sábado, 7 de janeiro de 2023

UCRÂNIA: A HISTÓRIA QUE EXPLICA A GUERRA

Nova escalada acende risco de conflito fora de controle e deslize nuclear. Exame dos fatos revela: propaganda ocidental é falsa. Rússia esteve sempre aberta a acordo, mas Putin caiu em cilada. É hora de um movimento global pela paz

David Mandel* | Outras Palavras | Tradução: Maurício Ayer | # Publicado em português do Brasil

A natureza complexa da guerra na Ucrânia e, especialmente, da questão da responsabilidade a ser atribuída às partes envolvidas dificultou a mobilização de um movimento antiguerra vigoroso. Uma parte da esquerda, aliás, se opõe a um cessar-fogo imediato e à retomada das negociações, interrompidas abruptamente no final de março. O objetivo deste artigo é lançar luz adicional sobre a guerra com vistas a ajudar os oponentes do imperialismo a adotar uma posição esclarecida.

Tendo em vista as divisões internas da esquerda, sinto que é necessário começar com algumas palavras sobre mim. Por muitos anos, dei aulas sobre a política da União Soviética e dos estados que surgiram dela. Como sindicalista e socialista, participei ativamente da educação trabalhista na Rússia, Ucrânia e Bielo-Rússia, desde o momento em que tal atividade se tornou politicamente possível. Essa educação é de inspiração socialista, e definimos o socialismo como humanismo consistente. Assim, opus-me ativamente aos regimes russo e ucraniano, ambos profundamente hostis à classe trabalhadora.

A condição dos trabalhadores na Ucrânia independente não tem sido melhor do que a de seus correlativos na Rússia. Em certas dimensões, é ainda pior. Desde a independência, uma sucessão de governos predatórios transformou a Ucrânia de uma região outrora relativamente próspera da União Soviética no estado mais pobre da Europa. A população da Ucrânia nos últimos 30 anos caiu de 52 para 44 milhões (antes da guerra atual). Desses 44 milhões, um bom número está trabalhando na Rússia.

É verdade que na Ucrânia, ao contrário da Rússia, as eleições podem mudar o governo. Mas elas não podem mudar a natureza antitrabalhadora da política do Estado. Um violento golpe em fevereiro de 2014, executado por forças ultranacionalistas (neofascistas) e ativamente apoiado pelo governo dos EUA, derrubou um presidente eleito, embora corrupto, bloqueando um acordo alcançado no dia anterior com a oposição, sob o auspícios da França, Alemanha e Polônia, para formar um governo de coalizão e promover novas eleições.

O golpe e as primeiras medidas do novo regime, em particular uma lei que eliminava o russo, língua cotidiana de pelo menos metade da população, como uma das duas línguas oficiais, provocaram resistência e, finalmente, confronto armado no leste do país, em regiões onde os falantes de russo predominam. Essa oposição foi reprimida em todos os lugares, às vezes por meios violentos e com perda de vidas, como ocorreu na cidade de Odessa em maio de 2014, exceto no Donbass. Ali, estourou uma guerra civil, com a intervenção russa do lado dos insurgentes e a intervenção da OTAN do lado de Kiev. 

Conflitos e desigualdades conduzem mundo a "beco sem saída" – António Guterres

Numa análise muito crítica da situação mundial, António Guterres elencou, esta sexta-feira, em Lisboa, retrocessos em áreas como a liberdade de imprensa, direito à paz e ao desenvolvimento em todo o mundo.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou, esta sexta-feira (06.01), para o retrocesso dos direitos humanos e para o "beco sem saída", de que o mundo se aproxima, com o aumento de conflitos, ditaduras, opressão e desigualdades.

Em declarações em Lisboa, na Conferência Expresso 50 Anos "Deixar o Mundo Melhor", que assinala o aniversário da fundação do semanário português, o líder da ONU aproveitou para recordar outra efeméride, os 75 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e elencar regressões em vastas áreas.

"Olhando para o que são hoje os direitos humanos numa perspetiva mais ampla dos nossos tempos, é evidente que é a negação e o retrocesso desses direitos que em larga medida constituem o beco para o qual o mundo se foi empurrando a si próprio", declarou.

MÍSSEIS DO REAGAN E PODRIDÃO DOS ESTÁDIOS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O MPLA venceu as eleições de Agosto passado com 51,7 por cento dos votos, tendo elegido 124 deputados. O seu cabeça de lista foi eleito Presidente da República. A UNITA registou 44,5 por cento elegendo 90 deputados sendo o seu cabeça de lista mais um. Ninguém da direcção do Galo Negro anda a dizer, por tudo e por nada, que graças a Adalberto, os rios em Angola têm água e os desertos areia.

O PRS conseguiu 1,3 por cento dos votos e ninguém do partido anda por aí a dizer que o seu cabeça de lista conseguiu colocar as nuvens no céu e as árvores na terra. A FNLA teve 1,05 por cento dos votos e ninguém do partido diz, de manhã à noite, que graças ao seu cabeça de lista, Banza Congo está na província do Zaire, porque ele impediu que a cidade migrasse para o Cunene. O Partido Humanitário averbou 1,01 por cento. Os seus dirigentes, militantes e apoiantes não andam por aí garantindo que a sua cabeça de lista inventou os grupos Carrinho e Mitrelli.

