segunda-feira, 2 de abril de 2012

AZAWAD – A AREIA E A FÚRIA – I



Martinho Júnior, Luanda

1 – Em Maio de 2011 fiz a previsão que a mancha de instabilidade iria alastrar a partir da Líbia, em direcção oeste e para dentro de África, começando a afectar a imensa região do Sahara / Sahel (“O arco de crise em direcção a África” – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/05/o-arco-de-crise-em-direccao-africa.html); naquela altura entre outros detalhes escrevi:

… Em relação a África, onde as sequelas da Conferência de Berlim continuam evidentes e onde proliferam elites mais ou menos afins, geradas pelo espectro do capitalismo, o campo está fértil, mesmo que alguns líderes procurem respostas apelando à unidade continental, condenando as sucessivas intervenções “cirúrgicas” contra Kadafi, ou propondo políticas de diálogo e de concertação”…

… “A Líbia tem na sua posição geográfica de proximidade à Europa, um poder de atracção geo estratégico extra.

As tentativas da Unidade Africana de pôr fim aos combates e partir para o diálogo entre as partes, resultou e resultará num patético esforço que não terá em princípio qualquer tipo de audiência, será como que um brado no deserto, daí a renitência dos rebeldes em aceitá-la agora que a OTAN persegue Kadafi sob pretexto de atacar postos de comando de suas operações contra civis…

Na pior das hipóteses… a Líbia poderá ser dividida, mantendo a OTAN na Cirenaica uma testa-de-ponte estratégica, com base nas raízes históricas e sociais da monarquia que ali teve início sob a forma de Emirato, tirando partido da situação tribal.

Uma Líbia dividida pode ser muito importante para se continuar o jogo africano, explorando as sequelas da Conferência de Berlim e de outros Tratados coloniais de conveniência, entre eles o de Simulambuco”…

Efectivamente, o “caso da Líbia” evidenciava sob o ponto de vista político-social e desde logo uma “mistura explosiva” para África: impulsionava-se regionalismo e tribalismo, ao mesmo tempo que se abriam espaços a todo o tipo de fundamentalismos, incluindo aqueles que foram forjados à imagem e semelhança da Al Qaeda, o que era um precedente de consequências nefastas para uma África cujas fronteiras são como o vento, forjadas que foram pelas potências coloniais nos finais do século XIX!

A percepção do império em relação a isso tem vindo de longe e voltou a ser lembrada em 2006, pela então Subsecretária da Defesa para os Assuntos Africanos dos Estados Unidos, Theresa Whelan, numa conferência em Lisboa (“A política dos EUA em África”) e a propósito de Angola e Moçambique, mas no fundo referindo-se a toda o continente ("Áreas sem governação em Angola e Moçambique preocupam EUA” – http://www.rtp.pt/noticias/?article=127780&layout=121&visual=49&tm=7&):

“De acordo com a responsável pela política de Defesa do Pentágono para a África Subsaariana, que falava no Instituto de Defesa Nacional perante uma audiência maioritariamente formada por altas patentes militares e diplomatas, as áreas sem governação são espaços de eleição para o terrorismo internacional.

Whelan não escondeu que a comunidade internacional está a viver um tempo perigoso nos planos político, económico e militar, cuja imprevisibilidade só tem paralelo histórico com o período entre as duas guerras mundiais”…

… Para a configuração deste quadro indicou a persistência da crise política, económica e de segurança na África Subsaariana, o grave problema da corrupção, e a debilidade dos Estados para protegerem as suas fronteiriça e fazerem prevalecer o império da lei.

Face a uma maior dificuldade de previsão das situações anómalas, Whelan defendeu o imperativo de formular a tempo medidas preventivas e, também, o trabalho em parceria.

A subsecretária norte-americana identificou áreas sem governação na fronteira entre a África do Norte e o Sahel (grande zona desértica que atravessa transversalmente o continente), no Golfo da Guiné, Senegal, Angola, Delta do Níger (Nigéria), norte do Mali, Sudão, Somália, fronteira do Quénia, norte de Moçambique, África do Sul e Canal de Moçambique”.

O recado era dado à OTAN e a África, pela via de Portugal, do qual se esperava os bons ofícios dos seus relacionamentos, inclusive nos relacionamentos de inteligência.

