quarta-feira, 27 de setembro de 2023

O delírio dos bilionários para a vida extraterrestre

Eles consultaram um dos maiores especialistas em internet não para tornar o mundo mais habitável – mas para fantasiar sobre como salvar sua pele do apocalipse que provocaram. Os devaneios: outro planeta, naves gigantes, bunkers de alto luxo…

Douglas Rushkoff em entrevista a Leticia Blanco, no La Opinión de Murcia, com tradução no IHU | em Outras Palavras | # Publicado em português do Brasil

Douglas Rushkoff é um dos maiores especialistas em internet. Em 2017, o pai do conceito de viralidade e um dos pensadores mais influentes sobre o impacto da tecnologia em nossas vidas foi convidado por cinco multimilionários (cujos nomes está proibido de revelar) para um retiro superluxuoso, no meio do deserto, para falar sobre “o futuro da tecnologia”.

Ao chegar, percebeu que a única preocupação desses homens tão poderosos era, literalmente, como salvar sua pele do apocalipse, o que eles chamavam de “o evento”. Colapso ambiental, explosão nuclear, um vírus imparável, sabotagem informática, guerra biológica… “Há anos, os bilionários se preparam para escapar do resto da humanidade, da turba enfurecida, de nós”, explica.

É disso que trata o ensaio La supervivencia de los más ricos (Capitão Swing), onde Rushkoff detalha as fantasias escapistas dos bilionários tecnológicos e sua mentalidade egoísta. Não é por acaso que Jeff Bezos deseja emigrar para o espaço, que Elon Musk quer colonizar Marte, que Peter Thiel (o fundador do Paypal) aspira a imortalidade, em seu bunker na Nova Zelândia, e que Sam Altman, o criador do ChatGPT, propôs carregar sua mente em um supercomputador. “Para eles, o futuro da tecnologia consiste em apenas uma coisa: escapar do resto de nós”, explica Rushkoff.

Portugal | A voz de uma irredutível liberdade

Daniel Oliveira* | TSF | opinião

No seu espaço habitual de opinião na antena da TSF, Daniel Oliveira comenta esta terça-feira a greve de 24 horas da rádio.

"A greve da última quarta-feira (20) que deixou a TSF sem voz, o seu site parado, as suas redes sem atualização, o Fórum de Manuel Acácio sem cidadãos a dizerem de sua justiça, e a rádio sem ir ao fim da rua e ao fim do mundo para nos dar notícias, exibiu o que deveríamos saber de cor: quem faz as empresas é quem as mantém a funcionar. São os trabalhadores que criam, com o seu trabalho, o seu próprio emprego. Sem vozes, sem notícias, sem jornalistas, sem técnicos, a TSF seria apenas três letras. Não existiria a telefonia sem fios, nem a publicidade que é paga, nem os empregos que ela cria.

Sabemos as razões da greve da TSF: um baixo aumento do salário proposto pela empresa, mas não cumprido, salários que chegaram atrasados, mudanças de diretores sem ser ouvido o Conselho de Redação, como a lei exige, questão que depois da greve parece estar a ser resolvida - os mínimos da lei que hoje são mesmo mínimos na frágil defesa da independência editorial dos órgãos de comunicação social. Quem compra um negócio de informação não compra a independência do seu jornalismo e da sua opinião, compra o rendimento que ela oferece. E é por isso que falo sobre esta greve aqui, sem correr o risco de ser silenciado - porque a liberdade de imprensa protegida pela Constituição não se vende nem se compra, só o negócio a ela associado. E essa liberdade é a marca mais forte associada à TSF. Quem a matar, mata esta rádio.

