Artur Queiroz*, Luanda
Dona Isabel Paulino foi atirada para o covil de um jimbo enquanto pedia misericórdia. Jonas Savimbi, mandante deste crime ignóbil, assistiu a tudo para ter a certeza de que a sua esposa era mesmo assassinada como tinha ordenado. Receando alguma denúncia, quando partiu do Bailundo para o Andulo, o criminoso de guerra ordenou aos seus sequazes que tirassem o cadáver da cova e levaram-no. A inditosa senhora foi enterrada algures no Bié. Vítima de um conflito político ou de um homicídio com especial perversidade e crueldade? A esposa de Savimbi não tinha divergências políticas com o marido. Nem queria o seu lugar na UNITA. Só desejava viver com os filhos num clima de paz.
O Estado Angolano tem o dever de garantir a Dona Isabel Paulino um funeral digno. Porque era um ser humano. Porque só os animais são abandonados. Savimbi teve um funeral digno. Foi enterrado no cemitério municipal de Luena. As autoridades mandaram construir um túmulo. Jovens radicais queriam profanar a campa e entregar o cadáver às feras. Durante meses, agentes da Polícia Nacional faziam guarda, dia e noite, ao cemitério.
Este tratamento foi dado a um traidor nato. Alguém que rompeu com a UPA/FNLA e foi alugar as armas aos colonialistas. Savimbi lutou de armas na mão contra a Independência Nacional. Após o 25 de Abril de 1974 o líder da UNITA alugou as armas aos independentistas brancos. Rosa Coutinho desmantelou esses grupos. O chefe da UNITA não perdeu tempo e alistou-se nas hordas nazis dos racistas de Pretória.
Durante a guerra pela Soberania e a Integridade Territorial as forças angolanas enfrentaram os invasores estrangeiros, reforçados com as tropas do Galo Negro. Mataram, destruíram, raptaram civis inocentes, violaram, fizeram de prisioneiras as suas escravas sexuais. Instrumentalizam crianças para a guerra. Os mandantes puseram a circular que em Angola existia uma guerra civil. Mentira hedionda. A guerra era contra os invasores estrangeiros reforçados com traidores da estirpe de Savimbi ou do assassino confesso Samuel Chiwale.
Classificar a Guerra Pela Soberania Nacional como uma “guerra civil” é um crime sem perdão. Chamar à II Guerra de Libertação Nacional uma “guerra civil” é insultar a memória dos nossos Heróis. Chamar à Luta Armada de Libertação Nacional uma “guerra civil” é colocar o colonialismo ao nível do nacionalismo revolucionário e equiparar o MPLA ao partido dos ditadores Salazar e Caetano. Não cometam esse crime. Não insultem o Povo Angolano.
Não há conflito político entre as autoridades e os criminosos de delito comum. Não há conflito político entre o Governo e uma unidade de extermínio dos racistas de Pretória, a UNITA. Apesar de todos os seus crimes, Savimbi na hora da morte foi perdoado. E quando familiares (a alguns ele matou-lhes as mães!) entenderam trasladar as ossadas para outro cemitério, fizeram-no com o apoio das autoridades oficiais.
Savimbi foi vítima de um conflito político? Traiu Holden Roberto e nada lhe aconteceu. Pôs os seus melhores comandantes (Pedro e Sachilombo) ao serviço dos Flechas da PIDE para combater a guerrilha do MPLA. Era o faxineiro do capitão Almeida, comandante de uma unidade de artilharia portuguesa, a quem mendigava botas de cano alto e um bom creme para os pés. Instou os generais portugueses a desferirem o golpe final aos guerrilheiros do MPLA que se batiam na Frente Leste. O chefe guerrilheiro ia para a cama com os colonialistas! Era alimentado, fardado e armado pelos colonialistas. Era tratado no hospital militar do Luena como um combatente português.
Jonas Savimbi e seus sequazes (alguns ainda são dirigentes ou deputados da UNITA) assassinaram nas fogueiras da Jamba as elites femininas do Galo Negro e seus filhos bebés. Que conflito político existia entre elas e o criminoso de guerra? Nenhum. Matou porque era assassino. Os seus cúmplices o que temiam dessas mulheres e crianças? Nada. Ajudaram no crime porque são homicidas cruéis. Não houve qualquer conflito político.
Os dirigentes e militantes da UNITA assassinados por Savimbi e seus sequazes (Chiwale, Huambo, Paulo Lukamba Gato, Abílio Camatlata Numa e tantos outros) tinham algum conflito político com os seus matadores? Jamais. Eram todos da mesma organização. Existiam divergências, sim. Conflitos políticos insanáveis, nunca.
No dia seguinte à assinatura do Acordo de Bicesse, Isaías Samakuva, servente às ordens do regime de apartheid colaborou na instalação de bases militares secretas da UNITA no Cuando Cubango. Esta traição é um conflito político? Já pediu desculpa? Não.