Os cabeças de lista dos partidos que não ganharam as eleições são deputados como os outros. O cabeça de lista do partido vencedor é Presidente da República, Por isso tem mais responsabilidades do que os outros. Tem de trabalhar mais do que os outros. É mais escrutinado do que os outros. Os eleitores cobram mais dele do que de todos os outros, de todos partidos.

O Presidente João Lourenço deve o cargo ao MPLA porque os militantes e dirigentes o guindaram a cabeça de lista. Foi confirmado por uma maioria eleitoral que, infelizmente, está longe de representar uma maioria social. Quando oiço dirigentes do partido e membros do Executivo atribuírem ao cabeça de lista eleito todas as virtudes e todas as distribuições de migalhas fico siderado e pergunto-me: Quem está a esvaziar o MPLA? Com que objectivo? Ao serviço de quem? 

Ando há cinco anos procurando respostas. A idade não perdoa e confesso que até à fatídica viagem do Presidente João Lourenço a Washington nada concluí digno de nota. A entrevista que sua excelência concedeu à rádio da CIA deu para responder a tudo. Por isso, hoje posso dizer, de peito aberto às balas, que graças ao Presidente João Lourenço, Angola está de cócoras perante o estado terrorista mais perigoso do mundo. 

A Casa Branca, seja qual for o inquilino, já tem mais um vassalo atento, venerando e obrigado, até às próximas eleições. Felizmente, em democracia tudo pode ser revertido. Os cargos políticos não são perpétuos e resultam de maiorias eleitorais tenham ou não equivalentes maiorias políticas.

O NOVO LARGO DO PELOURINHO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A coisa está a correr pelo melhor. A patroa do FMI anunciou que as superpotências ocidentais vão entrar em recessão este ano. Os países da União Europeia vão de mal a pior. Portugal já conta com quase cinco milhões de pobres, apesar dos apoios sociais. É metade da população! Os ricos do sistema estão cada vez mais ricos, como mandam as leis do capitalismo que mata, assim qualificado pelo Papa Francisco.

A Chevron mandou dois petroleiros gigantes à Venezuela para carregarem o crude que falta no mundo ocidental, desde que a Federação Russa fechou a torneira. Por coincidência, a “oposição” venezuelana despediu o Juan Guaidó, uma espécie de Zelensky mas com menos jeito para a comédia. 

Os fundos roubados ao país vão ser devolvidos. O Presidente Maduro foi declarado democrata, o que não tem qualquer valor. Os nazis da Ucrânia também são apontados como democratas defensores da civilização ocidental e ainda agora o governo de Kiev rendeu homenagem a um nazi que colaborou com o regime de Hitler.

Os grandes defensores dos valores do ocidente na Ucrânia são o partido Svoboda (Liberdade) as milícias Pravyi Sektor (Setor Direita) e o Batalhão Azov. O herói desta tropa de choque é Stépan Bandera que durante a II Guerra Mundial lutou ao lado de Hitler. Tudo boa gente.

Os Media ocidentais exultam porque a Ucrânia atacou um quartel de tropas russas e causou numerosas baixas. Eu tremi. Porque de Moscovo chegou uma interpretação do acontecimento que devia fazer soar todos os alarmes. Diz o alto comando da Federação Russa que o ataque foi feito com armas de destruição maciça dos EUA e os disparadores da metralha foram norte-americanos. 

Os disparos foram feitos em solo ucraniano. E agora? Se Moscovo seguir as regras habituais, também vai atacar um quartel dos disparadores e matar militares norte-americanos. Isto vai acabar muito mal.

ODEBRECHT, UMA "PEDRA NO SAPATO" ENTRE MOÇAMBIQUE E BRASIL

Na tomada de posse, o atual Presidente brasileiro sinalizou a pretensão de reatar as relações bilaterais com África. Moçambique está no radar de Lula da Silva. Mas o que nos diz o histórico político entre os dois países?

Entre 2003-2010, na área da cooperação internacional para o desenvolvimento, Moçambique foi o principal destino dos investimentos brasileiros, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores do Brasil de 2010.

Indústria extrativa, construção civil, agricultura e saúde foram as principais apostas do consulado de Lula naquela época. O especialista em Relações Internacionais Enio Chingotuane analisa que "foi num período de boom dos recursos naturais das chamadas commodities internacionais e a economia internacional estava também em alta”.

Para Chingotuane, o Brasil conseguiu assim "somar ganhos comparados a outros anos”.

O especialista em relações internacionais alerta que em contra-mão para o 'sonho de Lula' também está a crise económica internacional. "Também o Brasil está a passar por vários desafios enconómicos. Daí que, pensar em altos voos para se lançar ao mundo, tenho dúvidas", acrescenta Chingotuane.

IDA DE JOÃO LOURENÇO AO BRASIL MARCADA POR AGRESSÕES

Pelo menos duas pessoas foram agredidas por uma figura da delegação que acompanhou o Presidente João Lourenço à tomada de posse de Lula da Silva no Brasil. Polícia registou o caso, mas Presidência angolana não comenta.

visita de João Lourenço ao Brasil para assistir à tomada de posse do novo Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, não correu nada bem.