A TSF tem uma cultura já rara nas redações. Anos a levar pancada e esta rádio fundada por jornalistas não mudou apenas a rádio, mas todo jornalismo que por cá se fazia, que eu ouvia sofregamente no início da minha carreira, tendo a esperança de um dia ter o privilégio de falar aos seus microfones. Esta rádio, esta TSF, não verga com facilidade, quando já quase todos vergaram. Demasiados jornalistas permitiram que as redações fossem deixando de ser coisa sua, que começassem a ser tratados como meros produtores de conteúdos. Mas a informação não é apenas um conteúdo, é um bem público, é um valor democrático. Numa rádio, pública ou privada, é indiferente, o jornalismo está sujeito aos mesmos deveres cívicos. E na TSF, fruto da memória orgulhosa de ter mudado a rádio, isso é sabido e passado de geração para geração. A TSF resiste, sim. Resiste pelos seus salários e pela autonomia editorial, mas por muito mais do que isso. Pelo jornalismo livre, que não obedece a nenhum poder político ou económico e que exige respeito de um e de outro.

Há uma crise no modelo de negócio da comunicação social, como todos sabemos. Essa crise fez do jornalismo presa fácil. Mas uma coisa é certa, ou o Estado e a sociedade levam a sério a destruição da comunicação social portuguesa a que assistimos ou a democracia dependerá das redes sociais e ela será inviável. Mas para que os poderes públicos e os cidadãos façam alguma coisa para salvar o jornalismo livre, é preciso que quem tem o primeiro dever de o defender resista. E é por isso que os trabalhadores da TSF lutam por mais do que por si próprios. Exigem respeito, por eles e por nós. Esta resistência, na primeira greve no órgão de comunicação social privado em muitos anos, enche-me de orgulho. Orgulho por me deixarem partilhar com eles este microfone, recorda-me porque sonhava um dia fazê-lo - porque na voz de Fernando Alves, anunciando esta greve aos microfones que nos pertencem a todos nós, homens e mulheres que não aceitam menos do que todo o respeito, esteve o eco de uma irredutível liberdade, a única irredutibilidade que permite que os cidadãos acreditem que o jornalismo ainda serve para alguma coisa."

É oficial: Parlamento espanhol chumba investidura de Feijóo

O Partido Popular (PP) não conseguiu, conforme era já previsto, arrecadar suficientes votos para que a investidura de Alberto Núñez Feijóo fosse aprovada

Após uma manhã de debate no Congresso dos Deputados, e tal como já era previsível, o PP não conseguiu arrecadar os 176 votos suficientes para avançar com a sua proposta de Governo.

A favor da investidura de direita votaram 172 deputados (PP, VOX, Coalición Canária e UPN), votando contra os restantes 178 deputados (de esquerda, nacionalistas e independentistas da Galiza, Catalunha e País Basco). Não houve qualquer abstenção.

Assim, volta a ficar em aberto a situação política em Espanha, após as eleições legislativas de julho deste ano, em que o PP venceu, mas sem alcançar a maioria absoluta.

A Constituição espanhola estabelece que terá de haver por isso uma repetição da votação 48 horas depois, ou seja, na sexta-feira, precedida de novas intervenções de Feijóo e dos partidos, embora, desta vez, com limites de tempo.

Nesta segunda votação basta uma maioria relativa (mais votos a favor do que contra) para um candidato ser eleito primeiro-ministro, mas também este cenário é, pelo menos para já, quase impossível, como assume há semanas Alberto Núñez Feijóo.

O PP foi o partido mais votado nas eleições de 23 de julho e o Rei de Espanha, Felipe VI, indicou Feijóo como candidato a primeiro-ministro, com a investidura a ter de ser votada e aprovada pelo Congressos dos Deputados.

Lágrima de África

Alex Falco Chang, Cuba | Cartoon Movement

Austin o Matador, Hunka Herói Nazi -- Artur Queiroz

Yaroslav Hunka da organização nazi Waffen SS ovacionado no Parlamento do Canadá com saudação cúmplice e vibrante de Zelensky

Artur Queiroz*, Luanda

O Canadá recebeu com gaitinhas e tambores o presidente Zelensky, da Ucrânia. Os 308 deputados aplaudiram entusiasmados, de pé, um herói ucraniano, o senhor Hunka. Anthony Rota, o presidente da instituição apresentou o convidado surpresa como “um símbolo do nacionalismo ucraniano” ante os aplausos do primeiro-ministro Justin Trudeau e do actor que os EUA puderam na presidência em Kiev. Foram ver e o herói é um “Bandera”. Participou no extermínio de judeus, russos, polacos e ucranianos. Um nazi puro e duro. 

