Luís Montenegro não conseguiu aproveitar a crise do Governo e fica a um ponto de António Costa. André Ventura reforça terceiro posto, mas quem mais sobe é Mariana Mortágua.
Rafael Barbosa | Diário de Notícias
Durou pouco a liderança virtual social-democrata. De acordo com a mais recente sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, se houvesse eleições o PS ficaria em primeiro lugar, mas longe de uma maioria absoluta (28,8%). O PSD seria o segundo (27,7%). O Chega reforça o terceiro lugar (13%), mas a maior recuperação é a do Bloco de Esquerda que, com Mariana Mortágua sobe quase dois pontos relativamente à projeção de abril passado (8%), afastando-se dos liberais, que continuam em perda (5,2%). Seguem-se PAN (3,8%) e CDU (3,2%), ambos a cair, o Livre (2,7%) e, no fundo da tabela, o CDS (1,1%).
Se considerarmos a "margem de erro" da sondagem, o que se regista é, na verdade, um empate técnico. Os dois maiores partidos estão, pelo menos desde o barómetro de janeiro passado, altura em que a diferença começou a ser quase irrelevante, numa luta taco a taco pela liderança. Com vantagem para os socialistas, uma vez que os sociais-democratas só uma vez estiveram em primeiro lugar, em abril passado, e por escassas três décimas. Agora lideram os socialistas por um ponto.
Sem razões para sorrir
Quando se fazem outras contas e se acrescentam dados qualitativos, a balança pende, sem margem para dúvidas, para o socialista António Costa: está bastante à frente de Luís Montenegro na confiança dos portugueses, que também o consideram mais competente, solidário e influente que o social-democrata. São, provavelmente, as vantagens de estar no poder e conseguir, dessa forma, uma notoriedade que não se compara à de um líder da Oposição que não tem sequer assento no Parlamento.
Se, relativamente aos resultados de abril, as diferenças são insignificantes, quando se faz a comparação com as legislativas de janeiro de 2022, nenhum tem razões para sorrir. Costa porque perde quase 13 pontos e fica sem hipótese de repetir a maioria absoluta , Montenegro porque, apesar da crise no Governo, não consegue sequer repetir o resultado de Rui Rio (fica ponto e meio mais abaixo).
Empate entre blocos
Quando se analisam as hipóteses de um acordo ou coligação pós-eleitoral dos dois maiores partidos, o cenário continua bastante incerto, confirmando a leitura do presidente da República sobre a relativa inutilidade de forçar eleições antecipadas. À Esquerda, a antiga "geringonça" (com BE e CDU) somaria 40 pontos. Acrescentando o Livre, chegaria aos 43. E se contasse, ainda, com o apoio do PAN, teria um total de 46,5 pontos. Parece bastante, mas estes cinco partidos ficariam, ainda assim, a meio ponto do conjunto da Direita.
O bloco liderado pelo PSD ficaria com 47 pontos percentuais (menos dois do que marcava em janeiro passado). Subtraído o resultado do CDS, que não tem representação parlamentar, seriam 46. Mas, o verdadeiro nó górdio é que, se o Chega for retirado da equação (foi Montenegro que disse que não teria políticas e políticos xenófobos e racistas no Governo), o que resta da Direita ficaria reduzida a uns magros 34 pontos (33 sem o CDS), o que parece insuficiente para assegurar um Governo estável (o exemplo mais recente é o do PS de Sócrates, que conseguiu 36,6% em 2009, mas durou apenas dois anos).
Com o chamado Bloco Central (PS e PSD) enfraquecido relativamente às últimas legislativas (vale agora 56,5 pontos, por comparação com os 69 das eleições de janeiro de 2022), ganham força alguns dos partidos mais pequenos. Desde logo o Chega: os atuais 13% significam o ganho de um ponto relativamente a abril passado e de seis pontos face às legislativas.
