domingo, 6 de agosto de 2023

A “SOLUÇÃO COREANA” PARA A EUROPA

Manlio Dinucci*

Os Ocidentais tomaram consciência das suas sucessivas derrotas na Alemanha, na China, na Coreia, no Vietname, na Síria e agora na Ucrânia. Tal como dividiram a Alemanha, a China e a Coreia, eles acabam de avaliar uma divisão da Ucrânia em termos de ganhos ou prejuízos, esperando sobreviver ao prolongar um pouco mais a Guerra Fria.

A «Conferência sobre a recuperação da Ucrânia », realizada em Londres, assinala a passagem para uma nova fase da guerra contra a Rússia: os EUA, a OTAN e a UE não só continuam a armar as forças de Kiev, como se preparam para transformar a Europa na primeira linha de um confronto de longa duração com a Rússia. Há vários indícios de qual poderá ser o plano: 1) Criar na Europa uma linha de demarcação militar, do tipo daquela que há 70 anos divide a península coreana, formalmente desmilitarizada através de um armistício com a Rússia. 2) Meter a Ucrânia, deixada formalmente fora da OTAN, «sob a tutela» da Polónia que, a pedido oficial de Kiev, colocaria em permanência forças militares próprias junto com as das três repúblicas bálticas e eventualmente de outros países da OTAN.

Daí a necessidade da « Recuperação da Ucrânia », cujo custo se estima estar entre 400 e 1. 000 mil milhões (bilhões-br) de dólares. Neste quadro, a União Europeia — que este ano destinou 18 mil milhões de euros para pagar salários, pensões e serviços públicos na Ucrânia — atribui outros 50 mil milhões de euros à «recuperação» da Ucrânia, retirando outros recursos vitais aos países da U.E.

O plano decorre do falhanço da «contra-ofensiva ucraniana» que, segundo o anunciado, deveria romper as linhas russas e reconquistar os «territórios ocupados». As Forças Armadas ucranianas, financiadas, armadas e treinadas pela OTAN, dotadas do mais moderno armamento (como os tanques alemães Leopard) estão sofrendo perdas crescentes. Daqui a necessidade de uma nova estratégia.

« Uma guerra que não pode ganhar / Washington precisa de um final de jogo na Ucrânia » [1], escreve Samuel Charap, analista da RAND Corporation : « Uma vitória total no terreno de uma das duas partes é quase impossível. Uma paz propriamente dita é impossível. No entanto, é possível que as duas partes se possam contentar com uma linha de armistício à coreana ». Esse cenário é em seguida elaborado por Anders Rasmussen, Secretário-Geral da OTAN no período em que essa demoliu pela guerra o Estado líbio e iniciou a operação secreta para fazer o mesmo na Síria : «Sabemos que a Polónia está muito empenhada no fornecimento de assistência concreta à Ucrânia. Não excluo que a Polónia se empenhe ainda mais neste contexto a nível nacional e que seja seguida pelos Estados Bálticos, com a possibilidade de enviar de tropas para a Ucrânia ».

Breve resumo da revista de imprensa internacional Grandangolo de 23 de Junho de 2023, Sexta-Feira às 20h30, no canal TV italiano Byoblu.

Manlio Dinucci* | Voltairenet.org |Tradução Alva

* Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações : Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016; Guerra nucleare. Il giorno prima. Da Hiroshima a oggi: chi e come ci porta alla catastrofe, Zambon 2017; Diario di guerra. Escalation verso la catastrofe (2016 - 2018), Asterios Editores 2018.

Nota:

[1] « An Unwinnable War : Washington Needs an Endgame in Ukraine », Samuel Charap, Foreign Affairs, July/August 2023.

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