quinta-feira, 12 de outubro de 2023

A Hora dos Assassinos e Racistas -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os bombardeamentos de Israel à prisão da Faixa de Gaza causaram em apenas cinco dias 380.000 desalojados. Comparemos. O município do Namibe tem 295.000 habitantes. Todos sem casa, cubata ou tugúrio. Sumbe, 280.000 habitantes, todos ao relento. Namibe 293.000 habitantes todos no deserto com as zebras. Portugal, país da União Europeia. Faro (67.000 habitantes), Vila Real (49.574 e a mesma dimensão da Faixa de Gaza), Bragança (39.000 habitantes) ou Guarda (712,13 quilómetros quadrados de superfície e uma população de 42.460 habitantes). Estas cidades são capitais de distrito. Todos sem um tecto!

A morte alastrou da Palestina ocupada para Israel ocupante, desde o passado sábado dia 7 de Outubro. Não se iludam. Não mintam. As perdas de vidas humanas de um e outro lado começaram no dia em que nasceu o estado judaico. E vai continuar. Quem conhece bem a região pensa que só há paz e termina a mortandade quando nascer o Estado da Palestina autónomo. Pessoas bem-intencionadas. No seu coração querem que seja assim. Mas nesta altura do campeonato a paz definitiva e duradoura entre palestinos e israelitas já tem poucas possibilidades porque os sionistas estão a exterminar o outro lado.

No tempo em que andava de repórter estive no Líbano, ano de 1982. O massacre de Sabra e Chatila (arredores de Beirute) chamou ao país muitos jornalistas. O sul estava ocupado por Israel. Tropas israelitas, comandadas por Ariel Sharon, foram responsáveis pela tortura e assassinato de 5.000 refugiados palestinos. Cercaram o campo de refugiados, bloquearam as saídas para ninguém fugir e mandaram os “falangistas libaneses”, organização de extrema-direita, fazer a parte suja: Torturar e matar.

Os massacres começaram ao amanhecer de um sábado, dia 16 de Setembro de 1982. Ao meio-dia já os dois campos de refugiados tinham centenas de mortos e mutilados espalhados pelo chão. Os refugiados escondiam-se onde podiam. Veio a noite e Ariel Sharon mandou iluminar os campos de refugiados em Sabra e Chatila para a matança continuar. Um horror. O Tribunal Supremo de Israel considerou Ariel Sharon responsável pelos massacres porque “falhou na proteção aos refugiados”. Esta condenação abriu-lhe o caminho para o cargo de primeiro-ministro do governo de Israel, entre 2001 e 2006. Aprovado como bom matador de palestinos. 

No dia 20 de Julho de 1992 fui para o Iraque. A guerra no país estava por um fio. No dia 2 de Agosto começou. Eu vi bombardear Bagdade, Ramadi e Rutbah. Estava lá. O estado terrorista mais perigoso do mundo e seus aliados do ocidente alargado começaram a matar indiscriminadamente no Iraque, que na época era o país mais progressista e mais próspero do Médio Oriente. Um estado socialista cercado de repúblicas islâmicas. Um país onde as mulheres tinham os mesmos direitos dos homens. Onde havia liberdade de culto. Existiam cristãos no governo. Deputadas curdas.

Com os jornalistas Jorge Uribe e Zurita Reys fui ver a cidade de Bagdade, ao amanhecer da primeira noite de bombardeamentos com “mísseis cruzeiro”. Morte e destruição. Um bairro moderno foi destruído à bomba. A velha cidade de Bagdade, habitada por milhões de pessoas, foi arrasada. O Museu do Homem em escombros. Uma mesquita no centro histórico arrasada. Hotéis bombardeados. A CNN mostrou um militar norte-americano dizendo que a coligação internacional estava a fazer “bombardeamentos cirúrgicos” para não matar civis! O máximo da hipocrisia. Fiquei com vontade de estrangulá-lo. E não me mataram familiares e amigos. Imaginem o sentimento de quem viu o seu país arrasado e milhares de civis mortos.

Milhões de mortos na Palestina, Líbano, Síria, Egipto, Jordânia. Milhões de deslocados e refugiados. Todos somados são mais do que toda a população de Israel. Se fosse ao contrário já não existiam israelitas. Uns morreram nos seus países destroçados. Outros morrem hoje no Mediterrâneo quando fogem do inferno que o ocidente alargado instalou no Norte de África e no Médio Oriente. Muitos mais milhões de vivos clamam por vingança. Odeiam os matadores. Não acredito que o inferno tenha saídas, muito menos pacíficas. Pelo menos Dante aconselha todos os que chegam ao interno a deixarem fora toda a esperança, porque de lá ninguém sai. 