Anthony Rota demitiu-se, Trudeau pediu desculpa e fechou-se no palácio. Zelensky diz que as sanções contra a Federação Russa não valem nada, o melhor é atacar os russos em casa até se ajoelharem ante a OTAN (ou NATO) e o ocidente alargado. A União Europeia, o Reino Unido e os EUA têm muitos heróis da estirpe ideológica do senhor Hunka. Em 2014 um golpe de estado inconstitucional derrubou o presidente eleito da Ucrânia e os golpistas que tomaram o poder são assumidamente nazis. Alguns, como Zelensky, usam farda cinzenta. A maioria anda de faca na boca e extermina russos, democratas e quem se atravessar na frente. Úrsula von der Leyen diz que estão a defender a democracia!

A Assembleia Geral da ONU continua. Mas ninguém sabe o que está a acontecer, quem discursa e o que diz. O Presidente Petro da Colômbia lembrou a Guterres e ao estado terrorista mais perigoso do mundo que a Palestina está ocupada. A Síria e o Iraque estão ocupados. O ministério das Relações Exteriores da Nicarágua leu o discurso de Daniel Ortega. Lembrou que o estado terrorista mais perigoso do mundo foi condenado no Tribunal de Haia a indemnizar o seu país em muitos milhares de milhões de dólares pelos danos causados ao país e ao povo quando apoiaram terroristas que destruíram a Nicarágua. Não pagaram!

Os EUA apoiaram os colonialistas portugueses desde 1961 até 1974. O Estado Angolano nunca divulgou internamente, nem nas organizações internacionais, o número de angolanas e angolanos mortos. Percebo porquê. Essa mortandade ia criar barreiras entre o Povo Angolano e o Povo Português. Mas também criava animosidades perigosas contra os aliados internos de Portugal, das potências ocidentais e dos EUA. Em nome da reconciliação nacional foi lançado um véu de esquecimento sobre as vítimas da Guerra Colonial. Ainda bem.

Os EUA apoiaram o regime racista de Pretória, ente o 25 de Abril de 1974 e pelo menos 1998. A Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial foi terrível. Milhões de deslocados e refugiados. Um sem número de feridos, mutilados e mortos. Depois da Paz do Luena o Governo Angolano não divulgou o número oficial de mutilados e mortos. Não apresentou a factura dos prejuízos causados. As invasões e ocupações sul-africanas apoiadas pelo estado terrorista mais perigoso do mundo e as grandes potências ocidentais ficaram de borla aos agressores. Em nome da paz e reconciliação nacional.

Um dos dirigentes militares dos EUA, Lloyd Austin, está em Luanda! Não vou atirar-lhe à cara com os nossos mutilados e mortos. Os triliões de prejuízos causados pelo seu país e os seus lacaios. Mas vou revelar quem é e quantos mortos carrega às costas noutras paragens.

Austin, o carniceiro estrelado e condecorado

O secretário da Defesa Austin está ligado à Guerra do Iraque. Participou activamente na invasão de 2003. A sua eficácia na morte de iraquianos foi premiada com a “Estrela de Prata”. Mais de um milhão de refugiados e deslocados. De 800.000 a um milhão de mortos. O General Austin está ligado às prisões e torturas em Abu Ghraib. A 1 de Setembro de 2010, foi nomeado “General Comandante”   das Forças dos Estados Unidos-Iraque (USF). Também mandava nas “agências de segurança” do Ministério do Interior iraquiano. Milhares de prisões arbitrárias e execuções. Para matar mais propôs que as tropas invasoras passassem de 14.000 para 18.000 soldados. Ainda lá estão.

Em Fevereiro de 2008, Austin assumiu o comando do “Corpo Multinacional”, a coligação que destruiu o país e assassinou o Presidente Saddam Hussein para roubarem o petróleo. Até Dezembro de 2011 dirigiu operações militares dos EUA e da coligação internacional.

