domingo, 3 de setembro de 2023

Portugal | O JOGO DAS CADEIRAS

Pedro Cruz | | TSF | opinião

Ganha o jogo quem ficar sentado no final. A cada ronda, há sempre menos uma cadeira. E há sempre um candidato eliminado. O jogador que fica de pé e não consegue, a tempo, um lugar na cadeira, acaba eliminado.

Ao falar do tema das presidenciais e ao assumir, finalmente, que pode ser candidato a Belém, Marques Mendes sabe exatamente o que está a fazer. Faltam dois anos e meio e, nestas coias de candidaturas a Belém, os tabus não são bons conselheiros. Desta vez, a direita deveria fazer uma espécie de primárias, que não existem em Portugal. Ou, então, um jogo das cadeiras. Se houve alturas na história em que, na área de não esquerda, eram escassos os presidenciáveis, este é um momento em que acontece exatamente o contrário.

Marques Mendes, Durão Barroso, Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e Pedro Santana Lopes são os putativos candidatos, uma mão cheia de possibilidades para quem não quer votar nas várias esquerdas. Mendes parte à frente e com vantagem - quando chegar a eleição, estará há mais de uma década no horário nobre, aos domingos, - quando é que já vimos isto e o que aconteceu ao outro senhor que esteve mais de uma década no horário nobre aos domingos - com uma legião de seguidores cujas audiências demonstram que são fiéis. Aliás, a putativa candidatura de Marques Mendes é o segredo mais mal guardado da política portuguesa. Na universidade de verão, ao assumir pela primeira vez que essa candidatura pode acontecer, Mendes deu o tiro de partida. Pode ser um tema, como diria António Costa, que «não interessa» aos portugueses. Mas decerto que é um tema que não vai sair da atualidade. Marques Mendes tomou a iniciativa e com isso obriga os outros potenciais candidatos a saírem da toca ou, em alternativa, a criarem tabus.

Não seria um mau exercício de cidadania e de experiência social se a direita fizesse mesmo umas primárias para as próximas presidenciais. Claro que os protocandidatos vão deixar que esse trabalho de eliminação e de probabilidades de eleição acabe por ser feito pelas sondagens e pelas indicações que forem dando. Mas seria clarificador se, todos os que pensaram em ser candidatos, se assumissem e, depois disso, que se sujeitassem a um escrutínio prévio dos cidadãos. Não o farão, mas era uma forma interessante e clara de encontrar um candidato. Como acontece, por exemplo, nos Estados Unidos.

Talvez Durão Barroso não esteja para se maçar com uma candidatura; talvez Pedro Passos Coelho não tenha nem vontade, nem perfil para Belém, embora muitos gostassem de o ver lá. Talvez Portas chegue à conclusão de que não ganharia essa eleição e talvez Pedro Santana Lopes, apesar da vontade e do desejo, entenda que é uma batalha que já não vale a pena travar. E, se todos estes talvez se conjugarem, Marques Mendes está sozinho na pista. E cedo, bem cedo.

Faltam dois anos e meio para as eleições presidenciais e o mandato de Marcelo caminha para o fim. Como nos últimos seis meses está impedido de utilizar o poder de dissolução, a relevância política do atual presidente termina daqui a dois anos. Que país vamos ter daqui a dois anos? Que abertura haverá da sociedade para pensar em quem pode vir a ser o próximo presidente? Como se vai mover o jogo de bastidores entre os cinco possíveis candidatos à direita? E, já agora, que repercussões pode este tema ter à esquerda, com as candidaturas já pré-admitidas de Gouveia e Melo e Augusto Santos Silva? E, depois de duas décadas de presidentes de direita, há ainda espaço para um presidente desta área política?

Sem ser grande novidade nem particularmente afirmativa, a disponibilidade de Marques Mendes fez levantar todas estas questões. Está aberto o jogo das cadeiras. Mas, já se disse, no final, só há lugar para um. O que fica com a última cadeira.

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