terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Angola | Agenda Política Limpa os Erros – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Culpa, minha culpa, minha máxima culpa é conversa nas igrejas. Nos Tribunais os juízes julgam em nome do povo, decidem se há culpados e condenam. As penas são graduadas em função da culpa. Nos campos de futebol, isso não existe. A Selecção Nacional constituída por Palancas Negras perdeu porque a Nigéria marcou um golo e os nossos atletas não marcaram nenhum. No resultado não há culpados. Apenas golos marcados, falhados ou por marcar.

Nos campos de futebol acontecem mil coisas mas nunca culpas nem culpados. Um dia o Desportivo de Ambaca recebeu o Dinizes de Dala Tando para o campeonato distrital. Quem ficasse em primeiro lugar ia disputar o “provincial” que é antepassado do nosso Girabola. O jogo era decisivo. Quem ganhasse ia exibir-se em Luanda e noutras cidades angolanas. Nesse tempo só mesmo Benguela tinha uma equipa de alto nível.

A estrela do Desportivo de Ambaca era Sacristão, que no final da sua carreira foi de Luanda para Camabatela chefiar o posto dos Correios, Telégrafos e Telefones (CTT). Foi logo contratado como jogador-treinador. Era o maior na arte da bola mas também na malandrice. 

O clube Dinizes era treinado pelo Barrigana, que foi guarda-redes do Futebol Clube do Porto e era afamado o Mãos de Ferro. Muitos anos depois entrevistei-o e ele disse esta pérola: “Quando eu era ídolo o trânsito parava na Avenida Sá da Bandeira para eu passar. Barrigana passa! Barrigana passa! Hoje se não me ponho a pau, atropelam-me!”

Depois da entrevista quis vender-me uma garrafa de uísque. Disse-lhe que só comprava se fosse falsificado. Ele disse que sim, era falso. Comprei. Bebi o produto num dia e andei um mês doente. É preciso ter muito cuidado com as bebidas de candonga!

No Dinizes jogavam dois mágicos, o Balsa e o Cardeal. No Ambaca era o Sacristão, o Manuel Silva, o Viriato e o Nito. O senhor Santos Dinis, dono do Dinizes, comprava sempre o árbitro, por isso a vitória nunca falhava. Como aquele jogo era mesmo decisivo, o Sacristão, no momento das cortesias, disse aos membros da equipa de arbitragem: Se vocês nos roubarem acaba o jogo! Os juízes não gostaram da ameaça. Mas como nos campos de futebol só há jogo, não culpados, o árbitro apitou para o início da partida.

O jogo começou e o Ambaca caiu em cima do dos milionários de Dala Tando. Toma lá o primeiro golo. O senhor árbitro resolveu a maka cinco minutos depois. Tomem lá um penalti para empatar! Aí o Sacristão pegou na bola e fugiu do campo. Como o estádio era longe da sede do clube, foram a correr buscar outra bola. Mas a porta da arrecadação do material desportivo estava fechada, acorrentada! Arrombaram a porta. Nem uma bola! O Sacristão roubou-as todas e foi esconder-se na missão dos capuchinhos.

Assim o Clube Desportivo de Ambaca ganhou um a zero mas perdeu por falta de bola. O Fredy ontem devia ter roubado a bola a meio da primeira parte e ficava zero a zero. Como fomos nós a marcar o primeiro zero, a esta hora estávamos comemorando a passagem às meias-finais. Assim comemoramos também. Sábado é dia de festa e quem não festeja a mãe dele é gato.

O MPLA apresentou hoje ao povo de Luanda a Agenda Política para este ano. Grande festa. E muito concorrida. O camarada presidente fez um discurso naquele tom que parece ter abusado da medicação para dormir. Mas mesmo num ritmo sonolento disse algo que me encheu de esperança: “A nossa soberania custou muito sangue ao Povo Angolano”. 

Se o nosso presidente reconhece o essencial, então o MPLA está de regresso às vitórias e a agenda política do partido tem inscrito o fim da submissão ao estado terrorista mais perigoso do mundo. Porque estar de joelhos ante os assassinos e genocidas de Washington é não respeitar o sangue derramado pela Independência, Soberania Nacional e a Integridade Territorial.  

Sua excelência o Presidente da República ontem no final do jogo com a Nigéria publicou uma mensagem na qual felicita o desempenho dos Palancas Negras e diz que devemos aprender com os erros. No discurso de hoje já mostrou que está mesmo a aprender com os erros. Atrelar Angola aos interesses dos EUA é um erro de palmatória e pode custar ao Povo Angolano a perda de soberania, o regresso da submissão a forças estrangeiras, o espezinhar da dignidade tão duramente conquistada entre 1961 e 2002.

Santo Agostinho, o mais sábio Doutor da Igreja, dizia: “Errar é humano, permanecer no erro é diabólico” (Errare humanum est, perseverare autem diabolicum). João Lourenço na apresentação da Agenda Política do MPLA deu sinais de que não vai persistir no erro. 

No jogo de hoje ganhámos! A vitória é praticamente certa.

*Jornalista

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