2 – Em 2006 os EUA, velada ou abertamente, apoiavam a rebelião do “Sudan People Liberation Army”, incluindo por via dos mesmos “lobbies” cristãos-fundamentalistas integrantes do Constitution Party que haviam apoiado Savimbi em Angola (“Angolan Christian Rebel Leader Assassinated (Chevron's outrageous we love Angola commercials)” – Brad Phillips & Howard Phillips – http:/www.freerepublic.com/focus/f-chat/2662122/posts), um apoio que conduziu a severas críticas ao Presidente George Bush, quando recebeu e visita oficial o Presidente José Eduardo dos Santos.

Quer isso dizer:

- Que haviam sido os EUA a estimular enquanto foi de seu interesse Savimbi, aproveitando precisamente as “áreas sem governação”, incluindo as que haviam sido promovidas pelo regime do “apartheid” da África do Sul, em relação a Angola (ver ainda, por exemplo, “Savimbi’s elusive victory in Angola” – http://thomas.loc.gov/cgi-bin/query/z?r101:E26OC9-320:; “UNITA in Angola – freedom vs communim” – http://www.conservativeusa.org/angola.htm).

- Que desencadearan os EUA alguns dos principais interesses apoiantes do “SPLA” (com entidades que incluíram Brad e Howard Phillips) no Sudão tal como em Angola aconteceu com Savimbi, no caso do Sudão com vista à separação do sul, uma “área sem governação” aproveitada pelos interesses norte americanos (“A criação dum estado, Sudão do Sul” – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/05/criacao-de-um-estado-o-sudao-do-sul.html; “The anglican and the evangelicals – insights from the sudanese genocide” – http://www.religiondispatches.org/archive/politics/4979/the_anglican_and_the_evangelicals%3A_insights_from_the_sudanese_genocide__/; “Blackwater to rich settlement with US DOJ on violating Sudan Sanctions” – http://www.sudantribune.com/spip.php?iframe&page=imprimable&id_article=35511).

- Que a partir da fragmentação do Sudão, os interesses norte americanos indiciam que, pelo menos em relação à vasta região Sahara / Sahel, “dão a sua mão” para redesenhar o mapa de África: quanto mais divididos andarem os africanos melhor para os interesses corporativos do império e das grandes potências ocidentais aliadas no quadro da OTAN, em relação aos acessos baratos ás matérias primas, conforme aliás parece indiciar o que está a suceder na Líbia post-Kadafi, agora se começa a sugerir no Mali e no que por aí adiante se sucederá...

3 – Na Líbia post-Kadafi tem-se assistido à tendência para a fragmentação, pois para muitos “A nova Líbia não arranca” (http://ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=100105):

- A região leste, Cirenaica, declarou a sua autonomia aparentemente federativa (http://portuguese.ruvr.ru/2012_03_06/67727259/; http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2012/03/20123771523372117.html);

- Em Misrata, a terceira maior cidade líbia, os rebeldes têm adoptado uma atitude de desafio em relação ao novo regime (http://portuguese.ruvr.ru/2012_03_08/67924173/);

- Têm havido combates entre milícias 70 km a sul de Tripoli (http://www.rebelion.org/noticia.php?id=143016);

- Milícias rebeldes têm também enfrentado resistências em Bani Walid, que foi um dos baluartes dos fieis a Kadafi;

- Em Sabha, 750 km a sul da capital, milícias aparentemente às ordens de Tripoli têm atacado elementos da tribo toubu, habitantes negros duma etnia do sul da Líbia que se encontra também espalhada pelo Chade e pelo Níger (“Primeiro-ministro líbio anuncia trégua para acabar com confrontos em Sabha” – http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5gP_gP-Vjxgoi0kNI5ChQ6nj2h_cg?docId=CNG.f7b65a2002ea561971840731280bdf6f.2a1).

Mapa:
Posições sob controlo do Movimento de Libertação Nacional do Azawad no norte de Líbia, até 1 de Abril de 2012; entretanto a situação vai evoluindo a seu favor: primeiro Kidal, depois Gao e finalmente Tombuctu!

3 comentários:

Anónimo disse...