No dia
O Estado tem o dever de reabilitar a memória dos milhares de vítimas de Savimbi e seus sequazes, sejam da UNITA ou não. Para isso não tem que andar a reboque da direcção do Galo Negro. Não tem que pedir autorização a Adalberto da Costa Júnior, um kamanguista de diamantes de sangue. Um louvador e adorador do Savimbi. Um mentiroso compulsivo. Um canalha arrogante. Um traidor reiterado. Começou a trair quando era retornado. Mordeu as mãos aos portugueses que lhe deram de comer e um papel de licenciado.
Hoje Adalberto da Costa Júnior anda pelo mundo dos negócios implorando que sabotem Angola, não investindo na nossa economia ou retirando os seus investimentos. O país que fez de um traidor ao serviço dos racistas da Africa do Sul, de um criminoso sancionado pela ONU, o líder da Oposição! Enquanto os sicários da UNITA existirem Angola não avança.
Adalberto da Costa Júnior, furioso com o Estado por cumprir os seus deveres, diz que Savimbi, em 2001, pediu perdão “pelos erros da UNITA”. Mas nesse ano o criminoso de guerra ainda andava aos tiros na democracia. Matava à paulada os seus companheiros. Ainda disparava contra as Forças Armadas Angolanas na posição de chefe de uma quadrilha de homicidas.
Após a morte de Savimbi, o seu sucessor, Paulo Lukamba Gato não pediu desculpas a ninguém. Só sabia pedir ao Governo casas, carros e dinheiro. Para mostrar que reprovava os homicídios do defunto chefe afastou-se do Galo Negro. Hoje cheira-lhe a poder e está de regresso, pronto a raptar, violar, queimar e matar à paulada quem se atravesse no seu caminho. Paulo Lukamba Gato não pediu desculpas. Continua assassino cruel.
Isaías Samakuva quando assumiu a liderança da UNITA não pediu desculpas nem perdão pelos crimes hediondos praticados pelam organização e por ele próprio. Pedia casas, carros e muito dinheiro para alimentar os negócios milionários da irmã e do irmão em Espanha e França. Pedir dinheiro e lugares para acomodados não é pedir perdão. Não é pedir desculpa.
Adalberto da Costa Júnior afirmou que a UNITA “lutou pela democracia e a liberdade”. Esta declaração é um crime que exige a intervenção imediata da Procuradoria-Geral da República. A UNITA lutou de armas na mão com as forças invasoras da África do Sul. A UNITA era um pelotão de extermínio dos nazis de Pretória. Afirmar que agentes de um regime de apartheid lutam pela democracia não é liberdade de expressão. É crime de ódio. Porque Adalberto está a glorificar e a promover o nazismo. O apartheid. Quem defende o racismo como política de estado é um criminoso perigoso. Mandem prender esse boi seja esse boi o que for.
Adalberto da Costa Júnior diz que a UNITA pediu perdão pelos “erros cometidos nas áreas sob a sua responsabilidade”. Mandem prender esse boi seja esse boi o que for. A UNITA nunca teve áreas sob sua responsabilidade. Ocupou à força zonas de Angola depois das primeiras eleições. Aí cometeu crimes hediondos contra civis. Antes a África do Sul ocupava zonas de Angola pela força das armas. Cometeram crimes hediondos contra civis. Mandem prender esse boi que glorifica o regime de apartheid e a traição aos acordos assinados.
Hoje a CPLP faz 27 anos. Houve festa em Lisboa (onde havia de ser?). Para abrilhantar o acontecimento convidaram Edgar Morin. Figura respeitável da qual discordo em aspectos fundamentais da problemática da complexidade. Quando estudo as suas ideias fico com a sensação de que o filósofo tem alguma dificuldade em digerir o Pensamento Alemão na sua plenitude. Depois parte de um princípio que posso resumir com esta imagem: A Terra é um planeta azul por isso somos complexamente azuis. O qual não.
Mas tirando esses trocos, o “tenente Morin”, membro da Resistência Francesa ao Nazismo, é um monumento do pensamento europeu. Sendo judeu sefardita (como os meus antepassados do Couto D’Ervededo), leiam o que escreveu:
"Os judeus de Israel, descendentes das vítimas de um apartheid denominado ghetto, guettificam os palestinos. Os judeus que foram humilhados, desprezados, perseguidos, humilham, desprezam e perseguem os palestinos. Os judeus, que foram vítimas de uma ordem impiedosa, impõem sua ordem impiedosa aos palestinos. Os judeus, vítimas da desumanidade, mostram uma terrível desumanidade”. Se Edgar Morin fosse da UNITA e fizesse tão dura crítica aos seus, ia parar à fogueira e não estava hoje na festa do Moedas e do Vítor Ramalho, conivente em primeiro grau com os assassinos da UNITA.
* Jornalista
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