O encontro previsto entre os Chefes de Estado angolano e brasileiro foi cancelado, tendo João Lourenço tido apenas um curto telefonema com Lula da Silva já depois de regressar a Luanda. Acresce que em termos protocolares também houve diversos problemas em Brasília, incluindo uma cena de pancadaria entre o chefe adjunto da Unidade de Segurança Presidencial de João Lourenço, o brigadeiro Santos Manuel Nobre, e um grupo de jovens angolanos, residentes no Brasil, que se queriam manifestar contra o Chefe de Estado em frente ao hotel onde este estava alojado.

Na sequência das agressões contra os manifestantes, o brigadeiro Santos Manuel Nobre, conhecido por "Barba Branca", terá sido levado para um posto de polícia. Imagens da cena de pancadaria em frente ao hotel circulam nas redes sociais e estão a provocar grande polémica entre os cibernautas em Angola e fora deste país africano.

A DW África falou com um dos agredidos, o jovem empresário Jota Privado, dono de uma empresa de produção audio-visual em Brasília.

DW África: Como é que Jota Privado descreveria o incidente em frente ao hotel onde se encontrava hospedado o Presidente angolano?

Jota Privado (JP): Foi um dia de bastante terror na minha vida. Foi um dia triste e lamentável e de bastante terror e medo, porque eu quase perdi a minha vida ao ser agredido pelos seguranças da Presidência da República.

DW África: O que aconteceu?

JP: Nós, angolanos, temos o direito que a Constituição nos dá de nos manifestarmos e de nos reunirmos contra a governação e contra as atrocidades que o Governo do João Lourenço tem feito, nomeadamente a prisão de Luther King, Zeca Mutema, entre outros. Nós saímos para nos irmos manifestarmos, como qualquer cidadão, como a Constituição nos permite, e a Constituição brasileira também, porque nós estamos en solo brasileiro.

DW África: Quantos angolanos se queriam manifestar?

JP: Éramos 3. O nosso objetivo era manifestar-nos. Fomos à procura de onde [o Presidente da República de Angola] estava hospedado. Encontrámos no restaurante seguranças do Presidente da República e encontrámos o hotel onde ele estava hospedado. Não chegámos a ir lá por conta das agressões.

DW África: Foram agredidos concretamente por quem?

JP: De princípio, a agressão começou por parte do brigadeiro Santos Manuel Nobre, denominado 'Barba Branca'. Eu não o conhecia, nem nunca o tinha visto. Foi ao senhor na delegacia, quando ele estava algemado pela polícia, que ele começou a falar que era general.

A DW África tentou obter uma reação por parte da Presidência da República de Angola, mas não obteve qualquer resposta.

António Cascais | Deutsche Welle

ZECA BAILUNDO E AS ROSAS EM BOTÃO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os amigos chamavam-lhe Zeca Bailundo. No mundo das artes plásticas é conhecido como José Rodrigues, escultor e desenhador. Um angolano prodigioso, de Luanda, que ganhou a alcunha porque seu pai era dono de uma serração e uma padaria chamadas “Bailundo”, na Estrada da Cuca. O guarda-livros das organizações comerciais do Velho Rodrigues era o poeta António Jacinto.

O Zeca Bailundo partiu sem que lhe pagasse uma extensíssima dívida que comecei a fazer quando me levou à Sé de Luanda (Igreja de Nossa Senhora dos Remédios) onde ia desenhar a santa que lhe salvou a vida por via de um milagre, quando era bebé. Ele ficava sentado num banco corrido olhando para as imagens daquela santaria toda e desenhava. Eu andava por ali, contemplando a luz coada pelos vitrais, em vários ângulos. Nunca mais apreciei tão belo espectáculo mas também é verdade que cortei relações perpetuamente com o dono da casa.

A vida dá muitas voltas, umas suaves outras tão violentas que nos fazem andar aos trambolhões. Quando fui trabalhar para o Porto e reencontrei Zeca Bailundo. Era um respeitado professor da Escola de Belas Artes, dinamizador da Cooperativa Árvore e tinha acabado de ganhar um prémio de escultura na Bienal de Veneza. Retomámos a amizade. Um dia propôs-me um projecto muito interessante. Percorrermos os caminhos da nossa infância, desde o Golungo Alto ao paraíso da Mamã Cagalhoça, no Bairro Operário.

Ele fazia desenhos e eu escrevia crónicas no final de cada etapa. António Jacinto tratava da publicação da obra e propôs que o produto da sua venda revertesse para um fundo de apoio a jovens artistas e escritores. Eu disse ao Zeca que preferia receber a massa e depois irmos os dois para Las Vegas derreter tudo na roleta. Fazíamos amizade com duas meninas simpáticas e amantes da noite. (Oiçam bem! As mulheres que amam as horas nocturnas não as estragam. Porque morrem entre o amanhecer e o meio-dia). Uma menina seria negra e a outra ruiva. A negra apostava no vermelho e a ruiva no preto.

Um festim de jogo e seus derivados viciosos.

António Jacinto não gostou dos meus devaneios viciosos e o Zeca resolveu logo a maka.

O VOO PLANADO DE UM DESCRENTE – Artur Queiroz


Artur Queiroz*, Luanda

No meu tempo da Rádio fui colega de um filho do Bairro Operário, Elísio de Oliveira, que começava a dar os primeiros passos na profissão sendo hoje um perito no audiovisual. De vez em quando falamos desses tempos e recordamos antigas e antigos colegas. Trocamos novidades. Ontem, último dia de 2022, ele presenteou-me com uma notícia maravilhosa. O general Borja (Novato) publicou um livro sobre o “BO” na óptica das suas famílias tradicionais. 

