Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Ou os dirigentes
actuais da Europa se afirmam ou ela se fina de vez
Como nos filmes de
desenhos animados, o monstro (seja bom seja mau) vai morrendo aos poucos, com
sobressaltos maiores ou menores consoante os casos. O monstro bom morre
suavemente; o monstro mau uiva, grunhe e gesticula até se finar.
Assim vai a Europa,
berço de uma civilização, de um modo de vida global e tendencialmente de uma
série de procedimentos e de padronizações, que chegaram ao nível indumentário e
comportamental, aproximando mais os seres humanos uns dos outros que quaisquer
os conceitos filosófico-religiosos.
Concretizada essa
revolução mundial, a verdade é que em tese a Europa poderia morrer sem que
ninguém fora dela se preocupasse muito com isso.
Há não muito tempo,
um órgão de comunicação asiático afirmava que seria uma pena que a Europa
entrasse em colapso porque as suas cidades são magníficas e devem ser
visitadas.
Trata-se de uma
posição um tanto revanchista, susceptível de ser interpretada de duas formas:
ou no sentido literal (vamos lá ver aquilo como eles vinham ver a Muralha da
China) ou no sentido simbólico (a Europa já deu o que tinha a dar do ponto de
vista económico).
Mas ambas estão
certas. A Europa, se mantiver o rumo actual e não souber unir-se nesta fase,
pouco mais será no futuro que um local exótico de visita, cultura e lazer.
Matriz cultural do mundo, sobretudo a do Sul, a Europa ainda não percebeu que,
no ponto a que chegou, já só tem um caminho pela frente, que passa pela união e
pela acção concertada.
É certo que é o
trajecto porventura mais difícil de sempre, porque verdadeiramente é mais
aquilo que a divide que aquilo que a une. Não há, como nas Américas do Norte e
Latina, valores agregadores. Não há, como no Médio Oriente e na Ásia, aspectos
identitários específicos mas que aglutinam. Não há, como em África, uma causa
comum de libertação contra o colonialismo. Não há, como na Oceânia, vontade de
viver à parte uma vida confortável.
Os próximos dias
serão mais cruciais para a Europa da União do que ela própria tem consciência.
Na procura de um
orçamento, vai ser preciso encontrar um equilíbrio entre quem paga e quem
recebe, possibilitando uma convivência minimamente sustentável e uma economia
comum que permita repartir e distribuir, evitando rupturas e assimetrias que
irremediavelmente conduzirão à conflitualidade.
O governo português
já marcou posição e fez bem em dizer, através de Paulo Portas e do
primeiro-ministro, que se a proposta não for alterada não pode ser aceite,
sintetizando que teremos um discurso nacional e simultaneamente europeu.
Com a débâcle da
França, o surrealismo económico britânico, a hegemonia alemã e mais uns quantos
pequenos corpos celestes à roda, a Europa precisa hoje de encontrar um acordo
orçamental, mas sobretudo de um rumo político.
A geração que está
no poder ronda os 50 anos e não tem tido a capacidade de fazer a síntese entre
dois sistemas de tendências opostas, um mais social outro mais liberal.
Antes deles houve a
era dos grandes políticos, que acabou com Kohl. Depois deles pouco ou nada.
Agora ou se afirmam ou, para alegria de muitos, a Europa fina-se.
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