A CIA criou o Estado Islâmico (ISIS) e o general Austin lá estava. Além de matador no Iraque espalhou a sua acção para a Síria que, na primeira Guerra do Golfo, apoiou a invasão estrangeira porque o Iraque era um estado laico e socialista. Austin supervisionou a transição da Operação Iraqi Freedom e operações de combate para a Operação New Dawn. 

O matador ao serviço do estado terrorista mais perigoso do mundo negociou com o governo iraquiano até à assinatura do Acordo de Parceria Estratégica. Opôs-se à retirada total das tropas dos EUA. Recomendou que ficassem no Iraque pelo menos 10.000 soldados. Mas depois duplicou esse número. Está em Angola para fazer o mesmo à sombra de uma “parceria estratégica” com a turma alucinada de João Lourenço. 

O General Austin é um dos responsáveis por 500.000 mortos na guerra de agressão dos EUA à Síria, dos quais 25.000 são crianças. Este número foi divulgado pelo Observatório Sírio para os Direitos Humanos. A parte da Síria com petróleo e gás está ocupada militarmente pelos EUA. 

Guerra do Afeganistão. Mais de um milhão de mortos. O General Austin é um dos matadores de civis inocentes. Entre Setembro de 2003 a Agosto de 2005 foi comandante da 10ª Divisão de Montanha e da Força Combinada 180. 

A 25 de Fevereiro de 2021, o General Austin visitou o porta-aviões nuclear USS Nimitz com uma tripulação de 6.000 militares. Defendeu que os navios de guerra dos EUA devem estar “em todo o mundo” para impedir ameaças à segurança do estado terrorista mais perigoso do mundo e seus lacaios do ocidente alargado. Apontou os alvos favoritos: A China, no Indo-Pacífico, e o Irão no Médio Oriente. Agora vai fazer de Angola uma base naval às ordens com petróleo “dos quebra”.

Depois de matador activo, o General Austin foi para o conselho de administração da empresa Raytheon Technologies, uma empreiteira militar. A 18 de Setembro de 2017 foi nomeado para o conselho de administração da siderurgia Nucor. Todas as produtoras de aço norte-americanas estão falidas. Esta está em grande porque se ligou à indústria bélica via Austin. A 29 de Maio de 2018 foi nomeado administrador da Tenet Healthcare uma empresa multinacional de saúde, que ganha biliões com as guerras do estado terrorista mais perigoso do mundo.  Por fim a Pine Island Capital, uma empresa de investimentos, onde é sócio de Antony Blinken e Michèle Flournoy que foi subsecretária de Defesa dos EUA. Tudo boa gente! 

*Jornalista

A Argélia defende a autodeterminação do Sahara Ocidental e as resoluções da ONU

PUSL - Nova York (Estados Unidos), 20 de setembro de 2023 (SPS) – O Presidente da República da Argélia, Abdelmadjid Tebboune, expressou a posição firme da Argélia para alcançar uma resolução definitiva da questão do último território africano sob domínio colonial.

Na sua intervenção durante a 78.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, Tebboune sublinhou que “toda a população do Sahara Ocidental continua privada do seu direito à autodeterminação através de um referendo livre e justo, em conformidade com o plano de resolução conjunta ONU-União Africana adotado pelo Conselho de Segurança e aceite pelas partes, a Frente POLISARIO e Marrocos, em 1991”.

O presidente argelino exortou a ONU a cumprir o seu dever face às “tentativas de legitimação do ilegítimo” e a defender a credibilidade das suas resoluções. Reafirmou o apoio da Argélia aos esforços da ONU para facilitar as negociações directas entre as partes em conflito com vista à organização de um referendo para determinar o futuro do povo saharaui.

Abdelmadjid Tebboune reiterou também a posição firme da Argélia no apoio às causas justas e na solidariedade com os povos oprimidos que lutam pela sua libertação, incluindo as questões palestinianas.