Vivi em vários quartos alugados no Bairro Operário mas sem família, portanto, não consto do livro que vou ler avidamente quando me chegar às mãos. Mas consta seguramente a família Praça. O Mais Velho era camionista e depois de muito trabalho construiu uma frota de camionagem tão importante como a do Portugal das Camionetas. Seus filhos nasceram no nosso “BO”. Um deles foi meu colega e com ele vivi um episódio de arrepiar.

O Praça e mais alguns jovens do meu tempo fizeram um “curso de cristandade” e de lá saíram activistas da causa  de Jesus Cristo. Nessa actividade convidou-me para ir também a um curso. E eu recusei o convite com delicadeza porque é assim que devemos tratar os amigos. O Praça insistia e eu recusava. Um dia ele foi tirar o “brevet” no Aero Clube de Angola. Logo nos primeiros dias foi eleito o melhor aluno. Fez exame e aprovou. Partiu imediatamente para o “brevet comercial”. Andava ele acumulando horas de voo quando me convidou para um passeio aéreo. Aceitei de bom grado.

O Praça, para me mostrar que sem a fé em deus ninguém vale nada, fingiu que tinha dificuldades em manobrar a avioneta, ainda que o céu estivesse limpo de nuvens. Fiquei atrapalhadíssimo porque nunca gostei de entrar em aviões, pequeninos, médios ou grandes. Lá em cima não há oficinas e numa queda de não sei quantos pés de altitude, nem os ossinhos dos dedos ficam incólumes. O Praça, quando viu a minha atrapalhação disse calmamente:

- Calma, ainda não estás a viver os últimos momentos da tua vida! Mas se estivesses, só Deus podia salvar-te. Se eu morrer num acidente vou para a vida eterna no Céu. Tu ficas esmagado e acabas para sempre logo ali. 

O que dizer naquele momento? O que disse: 

- Que se lixe. A melhor maneira de morrer é a voar! Ele riu-se e explicou que íamos dar mais uma volta e depois aterrar com toda a segurança. Isto não se faz. Porque apanhei um susto tão grande que os pelos púbicos ficaram todos eriçados e ainda hoje parecem os enfeites de um porco-espinho. Mas não, na hora da hipotética morte não me converti.

VIAGEM DOS CARICOCOS AOS CHARUTOS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Espantosamente, estou a poucas horas do novo ano. Nem sei como resisti mas a prova de vida é que escrevo. Nada de especial ou mereça uma comemoração. Mas a vida deve ser celebrada, nem que seja com palavras escritas. No final deste ano convoco as pessoas que fizeram parte dos meus sonhos e ninguém responde. Todas e todos partiram. Ficou a memória viva, por vezes esbatida.

A comunidade do Palácio da Cuca abandonou-me. Todas e todos partiram. Primeiro o comandante Leopoldo. Depois foi a debandada: Bob, D. Diogo Dá Mesquita, Ernesto Lara Filho, Álvaro Novais (Caixinha de Fósforos), Joca Luandense, Mamã Guinhas (Maria Augusta), Pedro Jara de Carvalho e finalmente a nossa menina, Dionísia, filha biológica da Guinhas e do Pedro. A princesinha de todos nós que, como Dinamene, cedo partiu, desta vida descontente.

O nosso palácio era um cubico onde dormia o casal e a menina. Nós, os passantes, dormíamos em luandos, no quintalão, embrulhados num kambrikito, resguardados por uma acácia que no tempo da floração atapetava o chão de pétalas rubras. No tempo das vacas gordas escrevíamos para várias publicações, diárias, semanais e que saíam quando calhava. O Joca Luandense recebia da Tribuna dos Musseques, o Ernesto Lara Filho da revista “Notícia” e eu dos originais que vendia ao velho Maciel. De vez em quando facturava uma crónica que a censura deixava passar incólume.

Um dia estava nas lonas e fui à Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra cravar 20 paus ao médico Eduardo Baptista, um santo com figura de gente. Encontrei lá o seu colega Carlos Mac-Mahon, meu amigo do peito, pendurado num charuto que largava um fumo perfumado. Recebi o empréstimo e fui logo à tabacaria da Versailles comprar um charuto, eu que só fumava jucas e caricocos, comprados a cinco tostões o montinho de dez cigarros. Saltei logo para um H. Upmann, criado com uma selecção de finíssimos tabacos cubanos. 

Cheguei ao palácio e antes de entrar no quintalão acendi o charuto. Pensava que ia ser admirado, apoiado, olhado como um vitorioso da vida. Puro engano de alma. Fui xingado com todas as palavras desagradáveis e condenado a ir comprar fiado um cartucho de arroz à loja do Mókotó, que nos tinha cortado o crédito por incumprimento abusivo e reiterado. 

Sempre fui um homem de sorte. Entrei na loja e a esposa do comerciante, uma senhora que conseguiu a quadratura do círculo porque era quadrada e redonda ao mesmo tempo, torceu o nariz ao fumo do charuto. Para impressionar o Mókótó soltei uma grande baforada para o seu rosto, antes de pedir fiado o cartucho do arroz. E ele, em vez de se esvair na volúpia do fumo, protestou: 

- Kitó, não me atires com essa merda à cara! 

Gente sem categoria. Entrei a matar: 

- Preciso de um quilo de arroz, pago amanhã. E o Mókótó, para me ver pelas costas, pesou o produto e despachou-me.

