Paulo Raimundo estreia-se hoje a
discursar na festa do PCP vestindo já farda de secretário-geral. O partido
chega ao início do novo ano político com as sondagens colocando-o em pior
situação do que nas legislativas de
No princípio, corria tudo bem. Paulo Raimundo foi eleito secretário-geral do PCP em 12 de novembro de 2022, sucedendo a Jerónimo de Sousa, que ocupou o cargo durante quase 18 anos. Na primeira sondagem publicada a seguir à sua eleição, da Pitagórica, para a TVI/CNN Portugal, com recolha de dados feita entre 11 e 17 de novembro, os comunistas duplicavam as suas intenções de voto, recolhendo 5,1%. No mês anterior outubro anterior estavam nos 2,6% (Intercampus).
Entretanto, o tempo passou. A princípio, Raimundo pareceu querer moderar a posição do partido sobre a guerra na Ucrânia. Mas depois voltou-se ao que era antes. Em abril, a líder parlamentar comunista dizia que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, "personifica um poder xenófobo e belicista, rodeado e sustentado por forças de cariz fascista e neonazi" e que "há oito anos ataca e massacra a própria população ucraniana na região do Donbass e elimina quem se lhe opõe", sendo que, ao mesmo tempo, "enaltece os colaboracionistas das SS nazis na II Guerra Mundial e branqueia as suas atrocidades cometidas contra as populações da Ucrânia e da Polónia".
Os comunistas regressaram à ortodoxia anti Kiev. Zelensky veio a Portugal, esteve no Parlamento - e a bancada do PCP ficou vazia. Há semanas, foi o único partido a votar contra a autorização parlamentar ao Presidente da República para ir à Ucrânia.
Longe vão os 5,6% da sondagem da Pitagórica publicada em novembro de 2022. Paulo Raimundo chega hoje ao primeiro dia da edição deste ano da Festa do "Avante!" com o partido nos 3,1% (sondagem da Intercampus feita na segunda semana de agosto). É menos que os 4,6% obtidos nas legislativas de janeiro de 2022.
Este será o primeiro
"Avante!"
No passado dia 22 de agosto, o líder comunista visitou o recinto da Festa, na Quinta da Atalaia (Seixal, distrito de Setúbal) e aproveitou para dizer aos jornalistas que para já prioridade central do partido no novo ano político reside mais na contestação às políticas do Governo - e lançamento de propostas alternativas - do que nas eleições que se avizinham (regionais da Madeira em setembro e Europeias em junho do ano que vem): "Aquilo que se vai colocar no dia 3 de setembro, logo a seguir à Festa, não são propriamente as batalhas eleitorais, é a batalha pela habitação, saúde, pelos salários, direitos, e contra esta injustiça e desigualdade". Assim, o que importa é "afirmar o PCP, dar confiança aos trabalhadores e ao povo para enfrentar os verdadeiros desafios e conflitos que atravessam". O SNS foi uma das prioridades referidas: "Não se pode dizer que não tem meios, não tem condições para valorizar os profissionais, para respeitá-los, aumentar salários, criar condições, porque não há dinheiro, e depois há dinheiro para transferir 40%, 6 mil milhões de euros, para o negócio privado da saúde."
Nos últimos dias, os comunistas começaram a divulgar propostas que apresentarão no Parlamento. Quarta-feira, numa conferência de imprensa na sede do partido, Margarida Botelho, do secretariado do Comité Central, propôs passar a tutela das creches do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social para o Ministério da Educação e ainda a constituição de uma rede pública que garanta universalidade e gratuitidade, com a meta de criar faseadamente 148 mil vagas até 2030.
O partido - disse - vai entregar um projeto de lei que "estabelece um novo paradigma no que respeita à creche", apontando as dificuldades que dezenas de milhares de famílias estão a ter para encontrar vagas para os seus filhos, sendo o seu objetivo "assegurar uma resposta educativa de qualidade, assumir a gratuitidade, garantir vagas a todas as crianças dos zero aos três anos e contribuir para a inversão do défice demográfico". "Propõe-se que a criação de uma rede pública que assuma o objetivo da disponibilização de 100 mil vagas até 2026 e de 148 mil até 2030", fixou.
Ontem, o partido anunciou uma
outra proposta a apresentar na Assembleia da Republica, esta para limitar o
aumento das rendas a 0,43%. "Numa situação de contínua subida dos preços
dos bens e serviços essenciais, o PCP considera que as atualizações do valor das
rendas - dos atuais contratos e daqueles que venham a ser renovados ou
celebrados com outros inquilinos - não podem exceder o limite que foi imposto
para 2022 (ano em que a inflação disparou), ou seja, os 0,43%", defendeu o
partido,
"Três dias mágicos"
Paulo Raimundo chega hoje à festa anual do PCP pela primeira vez como líder do partido e já falou da "ligação muito carinhosa" que tem com o evento, descrevendo-o como "três dias mágicos", de "grande alegria" e de "afirmação política e confiança no futuro".
No que toca aos debates, o cartaz da Festa inclui uma discussão com o tema "Travar a privatização! Por uma TAP que faz falta ao país", que contará com intervenção do deputado que integrou a comissão parlamentar de inquérito, Bruno Dias, e os dirigentes Agostinho Lopes, Manuel Gouveia e Ricardo Costa.
A líder parlamentar do PCP, Paula Santos, e o deputado Duarte Alves, juntamente com os dirigentes Vasco Cardoso e Tiago Cunha constituem o painel com o tema "Quem paga e para que servem os impostos em Portugal? Por uma política de justiça fiscal".
O antigo secretário-geral comunista Jerónimo de Sousa é um dos nomes do painel "Cumprir e fazer cumprir a Constituição", que contará também com intervenções da deputada Alma Rivera, do ex-líder parlamentar João Oliveira, além de Ana Tarrafa e Rui Dinis.
O tema da saúde estará também em destaque , com o debate "Reforçar o SNS, garantir o acesso à saúde", que contará com intervenções de Bernardino Soares, João Dias, Isabel Barbosa, Patrícia Machado e André Gomes, e na cidade da juventude vai debater-se "A juventude e a Saúde Mental: problemas e soluções". Está previsto ainda um painel sobre "A intervenção dos deputados do PCP: "Contigo todos os dias - a tua voz no Parlamento Europeu"".
Os 50 anos da "revolução dos
cravos" estarão
João Pedro Henriques | Diário de Notícias
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