Ler mais em PUSL:

A Assembleia Geral da ONU abre com o Sahara Ocidental na ordem do dia e nos debates gerais

A Namíbia reafirma o seu apoio de princípio à luta legítima do povo saharaui

O Ministro da Saúde saharaui é recebido pelo Conselheiro da Saúde da Galiza

Sem trégua para a França à medida que uma "Nova África" se ergue

Pepe Escobar [*]

Ao juntar dois novos Estados-membros africanos à sua lista, a cimeira da semana passada em Joanesburgo anunciando a expansão do BRICS 11 mostrou mais uma vez que a integração euroasiática está inextricavelmente ligada à integração da Afro-Eurásia.

A Bielorrússia agora propõe a realização de uma cimeira conjunta entre o BRICS 11, a Organização de Cooperação de Xangai (OCX) e a União Económica da Eurásia (UEE). A visão do Presidente Aleksandr Lukashenko para a convergência destas organizações multilaterais poderá, em devido tempo, conduzir às cimeiras da multipolaridade mãe de todos.

Mas a Afro-Eurásia é uma proposta muito mais complicada. A África ainda está muito atrás dos seus primos euroasiáticos no caminho para romper as amarras do neocolonialismo.

O continente enfrenta hoje terríveis adversidades na sua luta contra as instituições financeiras e políticas profundamente arraigadas  da colonização, especialmente quando se trata de esmagar a hegemonia monetária francesa na forma do Franco CFA – ou Communauté Financière Africaine (Comunidade Financeira Africana).

Ainda assim, um dominó está a cair atrás do outro – Chade, Guiné, Mali, Burkina Faso, Níger e agora Gabão. Esse processo já transformou o presidente do Burkina Faso, o capitão Ibrahim Traoré, num novo herói do mundo multipolar – com um Ocidente coletivo atordoado e confuso não consegue sequer começar a compreender o golpe representado pelos seus oito golpes na África Ocidental e Central em menos de três anos.

Angola | Carta Aberta a Um Traidor – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Senhor Lloyd Austin seja mal vindo a Angola. A sua presença aqui é repudiada pela Dignidade e a Honra que nos resta. As suas mãos são as mãos dos que mataram um menino negro, na margem do Mississipi, porque ofereceu uma rosa à menina branca que o encantou. Não estava lá, não vi. Mas Nicolás Guillén, com os olhos da sua poesia, viu nas costas dele as cicatrizes frescas das asas. Os brancos que lhe pagam os sete dinheiros da traição, senhor secretário da Defesa, mataram o menino na flor da vida.

Seja mal vindo a Angola. Nos seus olhos ainda estão as marcas da crueldade dos que assassinaram Earl Little, nascido na Geórgia, só porque pertencia à Associação Universal para o Progresso Negro. O seu país só para brancos alimenta-se do sangue de quem pensa. Na sua mente ainda habitam as torturas que levaram  Louise Helen Little à loucura. Ficou sem os oito filhos e foi internada compulsivamente. Só 24 anos depois os filhos a libertaram para ela ver como o estado terrorista mais perigoso do mundo continuava a torturar e matar seres humanos desobedientes às leis do império.

Senhor Austin, o que nos resta de Honra e Dignidade diz-lhe alto e bom som que é mal vindo porque traz nas mãos as marcas da morte de Louise e Earl, pais de Malcom X ele também assassinado porque escreveu esta mensagem, que tenho guardada na parte mais dolorosa do meu coração de homem que nasceu numa sociedade de racistas primários, colonialistas cruéis, ocupantes analfabetos amestrados no uso do chicote. Leia a mensagem de Malcom X:  

“O maior milagre que o Cristianismo conseguiu nos EUA foi que o homem negro nas mãos brancas Cristãs não se tornasse violento. É um milagre que 22 milhões de pessoas negras não se tenham erguido contra os seus opressores - no que teriam sido justificados por todos os critérios morais, e mesmo pela tradição democrática! É um milagre que uma nação de negros tenha acreditado tao fervorosamente em dar a outra face e na filosofia do céu para ti depois de morreres! É um milagre que o Povo Negro americano tenha permanecido pacífico, enquanto apanhava todos os séculos de inferno que apanhou, aqui no paraíso do homem branco!”