El golpe de Estado en Malí

Olivier Laurent
WSWS

Soldados amotinados dirigidos por el capitán Amadu Sanogo tomaron el poder el jueves [22 de marzo de 2012] por la mañana en la capital de Mali, Bamako, y decidieron disolver las instituciones, suspender la Constitución, instaurar un toque de queda y cerrar las fronteras por una duración indeterminada.
Se calcula que el golpe de Estado que empezó el miércoles ha causado cuarenta muertos, varios de los cuales son civiles. Todavía no es seguro que la Junta haya logrado apropiarse de todos los resortes del poder.
El portavoz de la Junta, Amadu Konaré, es teniente; no parece haber oficiales de alta graduación en la Junta ya que o bien han sido detenidos o no ha opuesto resistencia alguna.
Reprochaban al presidente Amadu Tumani Turé, en el poder desde 2002, ser “incompetente” ante la rebelión de los tuaregs del norte del país. Esta rebelión empezó el 17 de enero dirigida por el Movimiento Nacional de Liberación del Azawad (MNLA) y otros rebeldes, reforzado por veteranos de la guerra de Libia del año pasado fuertemente armados que lucharon en favor del dictador Muammar Gadafi...

...
Si bien los Estados occidentales y la ONU han proferido las recriminaciones habituales, se dejaba ver que la OTAN ya no consideraba a Turé un aliado fiable. El pasado 24 de noviembre L' Express citaba a un alto responsable francés familiarizado con la región y que conservaba el anonimato, el cual se quejaba: “Estamos muy enfadados con los malianos. Ya se trate de las células de al-Qaeda en el Magreb islámico que operan en el extremo norte del país, de sus relaciones con los tuaregs o del tráfico de cocaína latinoamericana camino de Europa, ya no se trata de la pasividad sino de la complicidad. Tenemos pruebas irrefutables. [Al-Qaeda] es hay más fuerte que antes de que se lanzara en 2008 el Plan Sahel, un dispositivo antiterrorista en el que París ha hecho inversiones enormes”.
El mes pasado Turé concedió una entrevista a L ' Express en la que declaró: “En relación a las rebeliones árabo-tuaregs locales, Gadafi se había comprometido en la mediación, el desarme y la reinserción. Su caída deja un vacío. […] Desde un principio habíamos avisado a la OTAN y a los demás de los efectos colaterales de la crisis libia, pero no se nos escuchó”...


http://www.rebelion.org/noticia.php?id=147364

Anónimo disse...

Clashes in Sabha, real time updates [27.03.2012.]
Source Libya S.O.S. FB page

...

This is what Reuters says: Militia clashes in southern #Libya kill nearly 50
http://www.reuters.com/article/2012/03/27/us-libya-clashes-idUSBRE82Q15K20120327?irpc=932
12h/ "Local sources confirmed to us that Tuareg in the region of Ubari captured more than 90 Zentan fighters,and siezed all their military equipment!"


12h/ Tripoli -Green Square has been blocked to prevent access to it and Omar Mukhtar Street and patrols on Friday market (Souk Al Jouma) are intensifying
11:50/ #Tripoli -Resistance attacked a checkpoint in Gargaresh
11:45/ 98 Zentan inventory have been arrested in a battle with their weapons - Ubari


11:35/ Internal minister Joweili resigned over the situation in Sabha..

11:30/ NATO bombed Zentan military convoy thinking its Tobou coming out from the desert on the way to Sabha. And the rats which started from Benghazi to get into Sabha, stationed themselves in Jufra, not having enough courage to enter the battle yet?
23h/ Video form hospital in SABHA
http://www.youtube.com/watch?v=g7KOL-hU0UY

...

http://libyasos.blogspot.com/2012/03/report-libya-clashes-in-sabha-27032012.html

Anónimo disse...

Libyan Resistance News: NTC bombed cities in Libya today!

*** URGENT: military aircraft bombed the cities Jamil and Zuwara today! NTC has been bombing cities around Libya today, and the world is SILENT!

*** Military jets bombing civilian districts in Ragdalin today!!Where is NATO to impose no-fly zone NOW? NEW LIBYAN GOVERNMENT IS BOMBING CIVILIANS IN RAKDALIN AND JAMIL! WHERE ARE HRW and Amnesty International HYPOCRITES NOW?? Dirty hypocrite scumbags!!!

...

http://libyasos.blogspot.com/2012/04/libyan-resistance-news-ntc-bombed.html

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