sexta-feira, 30 de junho de 2023

Angola | A Guerra Continua Vandalismo É Certo – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os especialistas continuam a desminar vastas zonas de Angola. Isto quer dizer que a guerra verdadeiramente ainda não acabou. Cada mina é um inimigo silencioso que ataca à traição, a qualquer momento. Mata e mutila. Quem exige a Suíça ou a Suécia amanhã, não pensa nisto. 

A guerra ainda não acabou. Enquanto existirem os sicários da UNITA, vivemos em estado de guerra. Falar de paz quando temos entre nós, permanentemente, criminosos impunes a conspirar, a destruir e a matar, é um engano. Peregrino Uambu, Paulo Lukamba Gato, Abílio Camalata Numa, Adalberto da Costa Júnior, entre muitos outros, que até foram sancionados pela ONU por crimes de guerra e traficantes de diamantes de sangue, têm Angola em permanente estado de guerra. Odeiam os angolanos e a liberdade.

Os sicários da UNITA são amigos da guerra. Jamais aceitarão a paz. Nunca vão integrar-se no regime democrático. Criaram uma rede de destruidores e matadores que semeiam a violência nas grandes cidades, sabendo que nunca colherão tempestades. Instauraram um clima permanente de arruaça e banditismo. Não vejo o Executivo reagir a esta tragédia. Por agora, apenas as forças da ordem têm actuado. O apoio das outras forças é tímido e ambíguo. 

A Procuradoria-Geral da República fica em silêncio quando gravíssimos crimes públicos são cometidos a céu aberto. Até este momento não foi anunciado qualquer inquérito à intervenção de deputados e dirigentes da UNITA nos actos de vandalismo e arruaça durante uma pretensa “manifestação pacífica”. As senhoras e senhores deputados têm imunidades. Mas estas são levantadas quando se envolvem em crimes. Nelito Ekuikui e o chefe dos bandoleiros da UNITA na província de Luanda, Adriano Abel Sapiñala, também deputado, escondidos atrás da manifestação, cometeram crimes públicos. Até hoje nada aconteceu. Na hora dos apertos só mesmo as forças da ordem dão a cara!

Em Nanterre (França) a polícia matou a sangue frio, à queima-roupa, um jovem negro de 17 anos. O costume nos países esclavagistas e colonialistas. Isto só muda quando ninguém tiver medo de perder a pobreza e as correntes de escravos. Amigos, vizinhos, vítimas do racismo, xenofobia, condenados à pobreza perpétua vieram para a rua e começaram a queimar e partir tudo. Poucas horas depois o Presidente Macron fez uma comunicação ao país. Não adiantou grande coisa porque a revolta continua. Mas falou. Em Angola comunicar bem é em silêncio. Caladinhos face ao descalabro.

Os sicários da UNITA, nas “manifestações” do dia 17 de Junho mataram, destruíram, incendiaram, causaram graves tumultos. Tirando os deputados do MPLA, o grupo parlamentar FNLA/PRS e o Partido Humanista, ninguém mais deu a cara na condenação de um ataque contra o regime democrático. Pelos vistos, o Executivo só está preocupado com o dinheiro que não há. Assim os sicários do Galo Negro sentem-se impunes. Apoiados, quanto mais não seja, pelo silêncio e a omissão de quem devia condenar. 

Os bispos da UNITA, sobretudo o pançudo de Cabinda (Belmiro Cuica Chissengueti), remeteram-se a um estranho silêncio! Nem uma palavra de condenação aos crimes cometidos. Um deles foi atacar e destruir a ambulância que transportava doentes graves! Adalberto, Ekuikui e Sapinala (pelo menos estes) têm de responder perante a Justiça. Mas nem um inquérito existe! A quinta coluna está a corroer por dentro o MPLA e os órgãos de soberania.

Um esclarecimento urgente e necessário. Dizem-me que estou contra os maoistas, já não sou de esquerda. Isto porque expliquei o absurdo que é a Universidade Católica de Angola homenagear Viriato da Cruz, um maoista de faca na boca.

Informei que o homenageado pela universidade da Igreja rasgou o Manifesto do MPLA e fez tudo para impor o maoismo no seio do MPLA e em Angola. Se fosse ele a proclamar a Independência Nacional no dia 11 de Novembro de 1975 tínhamos um Pol Pot no poder. Quem o homenageou sabe disso.

Sem perder a pedalada vos digo que se em vez de Agostinho Neto tivesse sido Nito Alves a anunciar a África e ao Mundo que Angola conquistou a Independência Nacional, tínhamos no poder um Mengistu Haile Mariam. Poucos angolanos sobreviviam ao banho de sangue.

