ANDRÉ CATUEIRA - LUSA
Chimoio, 27 ago (Lusa) - Mãos trémulas, dedos paralisados, olhos vermelhos de tanta poeira, Helena Djimo, 55 anos, dá golpes de martelada para reduzir o tamanho de uma pedra, que irá alimentar a indústria de construção civil, seu ganha pão.
Djimo é uma das dezenas de mulheres no Chimoio, Manica, centro de Moçambique, que se dedicam a partir rochas para sustentar a construção de edifícios, já que a cidade não tem uma pedreira. Com um rendimento mensal, entre 700 a mil meticais (15.9 euros a 22.7 euros), elas pagam renda, alimentos, saúde e educação para os filhos.
"Outras perdem vista ou dedo quando estamos a reduzir o tamanho da pedra. É um verdadeiro martírio pela luta de sobrevivência. Muitas têm problemas de pulmões e constipação provocada pela poeira da pedra. Temos que arriscar por nós e nossos filhos", conta à Lusa, Helena Djimo, mãe de cinco filhos, há cinco anos na atividade de "processadora de pedras".
O negócio assenta na compra de carradas de pedras, geralmente partidas a picaretas por homens, para reduzir o tamanho de grossa para média e desta para fina. A pedra é basicamente usada na construção de habitação e asfalto de estradas.
"Nem sempre consigo juntar dinheiro por mês. A venda diária é usada para a compra de alimentos que sempre faltam em casa. Às vezes, os clientes devem a pedra e não reembolsam a tempo e acabas sem fundo para outra carrada. Enfim, preciso ajudar meu marido que está desempregado", explicou à Lusa, Elisa Vasco, 48 anos, quatro filhos por cuidar.
Para aumentar a produção e o rendimento mensal, há famílias que hipotecam a liberdade e a educação das crianças para que estas ajudem também no processamento de pedras, situação largamente combatida pelas autoridades governamentais.
"Parto pedra para ajudar meu pai em casa. Acordo cedo, venho trabalhar e regresso a casa às 10 horas para ir à escola e à tarde volto para fechar o dia. Já compro sozinho cadernos e lanche", conta Augusto Henriques, 13 anos, o caçula da casa há dois na atividade.
Dados do inquérito aos Orçamentos Familiares, publicado em 2010, uma pesquisa do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), ligado ao Ministério de Planificação e Desenvolvimento, mostram que as políticas de luta contra a pobreza estão a falhar em Moçambique.
A pobreza agravou-se por todo o país, sobretudo na região centro, onde a situação é descrita como especialmente dramática. As taxas aumentaram de 54.1 por cento, em 2002-2003, para 54.7, em 2008-2009, segundo os dados refletidos na terceira avaliação da pobreza.
Segundo as estatísticas governamentais, o aumento da pobreza é descrito como dramático, no que se refere à "pobreza de consumo", na província de Manica, onde aumentou de 43.6 por cento, em 2002-2003, para 55.1 por cento, em 2008-2009.
O inquérito do INE incidiu em três pilares principais: a pobreza de consumo, a pobreza não monetária, e a desnutrição, além de outros indicadores como as desigualdades, a taxa de escolarização e o acesso à saúde.
"Temos clamado por iniciativas do governo, pelo menos na compra de equipamento de segurança, para continuarmos com o nosso trabalho, já que é o único que podemos fazer na falta de emprego para sustentar a família", explicou à Lusa, Rudho Tobias, há dez anos na atividade de "processador de pedra".
Entretanto, a governadora de Manica, Ana Comoane, disse que o seu executivo alocou este ano 11.8 milhões de meticais para ações de combate à pobreza urbana no Chimoio, tendo já sido formadas 6.601 pessoas (2.569 mulheres) em gestão de pequenos negócios.
Na lista dos pequenos negócios incluem-se corte e costura, montagem e reparação de bicicletas, pintura, culinária, construção civil, carpintaria e serralharia. Igualmente, no primeiro trimestre de 2011, foram colocados no mercado de trabalho 1.189 cidadãos (210 mulheres), mas a realidade no terreno sugere o contrário.
*Foto Lusa
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