sábado, 7 de janeiro de 2023

O NOVO LARGO DO PELOURINHO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A coisa está a correr pelo melhor. A patroa do FMI anunciou que as superpotências ocidentais vão entrar em recessão este ano. Os países da União Europeia vão de mal a pior. Portugal já conta com quase cinco milhões de pobres, apesar dos apoios sociais. É metade da população! Os ricos do sistema estão cada vez mais ricos, como mandam as leis do capitalismo que mata, assim qualificado pelo Papa Francisco.

A Chevron mandou dois petroleiros gigantes à Venezuela para carregarem o crude que falta no mundo ocidental, desde que a Federação Russa fechou a torneira. Por coincidência, a “oposição” venezuelana despediu o Juan Guaidó, uma espécie de Zelensky mas com menos jeito para a comédia. 

Os fundos roubados ao país vão ser devolvidos. O Presidente Maduro foi declarado democrata, o que não tem qualquer valor. Os nazis da Ucrânia também são apontados como democratas defensores da civilização ocidental e ainda agora o governo de Kiev rendeu homenagem a um nazi que colaborou com o regime de Hitler.

Os grandes defensores dos valores do ocidente na Ucrânia são o partido Svoboda (Liberdade) as milícias Pravyi Sektor (Setor Direita) e o Batalhão Azov. O herói desta tropa de choque é Stépan Bandera que durante a II Guerra Mundial lutou ao lado de Hitler. Tudo boa gente.

Os Media ocidentais exultam porque a Ucrânia atacou um quartel de tropas russas e causou numerosas baixas. Eu tremi. Porque de Moscovo chegou uma interpretação do acontecimento que devia fazer soar todos os alarmes. Diz o alto comando da Federação Russa que o ataque foi feito com armas de destruição maciça dos EUA e os disparadores da metralha foram norte-americanos. 

Os disparos foram feitos em solo ucraniano. E agora? Se Moscovo seguir as regras habituais, também vai atacar um quartel dos disparadores e matar militares norte-americanos. Isto vai acabar muito mal.

Neste quadro dantesco temos de olhar para nossa casa. O MPLA de Agostinho Neto ousou colocar-se acima dos blocos e aderiu ao Movimento dos Não Alinhados. A República Popular de Angola nasceu assim. Esta opção continuou até há pouco tempo. No final de 2022 começaram a ser públicos e notórios sinais de que esse não alinhamento acabou. Hoje já não existem dúvidas de que os dirigentes políticos no poder (MPLA) decidiram prestar vassalagem ao estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA).

A democracia angolana precisa de instituições fortes para criar raízes e fazer o seu caminho sem desvios que ponham em causa os direitos e liberdades individuais. Mas os regimes democráticos são permanentemente postos à prova por forças contrárias, muitas vezes disfarçadas em discursos pretensamente democráticos, populismo e demagogia. 

Os democratas sabem que o edifício democrático está em permanente construção e é preciso responder aos ataques às liberdades com mais responsabilidade, mais educação e sobretudo mais tolerância. Um sistema político que vive permanentemente com forças adversas que desejam aniquilá-lo, precisa de políticos esclarecidos mas também disponíveis para darem tudo pelo Estado de Direito e Democrático.

Por muito que custe aos protagonistas das políticas actuais, o combate à corrupção foi feito muito à custa da imolação do Estado de Direito, As suspeitas sobre altas figuras do Poder Judicial são mais do que muitas. 

A separação de poderes foi encaixotada e os caixotes devem estar guardados nas caves húmidas do Palácio da Cidade Alta. Não tarda, são devorados pela salalé e nada mais resta. Fica apenas essa coisa inenarrável que foi dar dez por cento dos fundos “recuperados” e dos confiscos aos magistrados judiciais e agentes do Ministério Público. 

Os esclavagistas leiloavam os escravos ali no Largo do Pelourinho. Hoje há um leilão dos confiscáveis no Palácio da Cidade Alta e suas dependências. Se a moda pega, daqui a cinco anos os novos detentores do poder vão fazer o mesmo aos actuais leiloeiros. 

E assim vamos indo, de cinco em cinco anos, até só ficarem por confiscar as lavras de batata-doce e mandioca. E mesmo essas, à velocidade que vão transformando autoridades tradicionais em “reis”, também serão pasto de confiscos.

O confisco passa a ser uma espécie de imposto de cubata, imposto do cão, da filha e do molho para o conduto.

 O Estádio da Tundavala tem poucos anos e, infelizmente, pouco uso. Acaba de ser anunciado que vai ser restaurado porque atingiu um estado de degradação inquietante. Já tinha acontecido o mesmo com o Estádio Nacional 11 de Novembro. Manutenção? Isso é truque de marimbondo!

*Jornalista

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