Pedro Cruz | | TSF | opinião
Ganha o jogo quem ficar sentado no final. A cada ronda, há sempre menos uma cadeira. E há sempre um candidato eliminado. O jogador que fica de pé e não consegue, a tempo, um lugar na cadeira, acaba eliminado.
Ao falar do tema das
presidenciais e ao assumir, finalmente, que pode ser candidato a Belém, Marques
Mendes sabe exatamente o que está a fazer. Faltam dois anos e meio e, nestas
coias de candidaturas a Belém, os tabus não são bons conselheiros. Desta vez, a
direita deveria fazer uma espécie de primárias, que não existem
Marques Mendes, Durão Barroso, Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e Pedro Santana Lopes são os putativos candidatos, uma mão cheia de possibilidades para quem não quer votar nas várias esquerdas. Mendes parte à frente e com vantagem - quando chegar a eleição, estará há mais de uma década no horário nobre, aos domingos, - quando é que já vimos isto e o que aconteceu ao outro senhor que esteve mais de uma década no horário nobre aos domingos - com uma legião de seguidores cujas audiências demonstram que são fiéis. Aliás, a putativa candidatura de Marques Mendes é o segredo mais mal guardado da política portuguesa. Na universidade de verão, ao assumir pela primeira vez que essa candidatura pode acontecer, Mendes deu o tiro de partida. Pode ser um tema, como diria António Costa, que «não interessa» aos portugueses. Mas decerto que é um tema que não vai sair da atualidade. Marques Mendes tomou a iniciativa e com isso obriga os outros potenciais candidatos a saírem da toca ou, em alternativa, a criarem tabus.
Não seria um mau exercício de cidadania e de experiência social se a direita fizesse mesmo umas primárias para as próximas presidenciais. Claro que os protocandidatos vão deixar que esse trabalho de eliminação e de probabilidades de eleição acabe por ser feito pelas sondagens e pelas indicações que forem dando. Mas seria clarificador se, todos os que pensaram em ser candidatos, se assumissem e, depois disso, que se sujeitassem a um escrutínio prévio dos cidadãos. Não o farão, mas era uma forma interessante e clara de encontrar um candidato. Como acontece, por exemplo, nos Estados Unidos.
Talvez Durão Barroso não esteja para se maçar com uma candidatura; talvez Pedro Passos Coelho não tenha nem vontade, nem perfil para Belém, embora muitos gostassem de o ver lá. Talvez Portas chegue à conclusão de que não ganharia essa eleição e talvez Pedro Santana Lopes, apesar da vontade e do desejo, entenda que é uma batalha que já não vale a pena travar. E, se todos estes talvez se conjugarem, Marques Mendes está sozinho na pista. E cedo, bem cedo.
Faltam dois anos e meio para as eleições presidenciais e o mandato de Marcelo caminha para o fim. Como nos últimos seis meses está impedido de utilizar o poder de dissolução, a relevância política do atual presidente termina daqui a dois anos. Que país vamos ter daqui a dois anos? Que abertura haverá da sociedade para pensar em quem pode vir a ser o próximo presidente? Como se vai mover o jogo de bastidores entre os cinco possíveis candidatos à direita? E, já agora, que repercussões pode este tema ter à esquerda, com as candidaturas já pré-admitidas de Gouveia e Melo e Augusto Santos Silva? E, depois de duas décadas de presidentes de direita, há ainda espaço para um presidente desta área política?
Sem ser grande novidade nem particularmente afirmativa, a disponibilidade de Marques Mendes fez levantar todas estas questões. Está aberto o jogo das cadeiras. Mas, já se disse, no final, só há lugar para um. O que fica com a última cadeira.
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