quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A MORTE LENTA DA EUROPA UNIDA

 


Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião
 
Ou os dirigentes actuais da Europa se afirmam ou ela se fina de vez
 
Como nos filmes de desenhos animados, o monstro (seja bom seja mau) vai morrendo aos poucos, com sobressaltos maiores ou menores consoante os casos. O monstro bom morre suavemente; o monstro mau uiva, grunhe e gesticula até se finar.
 
Assim vai a Europa, berço de uma civilização, de um modo de vida global e tendencialmente de uma série de procedimentos e de padronizações, que chegaram ao nível indumentário e comportamental, aproximando mais os seres humanos uns dos outros que quaisquer os conceitos filosófico-religiosos.
 
Concretizada essa revolução mundial, a verdade é que em tese a Europa poderia morrer sem que ninguém fora dela se preocupasse muito com isso.
 
Há não muito tempo, um órgão de comunicação asiático afirmava que seria uma pena que a Europa entrasse em colapso porque as suas cidades são magníficas e devem ser visitadas.
 
Trata-se de uma posição um tanto revanchista, susceptível de ser interpretada de duas formas: ou no sentido literal (vamos lá ver aquilo como eles vinham ver a Muralha da China) ou no sentido simbólico (a Europa já deu o que tinha a dar do ponto de vista económico).
 
Mas ambas estão certas. A Europa, se mantiver o rumo actual e não souber unir-se nesta fase, pouco mais será no futuro que um local exótico de visita, cultura e lazer. Matriz cultural do mundo, sobretudo a do Sul, a Europa ainda não percebeu que, no ponto a que chegou, já só tem um caminho pela frente, que passa pela união e pela acção concertada.
 
É certo que é o trajecto porventura mais difícil de sempre, porque verdadeiramente é mais aquilo que a divide que aquilo que a une. Não há, como nas Américas do Norte e Latina, valores agregadores. Não há, como no Médio Oriente e na Ásia, aspectos identitários específicos mas que aglutinam. Não há, como em África, uma causa comum de libertação contra o colonialismo. Não há, como na Oceânia, vontade de viver à parte uma vida confortável.
 
Os próximos dias serão mais cruciais para a Europa da União do que ela própria tem consciência.
 
Na procura de um orçamento, vai ser preciso encontrar um equilíbrio entre quem paga e quem recebe, possibilitando uma convivência minimamente sustentável e uma economia comum que permita repartir e distribuir, evitando rupturas e assimetrias que irremediavelmente conduzirão à conflitualidade.
 
O governo português já marcou posição e fez bem em dizer, através de Paulo Portas e do primeiro-ministro, que se a proposta não for alterada não pode ser aceite, sintetizando que teremos um discurso nacional e simultaneamente europeu.
 
Com a débâcle da França, o surrealismo económico britânico, a hegemonia alemã e mais uns quantos pequenos corpos celestes à roda, a Europa precisa hoje de encontrar um acordo orçamental, mas sobretudo de um rumo político.
 
A geração que está no poder ronda os 50 anos e não tem tido a capacidade de fazer a síntese entre dois sistemas de tendências opostas, um mais social outro mais liberal.
 
Antes deles houve a era dos grandes políticos, que acabou com Kohl. Depois deles pouco ou nada. Agora ou se afirmam ou, para alegria de muitos, a Europa fina-se.
 

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