Senhor Austin, minha Mamã nasceu em New Bedford, estado de Massachusetts, condado de Bristol. Cresceu em Providence. Nunca conseguiu curar a mágoa das bombas atómicas despejadas sobre Hiroxima e Nagasaki pelos brancos que lhe pagam para vir atentar contra o que nos resta de Honra e Dignidade. 

Senhor secretário da Defesa do estado terrorista mais perigoso do mundo, como está programado para a traição, jamais compreenderá que ao roubar-nos a Honra e a Dignidade nos deixa irremediavelmente mis pobres. Também não vai nunca perceber que com a nossa Honra e Dignidade os brancos que lhe pagam não ficam mais ricos. Apenas ficam com mais um troféu da infâmia igual a tantos outros: Extermínio de índios, mexicanos e negros. Diplomacia da canhoneira e da ocupação pela força. Torturas. Assassinatos. Golpes de estado sangrentos. Latrocínio no Iraque, na Líbia e onde for preciso para roubar e matar.

Angola | Jinginga de Cabrito em Nova Iorque – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O noticiário das 20 horas da TPA ontem (Mais Domingo) começou com publicidade a uma empresa privada e à USAID, um órgão do governo dos EUA que segue o guião do Departamento de Estado e da CIA. Foram sete minutos de mensagem publicitária sem informar o telespectador que não estava a consumir informação produzida por jornalistas. Uma promiscuidade criminosa que acontece todos os dias sem o menor sobressalto e sobretudo sem que as entidades competentes se pronunciem. 

Um grave atentado à Lei de Imprensa é cometido num órgão de comunicação social público e passa incólume no ministério da tutela. A auto-regulação prima pelo silêncio. A Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA) ignora. Mas estamos perante um crime grave. Não há pior do que apresentar aos consumidores publicidade como se fosse informação. É mais grave do que emitir mensagens falsas. 

Após a publicidade de sete minutos (uma eternidade no audiovisual) os dois profissionais da TPA que apresentaram o Mais Domingo entraram no crime e chancelaram a mensagem publicitária como informação. Chama-se a isto banditismo mediático. Abuso de liberdade de imprensa. Falta de respeito pelos consumidores.Violação dos princípios éticos e deontológicos. 

A peça de abertura do noticiário é uma campanha publicitária da USAID e de uma companhia chamada Foodcare Lda. Hoje a publicidade meteu também a proprietária da empresa exportadora de tortulhos, apresentada como uma mulher maravilha. Tão maravilhosa que colocou em Nova Iorque fuba, catatos, tortulhos, kizaka, kikuanga e muamba de jinguba!

A apresentadora Filomena disse com ar feliz: 

A partir de agora quando formos a Nova Iorque podemos comer coisas boas de Angola! 

Isto é o grau zero do abuso e da falta de respeito pelos telespectadores e pelo Povo Angolano. Menina! Os angolanos gostavam de comer em Angola mas está difícil. Quem não trabalha para a CIA e não recebe do Orçamento-Geral do Estado está malé, malé, malé. Em várias casas é mesmo impossível dar ao dente. 

Claro que nos cardápios dos restaurantes de Nova Iorque há jinginga de cabrito. Quando me apetece a iguaria meto-me no jacto privado e lá vou eu.

Angola | A Mão Invisível e o Triunfo do Jornalismo -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Com as amigas e amigos sou sempre devedor, nunca credor. Por isso tenho de responder a um amigo que me absolveu dos elogios ao Presidente José Eduardo mas me condena por apoiar e estar solidário com Carlos São Vicente. Diz mesmo que se o conhecesse bem lhe virava as costas. Lá tenho que responder.

Os amigos dos meus amigos, meus amigos são. Os filhos dos meus amigos, meus filhos são. Carlos São Vicente É filho da Ilda, uma mulher excepcional! É filho do jornalista Acácio Barradas o maior e mais completo profissional que alguma vez serviu o Jornalismo Angolano. Abriu-me as portas da profissão, quando eu não sabia nada de nada, além de umas coisitas aprendidas com imensas dificuldades nos bancos das escolas e da universidade. 

