiais. No tiroteio atacantes também morreram. O maior partido da oposição chama a essas mortes “execuções”.

A UNITA está a pisar todos os riscos. Quer mesmo tomar o poder pela força. A reunião da direcção que ontem ocorreu e da qual saiu o comunicado insultuoso e provocatório não é mais do que uma declaração de guerra. Querem guerra. Pensam que chegou a hora da vingança. Espero que os idiotas úteis e os jovens descontentes não alinhem na golpada. O Galo Negro quer fazer correr o sangue nas ruas. É esse o seu programa político. No dia 17 é preciso ir para a rua defender a paz e a democracia dos terroristas da UNITA.

O obscurantismo é a forma deliberada de restringir o acesso ao conhecimento. Por isso é usado como arma mortífera contra a democracia, o progresso e o desenvolvimento. O Obscurantismo mata milhões todos os dias no mundo. Eu escapei por pouco. Vou contar-vos a minha desdita. Um padre montou na igreja do Longonjo um negócio de tirar demónios de corpos possuídos. Tinha a sua Solange Faria e a dupla infernal fazia dinheiro aos milhões. 

Gente de toda Angola ia ao Longonjo libertar-se dos demónios. Eu fui fazer a reportagem com um repórter fotográfico, verdadeiro feiticeiro da imagem. Chegámos à vila no dia anterior, um sábado, para fazer perguntas e fotografar enquadramentos. No domingo lá estávamos na igreja, prontos para o trabalho. Sentámo-nos no lugar do banco junto ao corredor que dava para a rua, não fosse o exorcismo dar para o torto.

A igreja estava cheia. Ouviam-se lamentos, gemidos, soluços. Havia ali muito sofrimento. De repente, entrou em cena uma senhora gorda que repetia num tom lancinante: O porco sujo! O porco sujo! Quando chegou a mim apontou, tremendo: Porco sujo! Porco sujo! Virou-se para o repórter fotográfico. E apontou com as carnes a tremer: Porco sujo! Porco sujo! 

Ergueu-se um clamor no templo e eu tive a noção de que era hora de fugir. Fiz um sinal ao meu parceiro e fugimos dali. Contei a cena ao senhor bispo de Benguela (bispado recém criado…) e ele apoiou o obscurantismo. Condenou a nossa presença! Naquele tempo havia uma aliança firme entre o regime colonialista e a Igreja. A nossa reportagem foi simplesmente censurada. Mas o negócio dos exorcismos no Longonjo continuou. Eu escapeii com vida. 

Benja Satula e Solange Faria também promovem o obscurantismo. Uma dupla em tudo igual ao padre do Longonjo e a sua parceira de negócio. Os dois pares exploram despudoradamente o obscurantismo. Tirar demónios de pessoas endemoniadas e entrevistar um morto é a mesma vigarice e o fim é o mesmo: Ganhar dinheiro fácil. O padre do Longonjo servia-se da Fé Cristã para burlar pessoas em sofrimento. Montou quitanda na casa de Deus! A sua parceira era uma desgraçada que o cura espertalhaço usava e explorava. 

Benja Satula é jurista. Doutor. Reitor. Advogado. A coberto da Universidade Católica de Angola montou o seu negócio carregado de obscurantismo. Solange Faria entrevistou o Presidente José Eduardo dos Santos depois de morto e o casal publicou a entrevista a 30 euros o exemplar! Não é tão rentável como tirar demónios do corpo mas dá dinheiro.  

Li o livro? Claro que não. Ninguém espera que eu vá ao padre do Longonjo para a sua médium me tirar os demónios do corpo. Porque são tantos que é impossível tirá-los todos. Depois sinto-me bem com eles. Antes os demónios do que vigaristas de colarinho branco, instalados na reitoria de uma escola superior.  

A Universidade Católica de Angola está transformada num antro de obscurantistas. Um dia destes ressuscitam o Tribunal do Santo Ofício e não me admiro nada se fizerem gigantescas fogueiras no largo do Colégio de São José de Cluny (Monsenhor Alves da Cunha) para queimar bruxas e hereges. No antigamente era ali no Largo do Pelourinho que queimavam quem atentava contra Fé Cristã. Milhares de desgraçadas e desgraçados foram feitos em torresmos pela Santa Madre Igreja. Tempo para esquecer mas que servidores da Universidade Católica de Angola querem ressuscitar. Um deles é Bangula Quemba.