Novo alento no BE
O partido de André Ventura é o que mais cresce (e de forma sólida, se tivermos em conta a consistência demonstrada nas várias sondagens), mas neste barómetro a grande novidade é mesmo o ressurgimento do Bloco de Esquerda. Foi nos últimos dias de maio que Mariana Mortágua assumiu a liderança e, coincidência ou não, o BE está em alta: os atuais 8% significam um ganho de quase dois pontos relativamente a abril e de quase quatro pontos face às legislativas (em ambos os casos, ainda com Catarina Martins na coordenação).
Acresce que Mortágua consegue uma avaliação superior à da sua antecessora: Catarina Martins despediu-se dos barómetros com um saldo negativo de 14 pontos, Mortágua estreia-se com saldo zero (a diferença entre avaliações positivas e negativas). Pode parecer pouco, mas só há mais um líder partidário (Rui Rocha, da Iniciativa Liberal) com saldo zero, todos os restantes acumulam resultados negativos.
Liberais em perda
Apesar de, ao nível da prestação individual, o líder liberal estar em primeiro (a par de Mortágua), a verdade é que a sua chegada teve o efeito contrário: desde que Rui Rocha substituiu João Cotrim de Figueiredo, os liberais perderam mais de quatro pontos percentuais. Têm agora 5,2%, menos um ponto que em abril passado e apenas três décimas acima do resultado das legislativas.
Portugueses já não confiam nem em Costa nem em Montenegro
"Nenhum dos dois". É a resposta preferencial dos portugueses (38%) quando se lhes pergunta em quem confiam mais para o cargo de primeiro-ministro, António Costa (PS) ou Luís Montenegro (PSD). Se a pergunta for quem é mais honesto, 53% recusam dar uma opinião, de acordo com a sondagem da Aximage para o DN, JN, e TSF. Dois sinais evidentes da desconfiança relativamente à classe política. Ainda assim, neste jogo entre os dois líderes é o socialista que leva vantagem.
Registe-se que é a primeira vez, nos três anos desta série de barómetros, que a resposta "nenhum dos dois" leva a melhor. Até janeiro de 2022, quando o oponente era Rui Rio, António Costa teve sempre a primazia das respostas. Entre julho do mesmo ano e abril passado, continuou a ser o socialista o favorito, desta vez face a Montenegro. Neste mês de julho e perante nova perda do primeiro-ministro, e sem que o social-democrata tire disso qualquer partido, os portugueses rejeitam ambos.
Ao contrário da confiança, não constitui surpresa que a maioria dos inquiridos numa sondagem se recuse a atribuir a um dos contendores o título de "mais honesto" (53%). Aconteceu exatamente o mesmo, em dezembro de 2021, algumas semanas antes das últimas legislativas, quando o jogo se fez entre Costa e Rio (51%). As mulheres são as que mais resistem ao adjetivo (mais 14 pontos que os homens). Ainda assim, e ao contrário do que sucedeu com Rio, Costa leva ligeira vantagem (25%) sobre Montenegro (22%) entre os que aceitaram escolher.
Saldo negativo
Nesta comparação direta entre os dois líderes partidários, há de novo um resultado próximo do empate, mas agora com ligeira vantagem para o da Oposição: na avaliação à sua atuação no último mês, Montenegro regista um saldo negativo de 19 pontos (diferença entre notas positivas e negativas), enquanto Costa regista um saldo negativo de 20 pontos.
Nas perguntas restantes, já não há "margem de erro" que suscite dúvidas: António Costa deixa Luís Montenegro a boa distância quando está em causa a competência (mais 15 pontos), a solidariedade (mais 18 pontos) e, em particular a influência (mais 59 pontos), ainda que esta característica tenha menos a ver com as qualidade pessoais e mais com os cargos que exerce cada um.
rafael@jn.pt
FICHA TÉCNICA DA SONDAGEM
A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade política.
O trabalho de campo decorreu entre os dias 6 e 11 de julho de 2023 e foram recolhidas 800 entrevistas entre
maiores de 18 anos residentes em Portugal.
A taxa de resposta foi de 76,25%.
Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através de uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de +/- 3,5%.
Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.
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