terça-feira, 11 de junho de 2013

DIA DE PORTUGAL. PRESIDENTE UNE-SE AO GOVERNO CONTRA O PESSIMISMO

 

Pedro Rainho – Jornal i
 
Cavaco Silva recusa ceder aos apelos para um novo governo e abre caminho à recuperação económica através da agricultura, da aposta no património e no turismo
 
Um círculo perfeito. Em Elvas, palco das cerimónias do 10 de Junho, o Presidente da República abriu o discurso oficial referindo-se às "fortificações" da cidade como símbolo de luta e da resistência ao adversário espanhol, e terminou a intervenção na trincheira discursiva defendendo-se daqueles que têm olhado para Belém como o terceiro pilar que sustenta o governo. O discurso agradou ao governo e ao PSD, ou não tivesse o Presidente da República recusado pôr-se ao lado daqueles que pretendem "alimentar o pessimismo e contribuir para o desânimo dos portugueses". "Para isso não contarão comigo", esclareceu o chefe de Estado no Centro de Negócios de Elvas, numa altura em que todos os partidos da oposição e figuras como Mário Soares apelam frequentemente à realização de eleições antecipadas.
 
O PSD não escondeu o entusiasmo com a mensagem de Cavaco e a vice-presidente do partido Teresa Leal Coelho considerou mesmo que "é um discurso que pode iniciar uma nova vida em Portugal em matéria de discursos". Na prática, a responsável do PSD viu nas palavras do chefe de Estado a condenação de uma "claque pessimista" em detrimento de "uma reflexão sobre as questões essenciais do país".
 
No discurso de encerramento das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, Cavaco não alinhou com os críticos desta política e insistiu na ideia de que a sua acção se faz na sombra dos gabinetes - através de uma "cooperação estratégica" e de uma "magistratura activa". "Tudo farei para actuar de forma construtiva", sublinhou Cavaco, rejeitando, como alguns pretendem, "uma magistratura negativa e conflitual" ou ser "um actor político que participa e se envolve no jogo entre maiorias e oposições".
 
A intervenção procurou aplacar, um mês e meio depois, as críticas de que foi alvo pelo discurso proferido na Assembleia na República na cerimónia do 25 de Abril. Na altura, Cavaco insurgiu-se contra a ausência de diálogo entre os responsáveis políticos. "De nada valerá ganhar ou perder eleições, de nada valerá integrar o governo ou estar na oposição", avisou então o chefe de Estado.
 
Ontem, recuperando o tema que o levou a convocar o Conselho de Estado de 20 de Maio, o Presidente lembrou que Portugal deve preparar-se para o fim do programa de assistência financeira, que se "avizinha". Nesse momento o país ficará "dependente da confiança que em nós depositarem os mercados e os investidores" e, "independentemente de quem seja governo, os desafios serão tão grandes que temos de começar, desde já, a antecipá-los e a preparar-nos" - em conjunto. Cavaco já tinha deixado claro que quer ver o governo cumprir todo o mandato, mas veio agora convocar o PS para um regresso ao diálogo com o executivo, uma vez que a recuperação económica e a criação de emprego no pós- -troika "dependerão criticamente do consenso social que formos capazes de preservar e do compromisso quanto às linhas de rumo do país [?] que às forças políticas compete estabelecer".
 
Com uma taxa de desemprego que ronda os 20%, o chefe de Estado deu o palco principal da intervenção à reabilitação do património, à agricultura e ao turismo como a "aposta do futuro". "Existe [?] uma consciência mais clara sobre a importância do património, inclusivamente do ponto de vista económico." E os autarcas têm, para Cavaco Silva, sido pioneiros na tomada de "consciência" dessa mais-valia. "A recuperação de edifícios degradados e a valorização dos centros históricos são factores que, no imediato, geram emprego e mobilizam a actividade económica", disse.
 
Mas não só de património se fará a recuperação. A agricultura terá uma "importância estratégia" e por isso Cavaco aproveitou a ocasião para "desfazer equívocos" sobre a evolução do sector no país. Pensar que "a adesão de Portugal às Comunidades implicou a destruição do mundo rural e a perda irreversível da nossa capacidade produtiva no sector primário" é, para o chefe de Estado, um retrato "completamente desfasado da realidade". E atrás de um regresso ao campo, acredita o Presidente, hão-de vir "o turismo, o artesanato industrial ou o comércio", que em conjunto contribuirão para "a qualidade de vida nos centros urbanos de média dimensão situados no espaço rural".
 
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