Este aristas também é doutor, professor, advogado, jurista, exorcista, analista e outras sacanices acabadas em vigarices. Publicou um texto onde defende o casal entrevistador de mortos. Ataca quem faz críticas a essa coisa monstruosa que é entrevistar um morto. Diz que querem matar os mensageiros. 

Não é nada disso Bangula. Tens de ser mais modesto e meter a banga no saco. Os entrevistadores de um morto não são mensageiros. São cultores do obscurantismo. Falsificadores. Faltaram ao respeito a um homem morto, que não pode desmentir o que lhe atribuem. Uma das minhas perplexidades é que até agora os filhos de José Eduardo dos Santos remeteram-se ao silêncio. A viúva (pelo menos foi assim apresentada no auge das makas) Ana Paula dos Santos não saiu em defesa do esposo. O Estado Angolano, silêncio conivente. 

O Bangula diz que a entrevista ao morto é real, verídica, indesmentível. E desafia que venha alguém desmentir uma só das 80 confissões feitas à Solange Faria. Mete a banga no saco! Claro que as confissões têm a ver com a realidade angolana. Claro que as confissões abrangem pontos polémicos e que dividem a sociedade angolana. Claro que há muita miséria em Angola. Claro que antigos colaboradores de José Eduardo dos Santos o traíram e trataram mal quando se apanharam no poder. Mas não é preciso entrevistar um morto para saber isso. 

Claro que os Acordos de Alvor foram violados. Por quem? Aí é que bate o ponto. José Eduardo dos Santos estava lá. Sabe o que foi assinado, ponto a ponto, palavra a palavra. Viveu minuto a minuto os dias entre 31 de Janeiro de 1975 e 11 de Novembro de 1975. De certeza absoluta que sabia, melhor que ninguém, quem violou o acordado. Quem saiu do Governo de Transição violou os Acordos de Alvor. Quem meteu milhares de tropas zairenses em Luanda nas “Casas do Povo” violou os Acordos de Alvor. Quem alugou as suas armas ao regime racista de Pretória (UNITA) violou os Acordos de Alvor. Não é preciso entrevistar um morto para saber isto.

O “jornalista” Ricardo Melo foi morto. Quem o matou? Tenho a certeza absoluta de que José Eduardo dos Santos sabe tanto como eu. Não sabe. Na época falava-se de um ajuste de contas num negócio de droga. Nfulupinga Vítor foi morto. Quem o matou? Até hoje ninguém sabe. Mas aqui tenho algo a dizer ao Bangula. Um sujeito que se dizia antigo líder do partido MDIA de Pé e parceiro do falecido no PDP-ANA queria à viva força que publicasse a sua versão da morte do deputado e professor universitário. Não publiquei. Nem vou aqui revelar o que ele me disse. Porque não consegui provar a veracidade. Apenas digo que ele apontava para um crime passional.  

Sim o poder judicial está capturado pelo poder político. Bangula, não é preciso entrevistar um morto para chegar a essa conclusão! Bangula, a corrupção existe em Angola sim. Tal como existe nos EUA, no Vaticano, em Portugal e outras terras de Santa Maria. Não é preciso entrevistar um morto para saber isso.

Grave, gravíssimo, Bangula é entrevistar um morto em nome da psicofonia, a psicografia e mediunidade. Esses fenómenos existem desde a noite dos tempos, Bangula! Mas servirem-se deles para destruir a figura do Presidente José Eduardo e ganhar dinheiro com isso é crime. O canibalismo existe desde as origens da Humanidade mas não andamos a comer coxas humanas. A bruxaria existe desde os primórdios da Humanidade. A Inquisição atirava com as bruxas para a fogueira. Não é lícito viver da bruxaria, enganar os crédulos, promover o obscurantismo. Mesmo que o criminoso seja o Benja Satula, da reitoria da Universidade Católica de Angola. Não há direitos absolutos nem liberdades ilimitadas Bangula!

*Jornalista

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