Artur Queiroz*, Luanda
O Presidente José Eduardo dos Santos faleceu há um ano. Praticando ou não o culto dos mortos, este primeiro aniversário devia ser assinalado, no mínimo, com a grandeza com que João Lourenço brindou os dirigentes do golpe militar de 27 de Maio de 1977. Não aconteceu. De Barcelona para Luanda o cadáver viajou como carga no porão de um avião. Hoje o Chefe de Estado guardou um silêncio revoltante. Os órgãos de soberania ignoraram. Quanto aos Media públicos era melhor que tivessem ignorado.
A TPA não deu a notícia.
Limitou-se a ler um comunicado do Bureau Político do MPLA aos 53 minutos do
noticiário das 13 horas. A abertura foi um acidente de viação
Este “alinhamento” não é de profissionais. Aquilo foi obra do Miala e seus sequazes. O Jornal de Angola, para grande pena minha, ainda editou o comunicado do Bureau Político do MPLA na primeira página. Mas depois remeteu o texto para a página dois e no bloco periférico. Vou explicar. Nos jornais, a primeira, última e as centrais são as páginas mais valiosas. Depois vem a página três. A partir daí as páginas ímpares são mais valiosas e as pares menos valiosas. Como lemos da esquerda para a direita, os blocos de abertura das páginas devem estar à direita (ímpar) e à esquerda (par). Depois temos os blocos periféricos, fora do ângulo de visão do leitor.
O Jornal de Angola publicou o comunicado do Bureau Político do MPLA numa página par (menos valiosa) e no bloco periférico. A duas colunas (em seis). Teve mais destaque (seis colunas) esta notícia: “Benguelenses confiantes em novas oportunidades de emprego (repercussões do Corredor do Lobito)”. Título da peça sobre o primeiro aniversário do falecimento do anterior Chefe de Estado: “MPLA recorda José Eduardo dos Santos ‘com profunda resignação e incontida dor’”. Ainda pensei encontrar no texto um subtítulo com outras posições públicas mas nada de nada.
Nem os sicários da UNITA, que estão vivos graças à sua infinita generosidade, se manifestaram. Rei morto rei posto. Não se fala mais dele. As páginas da História Contemporânea de Angola que o Presidente José Eduardo dos Santos ajudou a escrever vão para o lixo. O Povo Heroico e Generoso na lixeira. Os Heróis Nacionais que se bateram na Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial, sob o seu comando, partam rapidamente para o esquecimento. O problema é que um povo sem passado e memória não tem futuro.
O Presidente José Eduardo dos Santos foi recebido na Casa Branca em 16 de Setembro de 1991, pelo seu homólogo George W Bush. A 7 de Novembro de 1995, Washington anunciou que o Chefe de Estado angolano foi convidado pelo Presidente Bill Clinton para uma visita oficial, “a fim de serem abordadas formas de acelerar o processo de paz, assistir ao restabelecimento da paz e da estabilidade e promover a democracia e a reconciliação nacional em Angola”.
Esta visita de Estado deve-se ao
trabalho diplomático dos Embaixadores José Patrício (primeira fase) e António
dos Santos França (Ndalu). O Presidente José Eduardo ficou hospedado na Blair
House, a residência oficial reservada aos convidados da Administração
americana, no complexo da Presidência
Bill Clinton disse ao Presidente José Eduardo que para África se desenvolver era necessário acabar com a influência dos partidos que lideraram os processos independentistas. E pediu ajuda para fazer essa “razia”. O Chefe de Estado angolano, com a fineza e boa educação que o caracterizavam respondeu isto (cito de memória): Não estou de acordo. Os partidos que conduziram os países africanos às independências são essenciais para manter a unidade nacional. São eles que conseguem amortecer ou eliminar conflitos étnicos. Não deixam irromper o tribalismo. Sem os partidos tradicionais África mergulha no caos total.
Depois explicou a Bill Clinton que o conflito do Ruanda tem a ver com a fraqueza das forças políticas que conduziram o Congo Belga à independência. Recordou os problemas da Nigéria, Somália e Etiópia. Os conflitos latentes em todos os países africanos onde os partidos que conduziram os seus povos à independência nacional enfraqueceram. Finalmente explicou que o processo de paz em Angola só pode ter um bom fim se o MPLA tiver força para defender a democracia nascida com o Acordo de Bicesse.
