segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

UNIVERSIDADE DO PSD GARANTE BONS TACHOS




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Pedro Passos Coelho garantiu que com o seu Governo os lugares nas empresas e instituições "seriam preenchidos segundo uma escolha que esteja muito para além da questão da confiança política e que envolva o mérito, independentemente da área partidária" dos candidatos.

É claro que a questão da competência é facilmente mensurável. Basta ter cartão de militante do PSD. É também claro que não ter coluna vertebral nem tomates é um factor de desempate. Não será decisivo porque, afinal, quase todos estão nessa situação.

Hoje, tal como ontem e infelizmente amanhã, o sumo pontífice do Governo veio mais uma vez mostrar que – como ele pensava mas não dizia – os portugueses são uma cambada de matumbos.

Eduardo Catroga, Celeste Cardona, Paulo Teixeira Pinto, Rocha Vieira, Braga de Macedo e Ilídio Pinho são alguns dos nomes que vão integrar o Conselho de Supervisão da EDP.

Todos sabem que a Universidade do PSD é das mais cotadas quanto a garantir que todos os seus alunos terão bons tachos. Daí, creio, ser normal num país que quando emergir, se emergir, do pântano estará perto do Burkina Faso, toda a inversão de valores.

Não sei, por isso, porque razão os escravos estranham o que faz o dono do país. Já deveriam estar habituados. Aliás, certamente que se recordam que Passos Coelho disse que através do Orçamento de Estado para 2012, "o governo pede sacrifícios aos portugueses, a todos os portugueses".

E ele pediu. Os que têm força para não dar, não deram. Os outros, a grande maioria, como nem força têm para manter a barriga com qualquer coisa dentro…

Segundo Passos Coelho, o governo "teve a preocupação de proteger os mais vulneráveis", pedindo, por isso, "um esforço acrescido a quem mais pode" e, por outro lado, "ataca transversalmente a despesa supérflua das estruturas do próprio Estado, com a reestruturação dos seus organismo e dos seus procedimentos".

E quem são os mais vulneráveis? Não são com certeza os 800 mil desempregados, os 20 por cento de pobres e outros 20% que não dão uso aos pratos. Esses nem existem para o Governo.

Quando Passos Coelho se refere aos que mais podem, estará a pensar em quem? Não é certamente em Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Faria de Oliveira, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Mexia, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões ou Duarte Lima.

Além disso, sustenta o “africanista de Massamá”, "as opções contidas no OE obedecem a critérios amplos e profundos de equidade na repartição dos sacrifícios".

Ou seja, todos vão ficar sem uma refeição por dia. Até nem está mal. Os que têm três ficam com duas, os que têm duas ficam com uma, os que tem uma ficam sem ela e os que já não têm nenhuma… não fazem falta.

E o que diz Passos Coelho ainda candidato a primeiro-ministro? Dizia que “estas medidas põem o país a pão e água. Não se põe um país a pão e água por precaução. Estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa. Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias”.

“Sabemos hoje que o Governo fez de conta. Disse que ia cortar e não cortou. Nas despesas correntes do Estado, há 10% a 15% de despesas que podem ser reduzidas. O pior que pode acontecer a Portugal neste momento é que todas as situações financeiras não venham para cima da mesa. Aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos”, afirmava Passos Coelho do alto da cátedra do partido, bramindo o seu diploma de brilhante aluno da Universidade do PSD.

Tendo a seu lado outros ilustríssimos alunos da mesma Universidade, caso de Miguel Relvas, Passos Coelho também disse que “vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos. Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos. Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado».

Aplaudido pelos velhos mestres da Universidade do PSD, Passos Coelho também disse “já estamos fartos de um Governo que nunca sabe o que diz e nunca sabe o que assina em nome de Portugal. O Governo está-se a refugiar em desculpas para não dizer como é que tenciona concretizar a baixa da TSU com que se comprometeu no memorando. Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa”.

Sempre debaixo de estrondosos aplausos de colegas e professores, Passos Coelho também disse que “se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas. Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português. A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento. Pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos”.

Continuando a deleitar novos e velhos colegas da Universidade, Passos Coelho também disse que “não aceitaremos chantagens de estabilidade, não aceitamos o clima emocional de que quem não está caladinho não é patriota. O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento”.

Para rematar a sua brilhante dissertação, certamente digna de figurar no pedestal que homenageia os mais mentirosos do mundo, Passos Coelho disse: “Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate. Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?”

Se não sabem como é possível, basta ver o exemplo das ocidentais praias lusitanas a norte, embora cada vez mais a sul, de Marrocos.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: CALCINHAS NO REINO DOS MATUMBOS

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