Domingos de Andrade* | Jornal de Notícias | opinião
Os gritos. As correrias
afogueadas. Os baldes de mão em mão e as mãos na cabeça. As chamas que se
passeiam por entre as casas e que não poupam nada, nem roupa, nem carros, nem
animais, nem projetos de vida, nem floresta. E as chamas que poupam, as que
poupam, mas a lamber muros, a criar aflição a
Por estes dias, como sempre, apesar da sombra violenta da tragédia de Pedrógão, banalizamos os relatos e as imagens de povoações inteiras deslocadas, e mal retemos os números avassaladores da área ardida, interrogando-nos sobre como é possível que, ano após ano, ainda haja alguma coisa para arder.
Mas há.
O problema é mais fundo, acumula-se há décadas e revela a total ausência de verdadeiras políticas territoriais, transversal a vários governos, cujas grandes ideias não passam de promessas de amor profundo ao Interior - quando o abandono do Interior hoje começa no perímetro das grandes cidades - e de outras ideias para o ordenamento florestal cujos resultados são escassos.
Está tudo dito quando se olha para o incêndio que por estes dias devastou Castelo Branco, numa vasta mancha florestal que não ardia há 20 anos, mas onde nada foi feito para evitar que as chamas corressem naquela autoestrada de árvores.
Mais do que multas, de um cadastro forçado, são precisas iniciativas que possibilitem o repovoamento do país, que combatam as assimetrias regionais. E essas têm de passar pela criação de emprego, escolas condignas, saúde com qualidade e acessível a todos, a reconstrução de um modo de vida que se perdeu. Caso contrário, o que fica é um país cheio de acessos e de estradas para nenhures.
*Diretor-Geral Editorial
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