Em nome da transparência e aproveitando esta data solene, este dia em que nos curvamos ante a memória do Presidente José Eduardo dos Santos, pergunto ao Presidente João Lourenço: Quando foi a Washington propuseram-lhe ajudar a varrer os partidos africanos que conduziram os seus países à independência? Foi para essa tarefa que o promoveram a campeão da paz em África? Aceitou? É bom que vossa excelência responda, nem que seja na Voz da América, prestimoso instrumento da CIA.
Um comunicado do Bureau Político do MPLA atirado para o fim do noticiário das 13 horas da TPA e para uma página par, a duas colunas, no Jornal de Angola, indica que sim. Alguém está a tramar e a querer exterminar o MPLA. O silêncio generalizado no primeiro aniversário do falecimento do anterior Chefe de Estado é um descalabro político, cultural e humano!
Transparência é noticiar isto (TPA): Cerca de dois mil empregos serão criados ao longo do Corredor do Lobito quando estiver a funcionar em pleno, de acordo com o ministro dos Transportes, Ricardo Abreu. Obrigado senhor ministro. Bem me parecia que isto é uma vigarice sem nome. Dois mil empregos “quando estiver a funcionar em pleno” valem zero. Não foi para esta mixórdia que o Estado Angolano investiu três mil milhões de dólares na ferrovia. Querem mesmo combater a corrupção? Então avancem em alta velocidade para o Corredor do Lobito e apanhem os corruptos antes que seja demasiado tarde.
Mais transparência do que esta não há. O Secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, informou que a Dinamarca e os Países Baixos lideram uma coligação europeia para formar pilotos ucranianos de F-16. Os Países Baixos (Holanda) pretendem fornecer Patriot (sistemas de defesa antiaérea) à Ucrânia, anunciou o primeiro-ministro, Mark Rutte, ao lado Presidente Joe Biden, em Washington.
Mark Rutte, metade nazi metade racista, já em Haia anunciou em conferência de imprensa que os Países Baixos (Holanda) vão enviar para a Ucrânia “dois mil milhões de euros em apoio militar”. Guerra do ocidente largado, da OTAN (ou NATO), do estado terrorista mais perigoso do mundo contra a Federação Russa mas quem morre são os ucranianos.
Por cá o embaixador dos piratas
holandeses, Tsjeard Hoekstra, disse
Mark Rutte acaba de ver cair o seu governo de coligação. Os democratas cristãos não aceitaram que os nazis do governo dos Países Baixos (Holanda) tratassem os refugiados como cães. O partido de Rutte não aceita que famílias se juntem. Só ao fim de dois anos de exílio! Tudo porque o país está a ser “invadido” por refugiados das guerras que o ocidente alargado ateia em todo o mundo onde existem riquezas para pilhar.
Sabem quantos refugiados não europeus vivem nos Países Baixos (Holanda)? Pouco mais de 21.500 pessoas. E durante dois anos não podem receber as suas famílias! Sabem qual foi a desculpa dos nazis de Mark Rutte? “Temos poucas casas para acolher refugiados”.
O canal público de televisão deu assim a notícia: “O governo de Mark Rutte não chegou a acordo sobre as medidas a serem tomadas para restringir o fluxo de requerentes de asilo. Isso é o que é relatado em Haia”. O senhor Mark Rutte, antes da queda, foi à Tunísia oferecer um milhão de euros ao governo tunisino para não deixar sair daquele país refugiados africanos em direcção à Europa. Para os nazis de Kiev vão dois mil milhões. Para conter as vítimas das suas guerras, um milhão chega e sobra.
Custa muito ver Angola misturada com tal banditismo político comanditado a partir de Washington. Atrás de nós virá quem nos honrará. Afinal o Presidente José Eduardo dos Santos ainda era melhor do que imaginávamos. Se eu fosse crente escrevia agora paz à sua alma. Não sou. Apenas manifesto a minha gratidão para sempre ao Camarada Presidente.
*Jornalista
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