A Cúpula do Sul Global da Índia é o evento multilateral mais importante em décadas

Andrew Korybko* | Substack | # Traduzido em português do Brasil

A reunião de tantos países para fins apolíticos e geoeconômicos prova que a grande maioria da humanidade deseja um desenvolvimento mutuamente benéfico que una o mundo, em vez de mais competição geopolítica que apenas o separará. 

A Índia anunciou na sexta-feira que sediará virtualmente a Cúpula da Voz do Sul Global de 12 a 13 de janeiro, que se alinha com a visão ambiciosa do primeiro-ministro Modi de que seu país lidere o mundo em desenvolvimento em meio à transição sistêmica global para a multiplexidade que acelerou sem precedentes ano passado. Mais de 120 estados estão convidados a participar das dez sessões que discutirão maneiras de esta categoria de países unir seus esforços coletivamente em busca do objetivo comum de melhorar a vida de seus povos.

Espera-se que as consequências persistentes da pandemia do COVID-19, as emergentes relacionadas às mudanças climáticas, as dificuldades contínuas no serviço da dívida e as crises interconectadas de alimentos e combustíveis catalisadas pelas sanções anti-russas do Ocidente apareçam com destaque na agenda. Como o maior país em desenvolvimento do mundo e presidente do G20 deste ano, a Índia está em uma posição única para dar voz global às preocupações de seus pares e garantir que ações tangíveis sejam tomadas para lidar com seus desafios compartilhados.

Além disso, merece ser mencionado que a neutralidade de princípios da Índia já colheu o grande dividendo estratégico de torná-la a líder na Nova Guerra Fria entre o Bilhão de Ouro do Ocidente liderado pelos EUA e o Sul Global liderado conjuntamente pelos BRICS SCO , do qual é separado. O caminho pragmático iniciado pela Índia em manter um pé em cada bloco de fato sem fazê-lo às custas do outro é digno de ser imitado por seus pares, pois é a melhor maneira de maximizar sua soberania durante esses tempos caóticos.

Ao praticar sua própria forma de multialinhamento, todo o Sul Global pode se unir como um terceiro polo de influência para romper o impasse bimultipolar das Relações Internacionais caracterizado pela influência desproporcional do duopólio de superpotências sino-americanas . Ao contrário da Antiga Guerra Fria, quando o Movimento dos Não-Alinhados era orientado geopoliticamente, o novo Movimento Não-Alinhado informal (“Neo-NAM”) que a Índia aspira reunir é orientado geoeconomicamente e completamente apolítico.

A famosa declaração do primeiro-ministro Modi no final do ano passado de que “a era de hoje não é uma era de guerra” pode servir para inspirar o Sul Global a se unir em busca do desenvolvimento pacífico descartando divisões políticas em favor de parcerias econômicas mutuamente benéficas com todos. As estrelas se alinharam proverbialmente a favor da Índia no ano passado devido à grande eficácia estratégica de sua neutralidade de princípios mencionada anteriormente e à nova presidência do G20 para dar a ela esse papel único .

Somente a Índia tem credibilidade como um estado em desenvolvimento verdadeiramente neutro e genuíno para reunir esta categoria de países neste ponto histórico da história humana para a tripolaridade de parteira antes da inevitável forma final da transição sistêmica global de multipolaridade complexa (“multiplexidade”). Este resultado é do interesse de todos eles, pois tornará as Relações Internacionais mais democráticas, igualitárias, justas e previsíveis, ajudando assim a neutralizar o caos desencadeado pela complicada sequência de eventos do ano passado .

Este grande contexto estratégico significa que a Cúpula do Sul Global da Índia é o evento multilateral mais importante em décadas, uma vez que é a melhor esperança para a humanidade fazer um progresso positivo diante de tantos desenvolvimentos negativos nos últimos tempos. A reunião de tantos países para fins apolíticos e geoeconômicos prova que a grande maioria da humanidade deseja um desenvolvimento mutuamente benéfico que una o mundo, em vez de mais competição geopolítica que apenas o separará.  

*Andrew Korybko -- Analista político americano especializado na transição sistêmica global para a multipolaridade

MINISTRO DA DEFESA DA UCRÂNIA ADMITIU QUE É UM PROXY DA OTAN

A Ucrânia humilhou os propagandistas ocidentais depois que seu ministro da Defesa admitiu que é um proxy da OTAN

Andrew Korybko* | Substack | # Traduzido em português do Brasil

A descrição do ministro da Defesa, Alexei Reznikov, da relação Ucrânia-OTAN se alinha perfeitamente com a definição de proxy do Merriam-Webster. Seu site oficial informa aos leitores que “um procurador pode se referir a uma pessoa que está autorizada a agir em nome de outra ou pode designar a função ou autoridade de servir em nome de outra pessoa”. A dinâmica militar-estratégica objetivamente existente do conflito ucraniano, juntamente com a admissão sincera de Reznikov, portanto, não deixa dúvidas sobre o fato de que a Ucrânia é um representante da OTAN por definição.

Nos últimos 10,5 meses, a mídia ocidental liderada pelos Estados Unidos (MSM) insistiu que o presidente Putin é supostamente insano por considerar a Ucrânia um representante da OTAN, cujos laços militares estreitos com aquele bloco explicitamente anti-russo representam uma séria ameaça à nação de seu país. linhas vermelhas de segurança. Seus gerentes de percepção posteriormente expandiram sua operação de gaslighting para desacreditar a operação especial da Rússia com base falsa de que ela é impulsionada pelo chamado “imperialismo” e não pela autodefesa.

