sexta-feira, 5 de agosto de 2011

São Tomé e Príncipe: Única certeza na segunda volta é que um "mais velho" será eleito




Eduardo Lobão, da Agência Lusa

São Tomé, 05 ago (Lusa) -- Qualquer que seja o resultado da segunda volta das presidenciais no domingo em São Tomé e Príncipe, a que concorrem Manuel Pinto da Costa e Evaristo Carvalho, a única certeza é que vai ser eleito um "mais velho".

Em África designam-se por "mais velhos" aqueles a quem se vai buscar a tradição, o saber e a experiência.

Os dois candidatos são históricos da luta de libertação e dirigentes políticos desde a primeira hora do país nascido há 36 anos.

Nesta eleição, se não fossem os tempos de antena transmitidos na televisão, e a polémica que suscitaram, bem como ainda os cartazes espalhados pelo país, ninguém diria que há nove dias que as duas candidaturas estão na estrada em campanha, que termina hoje.

A polémica nasceu do lado da candidatura de Evaristo Carvalho, 70 anos, antigo primeiro-ministro em duas ocasiões e atual presidente do parlamento e levou a Comissão Eleitoral Nacional a ameaçar suspender os tempos de antena que "incitassem ao ódio e violência", face ao teor das acusações contra Manuel Pinto da Costa.

Diabolizado e apresentado como o responsável político pela repressão que, segundo a candidatura de Evaristo Carvalho, marcou os primeiros 15 anos de independência sob o regime monopartidário do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP), Pinto da Costa optou por não vir a terreiro responder às acusações, deixando o adversário a falar sozinho.

Os dois candidatos passaram a campanha em contactos praticamente porta a porta, em todos os distritos do país, deixando os tradicionais comícios para hoje, na capital, insistindo na necessidade de estabilidade para, pelo menos em teoria, por fim à rotineira queda e substituição de primeiros-ministros.

O país teve 10 primeiros-ministros nos últimos 10 anos.

O objetivo declarado é disputar os 32,11 por cento dos 92.638 eleitores inscritos que se abstiveram na primeira volta, a 17 de julho. O objetivo, velado, é incentivar os eleitores a irem votar, e que veem nos atos eleitorais a oportunidade de ganharem dinheiro extra, dando expressão ao fenómeno localmente conhecido por "banho", e que se traduz prosaicamente por "compra de votos".

Enquanto Evaristo Carvalho é apoiado pelo partido Ação Democrática Independente (ADI), liderado pelo primeiro-ministro, Patrice Trovoada, que protagonizou há um ano nas legislativas a reviravolta que atirou o histórico (MLSTP-PSD) para a oposição, Pinto da Costa apresentou-se nas presidenciais como suprapartidário.

Primeiro Presidente dos 36 anos de história do país, Manuel Pinto da Costa, que completa hoje 74 anos, é um dos artífices da instauração do regime multipartidário.

Foi o primeiro líder do MLSTP, a que a abertura democrática trouxe o sufixo PSD (MLSTP-Partido Social Democrata).

Na primeira volta, Pinto da Costa obteve 35,58 por cento e Evaristo Carvalho alcançou 21,74 por cento, a cerca de 8 mil votos de distância.

Se as previsões eleitorais fossem uma ciência exata, era desde já fácil concluir que Pinto da Costa recebe domingo o endosso para regressar a um cargo que tão bem conhece.

O apoio declarado que recebeu de quatro dos 10 candidatos que disputaram a primeira volta, designadamente Delfim Neves (que ficou em segundo com 14,32 por cento), Maria das Neves (em terceiro com 14,05 por cento), Aurélio Martins (em sétimo com 4,08 por cento) e Jorge Coelho (em oitavo com 0,65 por cento) seria razão suficiente para prever a eleição do "mais velho" Pinto.

Mas o fenómeno "banho", a influência dos tempos de antena e a participação em força do primeiro-ministro Patrice Trovoada na disputa poderão fazer pender o fiel da balança para o lado do "mais velho" Evaristo.

*Foto em Lusa

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