Carlos São Vicente pertenceu à Brigada Jovem de Literatura. Uma preciosidade num país em estado de guerra desde 1974, ameaçado pela morte cultural. Um feito importantíssimo patrocinado pelo MPLA. Executado por jovens militantes do MPLA. Nunca virei as costas a um camarada, mesmo quando me reformei da militância activa. Não viro as costas a Carlos São Vicente, meu camarada do MPLA.

Eu sei como nasceu e cresceu o edifício da Justiça em Angola. Ninguém respeita mais o Poder Judicial do que eu. Ninguém admira mais os operadores da Justiça do que eu. Porque o sector estava de tal forma depauperado na hora da Independência Nacional que fui mobilizado para servir como adjunto do Procurador Popular no Julgamento dos Mercenários, em 1976. David Moisés (Ndozi) dividia o seu tempo de comandante da IX Brigada com o de juiz do Tribunal. Mas acredito na inocência de Carlos São Vicente. Está preso um inocente!

Esta convicção foi formada com o conhecimento do processo. O comportamento do Tribunal de primeira instância e daí até ao fim da linha. A minha posição foi reforçada de uma forma inquebrável e inamovível quando li esta declaração da Veneranda Conselheira Luzia Sebastião:

“Há uma situação que não é normal e que está a pôr em causa o crédito desta instituição que se chama Justiça. É muito sério, o judiciário é a reserva moral da sociedade. Quando esta reserva moral é afectada da maneira que actualmente está a ser, significa que temos aqui um problema que denota a falência do sistema”.

Resistindo ao AFRICOM e para além disso

Rose Brewer [*] - entrevistada por T.A. Tran e Leanne Loo

A professora Brewer foi entrevistada pela Science for the People por T.A. Tran e Leanne Loo pelo seu trabalho com a Aliança Negra pela Paz (BAP), uma organização revolucionária que busca recuperar e desenvolver as posições históricas contra a guerra, anti-imperialistas e pela paz do movimento negro radical [1] Por meio da organização comunitária, do apoio aos movimentos e da educação política, o BAP faz frente à repressão militarizada dos EUA no país e a uma agenda de guerra permanente no exterior.

SftP: Pode dizer-nos sobre o trabalho que faz em torno da resistência contra o militarismo e o Comando dos Estados Unidos na África (AFRICOM) por meio da Aliança Negra pela Paz? [2]

Brewer: A Aliança Negra pela Paz tem pouco mais de cinco anos, e a iniciativa [de resistência] ao AFRICOM é um dos trabalhos mais robustos e significativos da BAP. A ideia de ter bases militares no continente africano ganhou força desde o governo Bush a partir da ideia apresentada pelo Departamento de Defesa em 2007, sendo realizada em 2008 [3]. Sempre houve resistência contra essas bases por parte dos países do continente, porém, mais recentemente, sob o mantra da "guerra contra a pobreza", cada vez mais países africanos têm permitido a entrada de bases militares. Nosso trabalho na BAP tem sido na realidade uma tremenda resistência contra isso por uma série de razões. O BAP é uma formação anti-imperialista, anticolonial, preocupada com a persistência das realidades neocolonialistas não só em África, mas noutras partes do mundo, e com o tremendo impacto negativo do império norte-americano em aliança com o que chamamos de "classe compradora" – as estruturas governantes dessas sociedades. Basicamente, isso significa que essas elites se relacionam com o Departamento de Defesa para essas bases. A mensagem pública é fornecer "treino militar" a essas nações para proteção e "garantir a democracia". Mas é claro que nada disso realmente acontece.

SftP: Qual o papel da ciência e da tecnologia, incluindo as ciências sociais, no neocolonialismo e no militarismo no continente africano?