Cada um dos inúmeros produtos de guerra de informação que eles criaram desde então foi exposto como fraudulento por ninguém menos que o ministro da Defesa ucraniano, Alexei Reznikov, que admitiu durante uma aparição na TV nacional na quinta-feira que seu país é de fato um representante da OTAN. Em suas próprias palavras, “Hoje, a Ucrânia está enfrentando [a] ameaça (da Rússia). Estamos cumprindo a missão da OTAN hoje, sem derramar seu sangue. Nós derramamos nosso sangue, então esperamos que eles forneçam armas.”

A descrição de Reznikov da relação Ucrânia-OTAN alinha-se perfeitamente com a definição de proxy de Merriam-Webster. Seu site oficial informa aos leitores que “um procurador pode se referir a uma pessoa que está autorizada a agir em nome de outra ou pode designar a função ou autoridade de servir em nome de outra pessoa”. A dinâmica militar-estratégica objetivamente existente do conflito ucraniano , juntamente com a admissão sincera de Reznikov, portanto, não deixa dúvidas sobre o fato de que a Ucrânia é um representante da OTAN por definição.

Este alto funcionário provavelmente não pretendia desacreditar a “narrativa oficial” de seus patronos por redistribuir aproximadamente US$ 100 bilhões de sua riqueza fornecida pelos contribuintes para a Ucrânia e assim justificar tudo o que o presidente Putin disse sobre por que ele iniciou a operação especial da Rússia. O que parece ter acontecido é que Reznikov perdeu a calma depois de ficar frustrado com o fato de a OTAN não estar dando a Kiev todas as armas que exige, por isso ele abriu o bico na tentativa de pressioná-los.

Kiev despreza a trégua de Natal… sem paz ou boa vontade da OTAN e seu Frankenstein

Strategic Culture Foundation | editorial | # Traduzido em português do Brasil

Os Estados Unidos da América e seus aliados da OTAN não querem nenhuma chance de diplomacia e paz.

A trégua unilateral da Rússia para o Natal ortodoxo neste fim de semana foi rejeitada como “propaganda cínica” pelos Estados Unidos, União Européia, OTAN e o regime neonazista em Kiev que eles apóiam. Quem são os verdadeiros cínicos aqui?

Enquanto Moscou declarou na quinta-feira acordos para uma trégua temporária no conflito, os EUA e seus aliados da Otan anunciaram no mesmo dia planos para uma nova escalada com o novo fornecimento de tanques e mais mísseis ao regime de Kiev.

Relatórios de sexta-feira também indicam que o lado ucraniano continua a bombardear o território de Donbass com artilharia fornecida pelo Ocidente, apesar do cessar-fogo observado pelas forças russas.

Washington e Berlim assinaram um acordo para fornecer tanques leves à Ucrânia, bem como outra bateria de mísseis Patriot fabricados nos Estados Unidos. Isso se seguiu ao anúncio da França de enviar veículos blindados AMX-10 RC, a primeira vez que as potências ocidentais se comprometeram com a transferência de tal arsenal. Depois de meses de retórica sobre “contenção” e “evitar a Terceira Guerra Mundial”, há sinais graves de que o bloco da OTAN está se envolvendo mais diretamente como parte da guerra. O fornecimento de veículos de combate prenuncia a coordenação da infantaria mecanizada pelos EUA e seus parceiros da OTAN. O alinhamento está indo além de uma guerra por procuração para um confronto direto com a Rússia.

Alguém poderia pensar que um dia de paz comemorando a Natividade de Cristo certamente deveria ser respeitado por todos os lados. Após quase 11 meses de bombardeios constantes, um dia de silêncio pode ser considerado um gesto de boa vontade. Não é assim para o regime de Kiev apoiado pela OTAN, que se mostrou mais do que nunca uma criação do Monstro de Frankenstein.

A CHINA PODE AJUDAR O BRASIL A REINICIAR SEU SOFT POWER GLOBAL?

Bolsonaro reduziu o Brasil à condição de exportador de recursos; agora Lula deve seguir o exemplo da Argentina no Cinturão e Rota

Pepe Escobar* | Asia Times | opinião | # Traduzido em português do Brasil

Dez dias de imersão total no Brasil não são para os fracos. Mesmo restrito às duas principais megalópoles, São Paulo e Rio, assistir ao vivo o impacto das crises econômicas, políticas, sociais e ambientais interligadas exacerbadas pelo projeto Jair Bolsonaro deixa qualquer um atordoado.

A volta de Luiz Inácio Lula da Silva para aquele que será seu terceiro mandato presidencial, a partir de 1º de janeiro de 2023, é uma história extraordinária perpassada por tarefas de Sísifo. Ao mesmo tempo, ele terá que

- combater a pobreza;

- reconectar com o desenvolvimento econômico enquanto redistribui a riqueza;

- re-industrializar a nação; e

- domesticar a pilhagem ambiental.

Isso forçará seu novo governo a convocar poderes criativos imprevistos de persuasão política e financeira.

