sábado, 15 de junho de 2024

Ucrânia Cofre e Centro de Negócios -- Artur Queiroz

Ihor Homenyuk, assassinado pelo SEF (polícia) no Aeroporto de Lisboa – foto inclui mulher e filha de Ihor

Artur Queiroz*, Luanda

No início dos anos 90 os ucranianos eram os escravos modernos das grandes potências europeias. Conheço bem o caso português, porque fiz uma reportagem sobre o tema. Encontrei um professor universitário a trabalhar como ajudante de pedreiro, uma mulher a dias era técnica superior numa central nuclear, um coronel de engenharia servia à mesa num café, um jornalista trabalhava no barro vermelho, uma médica era empregada de limpeza num lar da terceira idade. Mulheres ucranianas não passavam de empregadas domésticas. Os homens, na melhor das hipóteses, chegavam a ajudantes de pedreiro, fossem quais fossem as suas qualificações. E todos recebiam salários rastejantes.

Os portugueses amam tanto os ucranianos que conseguiram um feito inigualável. O ucraniano Ihor Homenyuk foi morto à porrada no Centro de Instalação Temporária do Aeroporto de Lisboa. Amor à primeira vista. Hoje, um sujeito à direita do partido Chega, que anda enfeitado com o emblema de ministro da Defesa, disse que “Portugal vai apoiar a Ucrânia até onde for preciso porque ali estão em jogo os nossos valores”. Rapaz sincero. Claro que na Ucrânia está em jogo o triunfo do nazismo que já chegou ao poder em quase todos os países da União Europeia. Em Portugal é de uma ponta à outra.

O estado terrorista mais perigoso do mundo e o seu braço armado, a OTAN (ou NATO), resolveram roubar os fundos soberanos da Federação Russa para alimentar a guerra contra os russos por procuração passada à Ucrânia. Úrsula von der Leyen, eufórica, disse que assim “vamos fazer a guerra com o dinheiro do Putin, não custa nada aos contribuintes europeus”. Se a moda pega vai ser um festival. Angola, Guiné Bissau e Moçambique vão ficar com os bens dos portugueses e de Portugal para abater à dívida infinita que fizeram ao longo de séculos de esclavagismo  e colonialismo.

Em 1974 fui com Artur Arriscado aos vários musseques de Luanda, desde o Marçal ao Zangado e Sambizanga. Os esquadrões da morte dos independentistas brancos, após o jantar, iam matar negros para os bairros. Numa noite a mortandade foi terrível. Fomos avisados de que as populações iam fazer uma manifestação de protesto porque os Media dos colonos instigavam os massacres e o governador Silvino Silvério Marques dizia que estava tudo bem, apenas existiam alguns mal entendidos. Fomos cobrir a manifestação que se dirigia ao Palácio da Cidade Alta.

Em frente ao edifício do Ministério da Defesa, na época Quartel-General da Região Militar de Angola, tropas portuguesas receberam a tiro os manifestantes que levavam às costas dezenas de mortos. Foi um massacre terrível. Artur Arriscado protegeu a “nagra” e eu fiquei ali de pé, armado com o meu olhar de repórter, Quem levava os cadáveres de mulheres e crianças às costas também morreu. É altura de alguém pagar por isso com fundos soberanos. Dava metade da minha vida para não ver aquele morticínio na Cidade Alta. Mas os repórteres não têm escolha.

Cobri a guerra Irão-Iraque do lado iraniano. Quando o conflito acabou, fui ao Iraque onde os Media diziam estar instalada uma “terrível ditadura” liderada por Saddam Hussein. Descobri o país mais progressista e desenvolvido da região! Nos outros países as mulheres não tinham direitos civis. Nem podiam tirar a carta de condução. A Universidade de Bagdade tinha uma reitora. No parlamento estavam mulheres deputadas. As Igrejas cristãs estavam abertas ao culto numa região de “repúblicas islâmicas”. Tariq Aziz, ministro das relações exteriores, depois primeiro-ministro de Saddam, era membro da comunidade cristã. Liberdade de culto.

O Iraque, graças ao “ditador”, deixou de ser uma “república islâmica”. Era uma república socialista dirigida pelo partido Baath. Saddam Hussein decidiu que o petróleo do Iraque passava a ser vendido na moeda local ou dos países compradores. Dólar nunca mais. Levou com uma invasão em 1990. Fui fazer a cobertura da guerra. Choque e pavor! O estado terrorista mais perigoso do mundo bombardeou durante toda a noite a cidade de Bagdade.

