quinta-feira, 26 de maio de 2011

MISÉRIA, REALIDADE TIMORENSE QUE TEM SIDO ESCAMOTEADA




ANA LORO METAN – DEBATES CULTURAIS

Nada melhor para se avaliar sobre o crescimento dos filhos como estarmos uns tempos sem os vermos. O mesmo se aplica a um país, à capital desse país, aos bairros dessa capital, às pequenas povoações, às gentes conhecidas de estratos sociais carenciados na actualidade como o eram há dois ou três anos.

Timor Leste está repleto de população carenciada e isso não é o que aparece em reportagens da comunicação social timorense, muito menos na internacional. O governo diz que tudo vai bem, ou quase, faz a sua propaganda, e a principal agência noticiosa estrangeira permanentemente em Díli, a Lusa, alinha com o governo em atitude politicamente correta, cometendo a falta imperdoável de não exercer a sua função mostrando ao mundo e consequentemente aos timorenses com acesso à internet e a noticiários estrangeiros, sobre a realidade do país.

O governo AMP de Xanana Gusmão é uma fraude que tem numa oposição abstinente e quase ausente livre arbítrio para fazer a sua propaganda enganosa, mistificando a realidade do país. Compete à oposição, com mais ou menos deputados no Parlamento Nacional denunciar a realidade. Continua a haver fome em Timor Leste, continuamos a ver o interior do país sem água potável, sem energia eletrica, sem saneamento básico, com grandes problemas nas suas agriculturas familiares e domésticas. Os problemas de saúde são os mesmos de há anos e a subnutrição é numa escala que desafia a imaginação dos governantes que querem fazer-nos acreditar que tudo vai muito melhor e em vias de desenvolvimento. Mas que desenvolvimento podemos tomar em consideração se continuamos a ver timorenses carenciados como há dois ou três anos? A fraude Xanana Gusmão e o seu governo AMP deve ser desmascarada de uma vez por todas. Nem se compreende como a oposição se considera fiel representante dos eleitores que votaram nela se demonstra estar longe da realidade do país, por isso quase nada fazendo para pressionar o governo a pôr cobro às enormes carências do povo do interior.

Na capital já existe a pobreza envergonhada. Existem carenciados de alimentação e de outros consumíveis, de habitação condigna, de emprego (mas isso já sabemos desde sempre) que se calam e fazem todos os possíveis por aparentarem melhor vida. Para isso recorrem à prostituição e a outras práticas marginais em que saciam temporariamente algumas das suas necessidades. Em Díli e em Baucau, pelo menos, há crianças e jovens a prostituírem-se. Adultos, nacionais e estrangeiros, são seus “clientes”. São eles e elas, através da prostituição, que se esforçam por alimentar as famílias. Os timorenses quase nada mais comem que arroz. Peixe, carne e leite é coisa que as crianças quase não conhecem. O leite é quase inexistente em Timor Leste nos hábitos de alimentação.

A miséria na capital ou no resto do país não se resolve com uns parcos subsídios oferecidos pelo governo AMP mas sim enfrentando o problema de raiz, com interesse, honestidade, solidariedade e abnegação, em vez olharem constantemente para os seus umbigos e tomarem medidas avulso que acabam por iludir as populações e mitigar-lhes a subnutrição e o subdesenvolvimento mas não mais que isso. É tempo de exigir aos que estão de posse dos poderes que cumpram as suas funções, as suas promessas. De miséria já basta!

Em poucos dias em Timor Leste, desde que se contactem as populações, sem sofismas ou baias político partidárias, temos oportunidade de constatar a realidade do nosso povo e ver o seu medo de falar, o seu encolher de ombros parceiro do descrédito e da desesperança. Afinal, o que é que Gusmão tem andado a fazer a este povo e a este país? O que é que faz calar a oposição neste caos em que a população vive? Por que só surgem casos pontuais de denuncias às más atuações dos diversos ministérios quando o que acontece na realidade é grave e alarmante? As próprias ONGs, a quem cabe muito mérito em denúncias e ajudas efetivas, talvez se devam aliar sem pruridos, cruzando dados e informações, assim como suas acções no terreno, para mostrar ao mundo e aos timorenses que parecem viver noutro país que há irmãos nossos, timorenses, no nosso país, a sobreviverem em condições deploráveis.

Há uma realidade timorense que tem sido sabiamente escamoteada: a miséria. Por isso se deve perguntar insistentemente para onde têm ido os milhões de dólares, alegadamente empregues no bem-estar e desenvolvimento do povo e do país? Para pôr cobro à miséria não tem sido. Nem por sombras.

*Ana Loro Metan é timorense e portuguesa, professora do Magistério Primário de Portugal, reformada. Lecionou em Timor Leste até 1975, seguidamente em Portugal e por último em Angola. Coordena e colabora ainda com diversos blogues destinados às comunidades lusófonas, como o Página Global, onde o texto acima foi, originalmente, publicado.

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