Mesmo um político medíocre e conservador como Geraldo Alckmin, ex-governador do estado mais rico da união, São Paulo, e coordenador da transição presidencial, ficou simplesmente atônito ao ver como quatro anos do projeto Bolsonaro deixaram escapar uma cornucópia de documentos desaparecidos, um buraco negro envolvendo todos os tipos de dados e perdas financeiras inexplicáveis.

É impossível determinar a extensão da corrupção em todo o espectro porque simplesmente nada está nos livros: os sistemas governamentais não são alimentados desde 2020.

Alckmin resumiu tudo: “O governo Bolsonaro aconteceu na Idade da Pedra, onde não havia palavras e números”.

Agora toda política pública terá que ser criada, ou recriada do zero, e erros graves serão inevitáveis ​​por falta de dados.

E não estamos falando de uma república das bananas – embora o país em questão tenha muitas (deliciosas) bananas.

Pela paridade do poder de compra (PPP), segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil continua sendo a oitava potência econômica do mundo mesmo após os anos de devastação de Bolsonaro – atrás de China, Estados Unidos, Índia, Japão, Alemanha, Rússia e Indonésia e à frente do Reino Unido e da França.

Uma campanha imperial coordenada desde 2010, devidamente denunciada pelo WikiLeaks e implementada pelas elites compradoras locais, teve como alvo a presidência de Dilma Rousseff – a campeã nacional do empreendedorismo brasileiro – e levou ao impeachment (ilegal) de Rousseff e à prisão de Lula por 580 dias sob acusações espúrias (todos posteriormente descartados), abriram caminho para que Bolsonaro ganhasse a presidência em 2018.

Não fosse esse acúmulo de desastres, o Brasil – um líder natural do Sul Global – já poderia ser colocado como a quinta maior potência geoeconômica do mundo.

AUSTRÁLIA APONTARÁ O HIMARS DOS EUA CONTRA A CHINA

O acordo de compra faz parte de uma estratégia mais ampla liderada pelos EUA de construir uma 'parede de mísseis' para impedir a expansão da China no Pacífico

Gabriel Honrada | Asia Times | # Traduzido em português do Brasil

A Austrália continua a estocar mísseis de longo alcance em busca de uma dissuasão estratégica independente em meio à deterioração das relações com a China e às crescentes ameaças.

Esta semana, a ABC News informou que a Austrália havia finalizado a compra de 20 Sistemas de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade (HIMARS) dos EUA a serem entregues ao Exército Australiano até 2026, enquanto assinava um contrato de compra separado para os Mísseis de Ataque Naval Norueguês (NSM) para substituir o antigo Harpoon mísseis em seus contratorpedeiros da classe Hobart e fragatas da classe Anzac em 2024.

A fonte observa que os custos reais são secretos devido a questões de segurança, mas, de acordo com relatórios, acredita-se que estejam entre US$ 1-2 bilhões.

De acordo com o Ministro da Indústria de Defesa da Austrália, Pat Conroy, o HIMARS dará ao Exército Australiano uma capacidade de ataque de longo alcance sem precedentes contra alvos a 300 quilômetros de distância. A Austrália faz parte de um programa conjunto com os EUA para desenvolver um míssil de precisão que pode atingir alvos a mais de 499 quilômetros de distância.

Em termos de melhorar as capacidades dos navios de guerra da Austrália, a CNN informou esta semana que o manobrável NSM dobraria o alcance dos navios de guerra da Austrália para 185 quilômetros.

A CNN também observa que a Austrália poderia implantar o HIMARS no sudeste da Ásia ou no Pacífico, como o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA tem exercitado com o sistema sob a presunção de que pode precisar ser implantado em algum lugar da região em caso de hostilidades, incluindo um possível conflito sobre Taiwan ou no Mar da China Meridional.

Como a riqueza crescente da China testa a racionalidade das elites dos EUA e Ocidente

Global Times | Opinião | # Traduzido em português do Brasil

Os EUA e o Ocidente sempre tiveram uma atitude condescendente em relação ao resto do mundo, incluindo a China, ansiosos para que uma China rica e poderosa coloque em risco a ordem liderada pelo Ocidente. Sua ilusão de que a China pode gerar lucros consideráveis ​​para os países ocidentais sem defender seus próprios direitos e interesses é pura ilusão.

O Financial Times publicou na segunda-feira um artigo escrito por Gideon Rachman, o principal comentarista de relações exteriores da mídia, intitulado "Parar o crescimento da China não pode ser uma meta para o Ocidente", que despertou grande atenção. 

Concluiu que "é crucial para os EUA e a UE deixar claro - para si mesmos e para os outros - que seu objetivo não é impedir que a China se torne mais rica. É evitar que a crescente riqueza da China seja usada para ameaçar seus vizinhos ou intimidar seus parceiros comerciais".

O ponto parece sensato, mas ainda é falho, pois assume que os EUA e a UE têm a base moral para julgar como a China usa sua crescente riqueza. O Ocidente é capaz e qualificado para impedir que a China se torne mais rica? Este artigo incorpora a mentalidade distorcida do Ocidente em relação à China. Como os EUA e alguns países ocidentais rotularam Pequim como seu oponente estratégico ou mesmo uma "ameaça", eles desejam que algo negativo, de preferência um colapso, aconteça à China com uma mentalidade vangloriosa, como uma recessão econômica ou infecções violentas por COVID-19. . Mas enquanto isso, desde que o mundo se tornou uma aldeia global, devido ao vasto tamanho da China, o Ocidente teme que a possível desaceleração econômica da China os arraste para baixo.