Brewer: Tive que considerar isso, porque é muito significativo. Quero contar uma história, que é um aspeto muito significativo do militarismo dos EUA há bastante tempo. Temos membros que há muito dizem que os africanos foram roubados e que o militarismo desempenhou um grande papel. Se avançarmos para as Guerras Mundiais imperialistas e o período pós-Segunda Guerra Mundial, isso realmente aumentou bastante. A RAND Corporation desde 1948 recrutou elementos das ciências naturais e das ciências sociais para seu think tank. Muitos dos temas foram em torno de armas nucleares e do conflito entre a União Soviética e os Estados Unidos no período pós-Segunda Guerra Mundial – o início da Guerra Fria. Outra arena importante foi por volta de 1956, quando a American University criou algo chamado Gabinete de Pesquisa de Operações Especiais, recebendo dinheiro do Departamento de Defesa. Viu-se então um grande número de cientistas políticos, psicólogos e sociólogos relativamente a especialistas militares. Novamente, era a Guerra Fria – a tensão em torno do comunismo e da chamada democracia – e eles trouxeram cientistas sociais para olhar para a natureza do comunismo, organizações políticas, mobilizações e as mudanças sociais.

Contudo, a Guerra Americana no Vietname conduziu a um elevado nível de crítica contra cientistas sociais financiados pelo Departamento de Defesa para fins militares. Mas nunca desapareceram, podendo avançar até ao período atual. Muito do financiamento militar que flui para universidades vai para a ciência política. Sempre houve uma grande quantidade de engenheiros, físicos e das ciências naturais a receberem financiamento do Departamento de Defesa, dado o interesse quanto a armas. Mas há também o aspeto das ciências sociais, que realmente olham para a componente humana da guerra e do militarismo. Mas os estudos de relações internacionais também receberam bastante financiamento do Departamento de Defesa. Estamos falando de milhões de dólares e cientistas sociais que recebem grandes bolsas de mais de um milhão de dólares para fazer pesquisa e escrever. Portanto, há definitivamente uma interação e entrelaçamento com essas entidades académicas. Eu chamo de universidade corporativa, para colocar mais ênfase na relação entre a segurança estatal e a universidade. Eles leem o que vamos lendo e muito mais. Essa é a lógica, ou a ilógica, de como se movem.

Houve retrocesso no final dos anos 1960, porque tudo estava rebentando por aqui [EUA], desde o movimento Black Power até a resistência nos campus universitários e a resistência contra as universidades que capitalizavam o financiamento da Defesa. De facto, houve uma explosão na Universidade de Wisconsin-Madison sobre esse mesmo assunto [4], bem como a resistência à eliminação do Corpo de Formação de Oficiais da Reserva (ROTC). Aliás, à medida que eu entrava em toda a questão da universidade corporativa, ainda mais recursos foram canalizados para as ciências sem ser colocado um conjunto de questões críticas. O que estamos fazendo com essa investigação para os militares?

A universidade corporativa parece-se muito com as corporações do século XXI, com uma estratégia de cima para baixo, onde as elites realmente impulsionam uma determinada agenda. As áreas humanísticas na realidade receberam apenas pequenas parcelas, como os estudos étnicos. Então, a academia reflete muito do que a sociedade representa ao realizar as necessidades e interesses da máquina de guerra. E os orçamentos que poderiam ir para as necessidades humanas não vão para lá.

SftP: O que foi feito com toda essa pesquisa de guerra produzida a partir da academia? Como tem sido utilizada?

Brewer: Está publicada. Foi produzida como material para esses think tanks. Pensamos na guerra, como os media olham para ela, simplesmente do aspeto técnico: as máquinas, as bombas,os soldados. Mas a guerra não é apenas isso. Há uma sociologia: especialistas, generais, entidades decisórias. Quem são? Como se movem? Então eles usam esse material de uma forma muito dura e nefasta, que é sobretudo para uso militar. E não recebe tanta atenção.

Esta é uma questão de ciência social que está sendo implantada como uma questão de segurança e como uma questão de interesse dos EUA, em termos de inter-relação entre a psicologia social, a ciência social e o aspeto material.

Mais lidas da semana