Nicolau Santos –
Expresso, opinião, em Blogues
Supermercado do
centro comercial das Amoreiras, fim da tarde de terça-feira. Uma jovem mãe,
acompanhada do filho com seis anos, está a pagar algumas compras que fez:
leite, manteiga, fiambre, detergentes e mais alguns produtos.
Quando chega ao
fim, a empregada da caixa revela: são 84 euros. A mãe tem um sobressalto, olha
para o dinheiro que traz na mão e diz: vou ter de deixar algumas coisas. Só
tenho 70 euros.
Começa a pôr de
lado vários produtos e vai perguntando à empregada da caixa se já chega. Não, ainda
não. Ainda falta. Mais uma coisa. Outra. Ainda é preciso mais? É. Então este
pacote de bolachas também fica.
Aí o menino agarra
na manga do casaco da mãe e fala: Mamã, as bolachas não, as bolachas não. São
as que eu levo para a escola. A mãe, meio envergonhada até porque a fila por
trás dela começava a engrossar, responde: tem de ser, meu filho. E o menino de
lágrima no canto do olho a insistir: mamã, as bolachas não. As bolachas não.
O momento
embaraçoso é quebrado pela senhora atrás da jovem mãe. Quanto são as bolachas,
pergunta à empregada da caixa. Ponha na minha conta. O menino sorriu. Mas foi
um sorriso muito envergonhado. A mãe agradeceu ainda mais envergonhada. A
pobreza de quem nunca pensou que um dia ia ser pobre enche de vergonha e pudor
os que a sofrem.
Tenho a certeza que
o ministro Vítor Gaspar não conhece este menino, o que seria obviamente muito
improvável. Mas desconfio que o ministro Vítor Gaspar não conhece nenhuns
meninos que estejam a passar pela mesma situação. Ou se conhece considera que
esse é o preço a pagar pela famoso ajustamento. É isso que é muito preocupante.
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