Falando objetivamente, mesmo do ponto de vista do Ocidente, é necessária uma China próspera. No contexto da globalização, como escreveu Rachman, "se você deseja que a China entre em recessão, está bem perto de querer que o mundo também entre em recessão". Se a China tiver problemas, o mundo não escapará. Este é um resultado inevitável.

Infelizmente, porém, alguns políticos e elites ocidentais não conseguem ver a China de forma racional e objetiva. Assuntos como economia e epidemia devem ser politizados, armados e ideológicos. Tal mentalidade é doentia.

O Ocidente está bastante confuso em como lidar com a China. Na opinião deles, a prosperidade da China é dada pelo Ocidente, enquanto com a ascensão da China, o Ocidente acredita que uma China rica representa um desafio para eles em termos de cultura estratégica e disposição da ordem global.

Por um lado, o Ocidente se beneficiou da reciprocidade econômica com a China. Por outro lado, algumas elites ocidentais estão ansiosas para que a China não siga o bastão do Ocidente. Para os EUA, suas considerações estratégicas na política da China são esmagadoras, e todos esses fatores, como economia, intercâmbios entre pessoas e epidemia, são colocados em sua competição estratégica geral com Pequim. 

Esta é a maneira das elites americanas lidarem com questões relacionadas à China, mas não necessariamente a maneira de outros países ocidentais. O Ocidente caiu em tal situação em relação à China: reluta em ver a recessão da economia chinesa como algo que prejudicaria a deles; enquanto isso, eles não estão dispostos a ver a estratégia da China enfraquecer a posição dominante do Ocidente na ordem internacional atual. Esse dilema sempre atormentou a elite ocidental.

A China é um país cuja história, tradição e cultura diferem completamente das ocidentais. A China não tem intenção de ameaçar nenhum país, nem de buscar a hegemonia regional e global. A China está disposta a conduzir intercâmbios amigáveis ​​e dialogar com outros países em pé de igualdade. Mas, aparentemente, o Ocidente não quer ver uma China que possa estar em pé de igualdade com o Ocidente. 

O artigo de opinião de Rachman também demonstra que "a única linguagem que os EUA e os países europeus podem entender são interesses e poder reais que não podem ser distorcidos ou mal interpretados de outras maneiras. Portanto, a principal prioridade da China é desenvolver sua economia e aumentar sua força real ”, disse Shen Yi, professor da Universidade Fudan.

O desafio que o Ocidente enfrenta é como se comunicar com a China em pé de igualdade, em vez de forçar a China a obedecer às regras estabelecidas pelo Ocidente. O Ocidente deveria ajustar seriamente sua mentalidade a esse respeito.

Ilustração: Chen Xia/GT em Global Times

Após Bush, Obama e Biden, restaurar a liberdade de expressão no Ocidente

A Aliança Atlântica coordena a sua propaganda de guerra tal como mostraram as mentiras de George Bush Jr e de Tony Blair relativas ao Iraque

Thierry Meyssan*

Os Presidentes republicano George Bush Jr, e democratas Barack Obama e Joe Biden destruíram a liberdade de expressão no Ocidente. Os três conseguiram tornar os principais média em apoios à sua ideologia comum. Em duas décadas, a imprensa fechou os olhos a tudo aquilo que contradiz os discursos oficiais de Washington e converteu-se aos seus disparates. O jacksoniano Donald Trump fez do restabelecimento da liberdade de expressão o eixo da sua campanha de 2024. De momento, ele é o único candidato a posicionar-se assim.

candidato Donald Trump pronunciou, na quinta-feira, 15 de Dezembro de 2022, o seu primeiro discurso eleitoral. Ele designou como prioridade o restabelecimento da liberdade de expressão nos Estados Unidos quando as revelações de Elon Musk (Twitter Files) e as da America First Legal Foundation atestam que toda informação é manipulada.

Pode-se pensar o que se quiser do Sr. Trump, tanto mais que ele tem sido alvo de uma campanha mundial de difamação desde a sua eleição em 2016, a qual nos impede de avaliar correctamente a sua acção, mas é forçoso constatar que, desde o 11 de Setembro de 2001, ele tem feito as perguntas certas.

«Se não temos liberdade de expressão, então não temos um país livre. É tão simples como isso », declarou ele no início do seu vídeo. « Se este direito que é o mais fundamental perecer, então o resto de nossos direitos e liberdades desmoronará como um dominó. Um a um, irão desaparecer ».

Reiterou que era preciso distinguir - o direito das plataformas à imunidade de conteúdos se elas se contentarem em veicular-los sem tomar conhecimento deles,
 da sua responsabilidade se elas se permitirem anotá-los ou censurá-los. Neste segundo caso, elas devem incorrer em processos judiciais da mesma forma que os autores das mensagens que elas difundem.

«Nestas últimas semanas, relatórios explosivos confirmaram que um grupo sinistro de burocratas do Estado Profundo, tiranos de Silicon Valley, de activistas esquerdistas e médias (mídias-br) corporativos depravados conspiraram para manipular e silenciar o povo americano », declarou o Sr. Trump.

«Eles cooperaram para suprimir informações vitais sobre tudo, das eleições à saúde pública (…) o cartel da censura deve ser desmantelado e destruído e isso deve ocorrer imediatamente », prosseguiu.

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