terça-feira, 6 de maio de 2025

Angola | As Palavras dos Outros – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda >

Eu gestor me confesso. A primeira qualidade no negócio é resiliência. Estou lá. A segunda é fazer das tripas coração e as repectivas artérias. Há oito décadas que aguento as oscilações do mercado. A minha empresa é micro mas quando há kumbu, gasto em grande. Se os bolsos ficam vazios faço visitas estratégicas aos amigos, nas horas das refeições. Ou dieta rigorosa. Só água da kapopa. Fui convidado para substituir o Pai Querido mas não aceitei E a UNITEL? Nem pensar. Não tenho jeito para ladrão nem  colarinhos brancos.

Gerir a Sonangol deve ser difícil. O engenheiro Manuel Vicente decidiu que a petrolífera nacional ia entrar no capital do Millennium-Banco Comercial Português. E entrou com uma a posição accionista potente. De repente, os gestores da maior empresa angolana decidiram desfazer-se de tudo quanto era negócio lateral e concentrar os seus esforços no petróleo. Esta decisão aconteceu após Manuel Vicente se comprometer ir ao aumento de capital do maior banco privado português (BCP), onde a Sonangol já era accionista de referência.

O presidente do conselho de administração do banco, Carlos Santos Ferreira, avançou com o processo. E de repente a Sonangol desistiu. Criou um tremendo problema ao gestor mas ele conseguiu resolver. Daí resultou que a posição accionista da Sonangol no Millennium BCP caiu para 19,5 por cento. Um mau negócio porque hoje a petrolífera nacional recebe muito dinheiro em dividendos. Podia receber mais se tivesse ido ao aumento de capital do BCP.

No cumprimento da decisão de concentrar esforços no negócio do petróleo, Manuel Vicente e o seu conselho de administração decidiram vender acções da AAA Seguros. Carlos São Vicente aproveitou a oportunidade e comprou o que pôde. Em 2011, A Sonangol recusou ir ao aumento de capital da seguradora. O prisioneiro de João Lourenço pagou 30 milhões de dólares pelo aumento de capital da AAA SEGUROS SA, passando a empresa de Carlos São Vicente, AAA ACTIVOS LDA, a ter 89,89 por cento das acções. Foi condenado num Tribunal, onde se faz Justiça em nome do Povo. Crime? Roubou-se a si próprio. No reino da Cidade Alta tudo é possível.

Antes que arranjem uma maka mundial no Millennium BCP informo que os principais accionistas são a Fosun Internacionl (República Popular d China) com 20 por cento do capital e  a Sonangol (Angola) com 19,5 por cento, já que caiu de quase 30 por cento por não  ter ido ao aumento de capital. Como fez na AAA Seguros. Boa decisão? Má decisão? Perguntem ao engenheiro Manuel Vicente. No Tribunal que julgou Carlos São Vicente não falou nem foi convocado para testemunhar.

José Gomes Ferreira é um dos maiores escritores de Língua Portuguesa. Travei conhecimento com ele através da poesia. Mais tarde crónicas. O seu Livro “O Mundo dos Outros (Histórias e Vagabundagens)” é uma joia da Literatura Universal. Hoje vou entrar nas Palavras dos Outros. O Jornal de Angala presenteou-nos com um texto de Eva Ferreira da Conceição, Meritíssima Juíza. Leiam a parte que escolhi para nós:

“Ser mulher no judiciário é mais do que ocupar um espaço; é preencher esse espaço com significado. Não é apenas julgar processos, mas tocar vidas, inspirar mudanças, e construir pontes onde antes havia muros.

Cada desafio que enfrentei, cada lágrima que escondi, cada vitória que celebrei silenciosamente… tudo isso construiu a juíza que sou hoje. E se há uma certeza que carrego é esta: nós, mulheres, não somos frágeis por sentir, nem menos competentes por cuidar. Somos poderosas justamente porque conseguimos sentir e cuidar enquanto transformamos o mundo à nossa volta.

Lembro-me especialmente de uma visita ao centro prisional que marcou minha trajectória. Ao olhar para aquelas mulheres em situações de extrema vulnerabilidade, compreendi ainda mais o papel transformador que nós, mulheres juízas, podemos desempenhar na sociedade. Não se trata apenas de aplicar a lei, mas de humanizar o processo, de ser ponte entre a Justiça e a Dignidade Humana”

Senhor Presidente da República. Mesmo que a Meritíssima Juíza Eva Ferreira da Conceição fosse a única que pensa assim (não é), encerre os seus cárceres privados. Não dite sentenças antes dos julgamentos. Não compre magistrados judiciais a dez por cento da “recuperação de activos”. Não faça do combate à corrupção um truque para sacar bens dos outos. Não destrua o Poder Judicial cuja construção, tijolo a tijolo, nos custa os olhos da cara. 

Pedro Miguel, do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), falou mas repisando os disparates do costume. Por isso o Jornalismo Angolano bateu tão fundo que já nem se ouve o eco do grito “tirem-me daqui”. Há um acontecimento na via pública. Os agentes policiais têm de garantir a segurança de todos. A liberdade de todos. Mas o Pedro Miguel acha que para jornalistas não há regras. Não há limites. Não há restrições. Porque em democracia há o direito de manifestação! Ninguém tente impor regras aos manifestantes. Muito menos aos repórteres. 

O sindicato diz que os jornalistas Jubileu Panda (TV Maiombe) e Hermenegildo Caculo (jornal e TV F8) foram detidos. Borralho Ndomba (DW África) foi intimidado pelas autoridades. Vá lá, diminuíram os “presos”. Pedro Miguel bate na mulher, na namorada ou na menina da vida desprevenida que contratou. Ai da polícia se intervir. Jornalista é intocável. Pedro Miguel faz um assalto. Ninguém pode tocar-lhe. Pedro Miguel, bêbado, invadiu um hospital e agrediu técnicos de saúde. E daí? Ele é jornalista. Poderoso. Intocável.

Isaías Samakuva foi a Benguela e dissertou numa conferência organizada pela Câmara de Fomento Empresarial (CAFE). Tema: Perspectivas sobre o Corredor do Lobito”. A empresa que lhe vendeu o texto dedicoumuito espaço ao Caminho-de-Ferro de Benguela. Ora bem. O antigo líder da UNITA perdeu uma oportunidade de ouro para explicar por que razão o Galo Negro partiu tudo, desde pontes a pontecos até estações e material circulante, quando o CFB parou e os donos deixaram de facturar milhões. Podia igualmente explicar por que razão entre 2001 e 2002 a fúria destrutiva da UNITA atingiu a loucura. Não ficou nada em pé no extenso canal ferroviário. A concessão tinha acabado e o CFB passou para o Estado Angolano. 

Samakuva fica admirado por olharmos para o passado. Porque não é capaz de assumir o passivo dele e da UNITA. Ninguém pode confiar em vigaristas da História de Angola.

* Jornalista

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