O ódio e a morte andam à solta na Faixa de Gaza e em Israel. O ocidente alargado apoia a mortandade na imensa prisão a céu aberto. Por cada criança palestina morta, são içadas bandeiras nas grandes capitais do “mundo civilizado”. Por cada criança ferida pelos bombardeamentos dos sionistas mais uma manifestação de apoio. De Washington e da União Europeia vem a mensagem para os sionistas: Matem-nos! Exterminem os palestinos na Faixa de Gaza! O chefe do governo alemão, Olaf Scholz, também quer o extermínio na Cisjordânia e atacou a Autoridade da Palestina. Se escavarmos, com a unha, a película dos “democratas” europeus logo aparece um nazi encartado.

Joe Biden viu os combatentes do Hamas decapitar crianças. Mentiroso. A Casa Branca desmentiu-o. O ministro das relações exteriores de Israel desmentiu-o. Mas dos políticos ocidentais não se espera outra coisa. Os Media do ocidente alargado enveredaram pelo terrorismo. Em Portugal a editora de noticiário internacional do canal público (RTP), Márcia Rodrigues, porta-se como uma terrorista sionista. A CNN põe constantemente nos ecrãs terroristas incitando ao extermínio de palestinos. Noutros países são menos primários mas os Media propagam o terrorismo informativo. Quanto mais ódio melhor.

Hoje o campo de refugiados na Faixa de Gaza, Al-Shati Gaza, foi bombardeado pela aviação sionista. Centenas de mortos. Os hospitais não podem receber mais feridos. São aos milhares e entre eles, centenas de crianças. O ocidente alargado iça mais bandeiras de Israel. As lideranças políticas mandam a mensagem para Telavive: Matem-nos! Cortem a água, a luz, a alimentação e os medicamentos aos palestinos. Cerco total à prisão a céu aberto.

Todos os governos da União Europeia são cúmplices dos assassinatos na Faixa de Gaza. Todos os governos dos países da OTAN (ou NATO) são coniventes, apoiantes e executantes dos assassinatos na Faixa de Gaza. Todos querem matar à sede e à fome quase três milhões de seres humanos. São políticos assassinos cruéis. Terroristas. Estamos perante uma Cruzada moderna contra os infiéis dos nossos tempos. Quem são? Todos os que não se submetem aos esclavagistas e colonialistas. 

Em Portugal é o explodir de um recalque que tem 49 anos. Em 25 de Abril de 1974 Otelo Saraiva de Carvalho e seus camaradas do Movimento das Forças Armadas (MFA) puseram fim ao império colonial português. A festa da revolução durou pouco mas o suficiente para as independências da Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola. 

Desde então as elites portuguesas corruptas e ignorantes ficaram sem escravos. Perderam o domínio sobre os pretos. Já só conseguem políticas de apartheid em alguns bairros periféricos das grandes cidades. Já só podem ser racistas em casa. Uma frustração. Com os bombardeamentos na Faixa de Gaza, os sentimentos colonialistas e racistas estão de volta apoiando os sionistas de Israel no extermínio de palestinos. 

Imaginem milhões de seres humanos aprisionados numa faixa com 350 quilómetros quadrados. Cerco total. E agora sem água, luz, alimentos, medicamentos, os bens mais básicos para a sobrevivência. Com bombas a caírem de minuto a minuto. E ao mesmo tempo o ocidente alargado apoia o extermínio “até onde for preciso”. As brigadas terroristas tomaram os Media de assalto e bolsam ódio sobre os palestinos. 

Hitler matou em Auschwitz um milhão de seres humanos. Judeus eram a maioria. Os sionistas estão a exterminar quase três milhões de palestinos ante o aplauso entusiasmado e o apoio determinado do ocidente alargado.

Em Treblinka foram executados 925.000 seres humanos. Judeus eram a maioria. Os sionistas de Israel estão a exterminar três vezes mais na Faixa de Gaza. O trio assassino Biden, Blinken, Austin deu ordens ao ocidente alargado: Exterminem os palestinos!

Os Einsatzgruppen (unidades móveis de extermínio) mataram mais de um milhão de seres humanos só no território da União Soviética. Muitos eram judeus. Os sionistas de Israel estão a exterminar quase três milhões de palestinos na Faixa de Gaza. Os governos da União Europeia apoiam o extermínio. Os governos dos países da OTAN (ou NATO) apoiam e colaboram directamente no extermínio. 

O assassino sionista Blinken foi ver os estragos causados pelos combatentes do Hamas em Israel. Mas não foi ver os estragos dos sionistas na Faixa de Gaza. Washington apoia militarmente o extermínio de palestinos. Em Telavive deixou aberta a hipótese de “congelar” de novo os fundos iranianos, recentemente descongelados graças a um acordo diplomático. O dinheiro vai para os sionistas. Como o dinheiro roubado à Federação Russa e a cidadãos russos vai para os nazis de Kiev. Este mundo está podre. Os BRICS têm de acelerar a nova ordem mundial. Onde não pode caber o apartheid na Palestina e o extermínio dos palestinos.

*Jornalista

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