Se Viriato da Cruz triunfasse hoje o MPLA não existia. Em vez da bandeira Todos pela Independência Nacional ele queria impor a lengalenga Viva Marx! Viva Lenine! Viva Mao Tse Tung! Quem o homenageou sabe disto. O homem politicamente foi um fracasso maior do que Savimbi. 

Curiosamente Viriato da Cruz foi advogado do criminoso de guerra da Jamba em Pequim, sempre contra o MPLA. O maoista Savimbi virou combatente dos colonialistas e mais tarde dos racistas de Pretória. Viriato da Cruz o que seria hoje? Até tremo só de pensar. Porque racista demonstrou ser, enquanto teve palco na política angolana.

A minha família é a esquerda que vai da social-democracia ao maoismo. Anda que os maoistas hoje sejam todos de direita, engravatada ou neonazi. Quando existiam, trabalhei com eles. E como sofri! Quem não gritava Viva o Camarada Mao era um burguês desprezível. 

A minha equipa na Emissora Oficial de Angola era constituída por cinco mulheres num tempo em que não existiam mulheres noticiaristas, Mas tínhamos as melhores vozes femininas de Angola. A melhor das melhores era Concha de Mascarenhas. Quando queria levar a mensagem ao coração dos ouvintes, era ela que apresentava o noticiário das 13 horas.

Os maoistas protestavam. O que anda a fazer aqui este mulherio? Eu respondia: Elas são as melhores profissionais. Vocês nem ao ventre lhes chegam! Vou recordar os nomes dessas pioneiras do Jornalismo Radiofónico: Maria Dinah (única que não aderiu ao maoismo) Graça D’Orey, Isabel Colaço (era mais para comunista) Catarina Gago da Silva e Conceição Branco (Tatão, leoa de Benguela). Estas duas eram maoistas dos pés à cabeça.

Os homens: Vítor Mendanha (odiava os maoistas!), Pena Pires, Quinta da Cunha, Paulo Pinha e Anapaz, o sofredor. Aguentava estoicamente os maus humores dos maoistas). Calma. 

O noticiário internacional era muito importante. Entreguei essa missão ao José Mena Abrantes. O único com capacidade para responder ao desafio. Este era anarquista. Despachava o trabalho e ia embora alegando que o seu amor era o teatro. Descobri que passava as tardes como o meu irmão Luís a pescar na Ilha do Cabo! Lutas pelo poder não eram a sua praia.

Calma aí. Falta um. Em Janeiro de 1975 apareceu o João Melo com uma mukanda do Hélder Neto: “Este jovem é filho do nosso camarada Kamaxilu. Quer ser jornalista. Trata dele”. Assinava com um Vde Vitória  e um C de Certa mais a estrela, artisticamente desenhados. Hélder Neto era um craque no desenho. 

A reportagem foi entregue ao Chico Simons com carta-branca para recrutar quem quisesse, desde que promovesse o português com sotaque angolano. Deu conta do recado como só ele era capaz de fazer. Lançou jovens que mais tarde se revelaram profissionais brilhantes. Mas até aí os maoistas quiseram gritar Viva Marx, Viva Lenine! Viva Mao Tse Tung!. Resistimos com êxito.

Os maoistas deram-me cabo da paciência mas eu aguentei-os ate ao último minuto. Chatos até ao máximo que a lei permite. Mas meus camaradas sempre. Rasguei uma grande avenida à entrada de mulheres no Jornalismo Radiofónico. Continuo no mesmo ponto em que estava. Os maoistas é que mudaram 1.360 graus. Tiraram a faca da boca e dizem aldrabices de todo o tamanho em vez de gritarem Viva o Camarada Mao! Alguns eram mais para o Enver Hoxha. Só comiam cebolas da Albânia, ideologicamente puras. E eu aturava tudo isso, mesmo sem ser cristão!

Agora os maoistas são a tropa de choque dos burgueses ricaços, donos de fundos e mundos. Todos pançudos, gordos e luzidios. Usam gravatas caríssimas. A que o Bonavena usou na homenagem ao Viriato da Criz foi mais cara do que os meus rendimentos mensais. Os fatos do Filomeno Vieira Lopes custam mais do que eu ganho num ano. 

Alguns maoistas foram para empresários e roubam como danados os cofres públicos, parceiros de negócios, os trabalhadores e os clientes. Outros viraram académicos. O maior de todos é Durão Barroso. Chegou a banqueiro mundial e trata por tu os serviços secretos do ocidente alargado. Esses já não são de esquerda, nem maoistas nem merda nenhuma. Eu continuo anarco-libertário. E vou para as barricadas de Nanterre. Abaixo o racismo! (esta é para atingir o racista Viriato da Cruz, sou um sacana.)

*Jornalista

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