De manhã fui com o jornalista Jorge Uribe e o fotojornalista Zurita Reys ver os estragos. Terror. O Museu do Homem foi bombardeado. O Banco Central também. A grande mesquita do centro histórico estava em escombros. O bairro antigo do mercado tradicional (souk) estava cheio de crateras. A Cidade das Mil e Uma Noites foi devorada pelos mísseis. A população foi morta enquanto dormia. Ao fim da manhã ainda se viam restos ensanguentados espalhados pelo chão. 

O repórter contou o que viu. Mas a “verdade” do estado terrorista mais perigoso do mundo e suas aliados era outra. O bombardeamento a Bagdade foi “cirúrgico” e houve apenas alguns “danos colaterais”. Juntei todas as minhas reportagens e publiquei o livro “Eu Vi Bombardear Bagdade” na editora Centelha, de Coimbra. Dava metade da minha vida para não ter visto a mortandade no centro histórico de Bagdade, na Cidade das Mil e Uma Noites. Só mais tarde fui reabilitado. No dia 5 de fevereiro de 2003, o secretário de Estado Colin Powell  foi à ONU apresentar as provas da existência de armas de destruição em massa no Iraque. Avançaram com choque e pavor, até hoje.

Colin Powell quando deixou o governo Bush pediu perdão por ter feito um discurso na ONU cheio de invenções e mentiras. Classificou a sua intervenção como “uma mancha no meu currículo”. Foi o único que pediu perdão. As tropas do estado terrorista mais perigoso do mundo mataram meio milhão de civis iraquianos. E causaram dois milhões de deslocados ou refugiados. Eu tinha razão. Não menti. Não falsifiquei. Fui repórter. Os mentirosos e os assassinos vão pagar com os fundos soberanos. Já faltou mais.

A situação é muito grave. Um “site” controlado pelo chefe Miala informou que um dos filhos do Presidente da República se apropriou de um edifício público, no Maculusso. Não acredito. Estamos perante umas falsa notícia. Mas a Presidência da República é chamada e desmentir. Urgentemente. O sonho dourado dos corruptos é que se instale na opinião pública a ideia que somos todos corruptos. Portanto, eles estão apenas dentro do sistema, não podem ser censurados. Usar o nome do filho de Chefe de Estado para esta operação é inaceitável. Mas exige que a “notícia” seja desmentida e os falsificadores sejam perseguidos judicialmente.

“Estamos a trabalhar para que a Rádio Nacional chegue a todo o país”, disse o senhor ministro da Comunicação Social. Quando eu entrei na Emissora Oficial de Angola (RNA) em 1964 o sinal chegava a todo o país e aos países vizinhos. Angola cresceu ou a nossa competência encolheu? Mário Oliveira devia trabalhar mais e fazer menos propaganda. Fica-lhe mal ser o propagandista de serviço. Se ouvir cinco minutos da TPA Notícias vai perceber o buraco técnico que ali está.

Uma sujeita que em casa é do partido Chega (o marido é chefe)) mas na CNN Portugal está muito à direita dos neonazis. Ela odeia os russos. Um tal Francisco Seixas da Costa a quem os portugueses pagam uma fortuna por ser embaixador reformado, é comentador da CNN Portugal. Odeia os russos. Em Portugal a russofobia vem de longe, pelo menos desde que Nossa Senhora de Fátima disse aos pastorinhos que ia converter os russos mas desconseguiu. Em Fevereiro começou a Revolução Vermelha. E de Maio a Outubro a santinha falhou a conversão. Os bolcheviques triunfaram. Comunismo! 

O capitalismo é um horror mas a sua face de “democracia representativa” dá-nos esperanças de que um dia vai mesmo existir uma Terra sem amos. Não vamos odiar os capitalistas, isso é feio e não adianta nada. O mundo só muda com ideias, nunca com ódios. 

O comunismo é a última etapa para chegarmos a uma sociedade libertária. Não vamos vomitar ódio sobre uma ideia só porque ainda não é o que queremos. Mas o anticomunismo em Portugal e é uma religião com mais praticantes do que a Igreja. Por isso os portugueses se sentem tão felizes com 50 deputados neonazis feios, porcos e maus. Mais 70 neonazis engravatados. A fechar o círculo têm um taralhouco a honrar o papá e o padrinho.

Um dia destes o Presidente Miguel Díaz-Canel vai dizer ao estado terrorista mais perigoso do mundo que se não levanta o embargo criminoso a Cuba, isso vai ser considerado um acto de guerra e terá a devida resposta. Um submarino atómico russo andou junto a Miami e ninguém o detectou. Imaginem quantos já por lá andaram sem ninguém dar por isso. Se tiverem ogivas atómicas, os nossos irmãos “calientes” finalmente vão cobrar em fundos soberanos a dívida astronómica dos EUA para com Cuba. Aqueles oito milhões prometidos aos partidos políticos não vão chegar. E os milhares de milhões prometidos ao Corredor do Lobito também se perdem no caminho.

* Jornalista

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