sábado, 23 de dezembro de 2023

Angola | Alegria Nacional e Luto na Capoeira – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Finalmente uma boa notícia. A UNITA vai sair da CIVICOP. Que saia depressa, ontem era tardíssimo. Mas para a alegria ser total, ficamos ansiosamente à espera que os sicários do Galo Negro saiam da Assembleia Nacional, onde só entraram porque há muitos eleitores descontentes com o regime democrático. Qualquer porcaria lhes serviu para protestar. Que saiam do Conselho de Estado. Há lugares próprios para depositar lixo, desde contentores a aterros sanitários. Que saiam rapidamente da Comissão Nacional Eleitoral. Que se afastem definitivamente do Estado Democrático e de Direito. Sem truques!

A UNITA não é um partido, é uma seita satânica que mata sem dó nem piedade em nome do mentor, Jonas Savimbi. Destrói equipamentos públicos essenciais. Sabota tudo o que pode. Jamais se integrará na democracia. Apenas existe para destruir Angola. O nível da direcção do Galo Negro é tão baixo, tão rasteiro, tão abaixo de lixo que nem sequer é capaz de reconhecer a existência de Angola como um Estado Soberano. Ainda estão no tempo em que matavam angolanos às ordens do regime racista de Pretória e do estado terrorista mais perigoso do mundo, elevado por João Lourenço à categoria de parceiro privilegiado do Estado Angolano. Farinha do mesmo saco!

Antonino Tchiyulo, membro da seita UNITA, faleceu. O engenheiro das obras feiras Adalberto da Costa Júnior decretou “luto nacional”. Para eles o acampamento da Jamba é a dimensão adequada. O terreiro onde foram queimadas vivas as elites femininas da UNITA é a capital. A casa onde Jonas Savimbi abusava sexualmente das suas escravas, das prisioneiras ou mesmo das esposas dos dirigentes, é o Palácio da Cidade Alta. Se saírem de todas as instituições onde têm acento, fazem um imenso favor ao Povo Angolano.

Os sicários da UNITA mais palavrosos, aqueles que podem dizer tudo sem comprometer o engenheiro à civil Adalberto, insistem nas Eleições Autárquicas. Pura chicana política. Eles não querem eleições. Nunca quiseram. Fugiram delas em 1975. Mataram os eleitores que em Setembro de 1992 não lhes deram o voto. Tentaram tomar o poder pela força e falharam, provocando um banho de sangue. Depois mataram quem apanharam pela frente em todo o país. Partiram tudo. Destruíram tudo. Vou contar-vos um episódio. 

António Dembo ocupou militarmente a cidade do Uíge logo a seguir à publicação dos resultados eleitorais de 1992. Atacaram o palácio do governo com canhões! Eu assisti à sua inauguração. Um palácio lindo, revestido com mármore de Dala Tando! Um Assombro. Dembo e seus matadores partiram tudo. E ficou a viver nos anexos! O embaixador dos EUA, membro da Troika de Observadores, foi à cidade conferenciar com ele. Quando viu o palácio rebentado e o chefe do Galo Negro instalado no anexo, teve este desabafo: Estes senhores não têm mesmo sentido de estado…

Hoje o Conselho de Estado, órgão de consulta do Presidente da República, aprovou a nova divisão administrativa de Angola. A partir deste momento, nada impede que a Assembleia Nacional aprove a proposta de alteração da Divisão Politica Administrativa, que prevê a criação da província Cassai-Zambeze, desmembrada do Moxico. E a província do Cubango desmembrada do Cuando Cubango. Mais importante. O ministro Adão de Almeida anunciou que 161 comunas e distritos urbanos vão passar a municípios. Angola passa a ter 20 províncias. Eram 18. E 325 municípios. Eram 164. Um pormenor. A província do Moxico é maior do que Portugal. A província do Cuando Cubango igualmente.

Qualquer bagre mesmo fumando percebe que esta decisão já vem tarde. Devia ser tomada quando nasceram as províncias da Lunda Sul e Bengo. Mas mais vale tarde e bem. O ministro Adão de Almeida justificou a proposta com argumentos imbatíveis. E uma vez aprovada, tem implicações no Orçamento Geral do Estado. É necessário criar infra-estruturas nas novas províncias e municípios. É preciso recrutar recursos humanos qualificados de forma a prestar os serviços essenciais aos munícipes. 

Num país onde os recursos humanos são escassos, não vai ser fácil dotar duas novas províncias e 161 municípios novos de quadros técnicos e profissionais de vários ofícios. Se bastasse mobilizar os que mataram seres humanas à paulada ou queimaram vivas as elites femininas da UNITA, o problema estava resolvido. A direcção da UNITA ia em peso para as novas autarquias.

 As deputadas e os deputados saíam da Assembleia Nacional e iam tratar dos sistemas de captação, tratamento e distribuição de água. Da recolha e tratamento dos resíduos sólidos. Dos sistemas de produção e distribuição de energia. Trânsito e transportes Mobiliário urbano e espaços públicos. Rede viária local. Mercados. Cemitérios. Escolas. Postos de saúde. Finanças. Matadouros. Tudo o que é preciso. 

Os sicários da UNITA pensam que Eleições Autárquicas é só arranjar as urnas, instalar as assembleias e mesas de voto, imprimir os boletins e marcar uma data para votar. É mais. Já o disse e volto a repetir. Em Angola temos de conciliar o Poder Local Democrático com o Poder Tradicional. As autoridades tradicionais têm uma palavra importante a dizer em todo o processo. 

Vou contar-vos um episódio. Em serviço de reportagem no Bailundo, fiz uma visita de cortesia ao rei. Convidou-me para sua casa e meia hora depois já éramos amigos. Fiquei lá a tarde inteira. Fomos interrompidos umas 50 vezes por pessoas que lhe iam apresentar as suas preocupações e problemas quotidianos. Em vez de irem directamente à Administração Municipal, primeiro aconselhavam-se com o rei. 

Angola precisa do Poder Local Democrático. Mas agora é tempo de aprovar na Assembleia Nacional as alterações da Divisão Politica Administrativa. Depois instalar as estruturas das duas novas províncias. Ao mesmo tempo instalar serviços e recursos humanos nos novos municípios. Depois vamos a votos. E não digam que o MPLA tem medo das eleições autárquicas. Porque podem ter a certeza de que tudo o que for ganhar com menos de 90 por cento é derrota. Na confusão de Luanda, à boleia do voto de protesto, a UNITA ainda passa. Lá onde andou a matar e destruir, leva uma tareia eleitoral, como nunca levou. E depois os sicários do Galo Negro vão repetir, pela enésima vez, que houve fraude eleitoral.

A RENAMO levou uma tunda eleitoral em Moçambique. Fraude! E sabem o que fizeram os seus deputados? Faltaram ao respeito do Presidente da República quando discursava na Assembleia Nacional. Preparem-se. Os sicários da UNITA vão fazer o mesmo, ou pior.

* Jornalista

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