Pedro Rainho –
Jornal i
Cavaco Silva recusa
ceder aos apelos para um novo governo e abre caminho à recuperação económica
através da agricultura, da aposta no património e no turismo
Um círculo
perfeito. Em Elvas, palco das cerimónias do 10 de Junho, o Presidente da República
abriu o discurso oficial referindo-se às "fortificações" da cidade
como símbolo de luta e da resistência ao adversário espanhol, e terminou a
intervenção na trincheira discursiva defendendo-se daqueles que têm olhado para
Belém como o terceiro pilar que sustenta o governo. O discurso agradou ao
governo e ao PSD, ou não tivesse o Presidente da República recusado pôr-se ao
lado daqueles que pretendem "alimentar o pessimismo e contribuir para o
desânimo dos portugueses". "Para isso não contarão comigo",
esclareceu o chefe de Estado no Centro de Negócios de Elvas, numa altura em que
todos os partidos da oposição e figuras como Mário Soares apelam frequentemente
à realização de eleições antecipadas.
O PSD não escondeu
o entusiasmo com a mensagem de Cavaco e a vice-presidente do partido Teresa
Leal Coelho considerou mesmo que "é um discurso que pode iniciar uma nova
vida em Portugal em matéria de discursos". Na prática, a responsável do
PSD viu nas palavras do chefe de Estado a condenação de uma "claque pessimista"
em detrimento de "uma reflexão sobre as questões essenciais do país".
No discurso de
encerramento das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades,
Cavaco não alinhou com os críticos desta política e insistiu na ideia de que a
sua acção se faz na sombra dos gabinetes - através de uma "cooperação
estratégica" e de uma "magistratura activa". "Tudo farei
para actuar de forma construtiva", sublinhou Cavaco, rejeitando, como
alguns pretendem, "uma magistratura negativa e conflitual" ou ser
"um actor político que participa e se envolve no jogo entre maiorias e
oposições".
A intervenção
procurou aplacar, um mês e meio depois, as críticas de que foi alvo pelo
discurso proferido na Assembleia na República na cerimónia do 25 de Abril. Na
altura, Cavaco insurgiu-se contra a ausência de diálogo entre os responsáveis
políticos. "De nada valerá ganhar ou perder eleições, de nada valerá
integrar o governo ou estar na oposição", avisou então o chefe de Estado.
Ontem, recuperando
o tema que o levou a convocar o Conselho de Estado de 20 de Maio, o Presidente
lembrou que Portugal deve preparar-se para o fim do programa de assistência
financeira, que se "avizinha". Nesse momento o país ficará
"dependente da confiança que em nós depositarem os mercados e os
investidores" e, "independentemente de quem seja governo, os desafios
serão tão grandes que temos de começar, desde já, a antecipá-los e a
preparar-nos" - em conjunto. Cavaco já tinha deixado claro que quer ver o
governo cumprir todo o mandato, mas veio agora convocar o PS para um regresso
ao diálogo com o executivo, uma vez que a recuperação económica e a criação de
emprego no pós- -troika "dependerão criticamente do consenso social que
formos capazes de preservar e do compromisso quanto às linhas de rumo do país
[?] que às forças políticas compete estabelecer".
Com uma taxa de
desemprego que ronda os 20%, o chefe de Estado deu o palco principal da
intervenção à reabilitação do património, à agricultura e ao turismo como a
"aposta do futuro". "Existe [?] uma consciência mais clara sobre
a importância do património, inclusivamente do ponto de vista económico."
E os autarcas têm, para Cavaco Silva, sido pioneiros na tomada de
"consciência" dessa mais-valia. "A recuperação de edifícios degradados
e a valorização dos centros históricos são factores que, no imediato, geram
emprego e mobilizam a actividade económica", disse.
Mas não só de
património se fará a recuperação. A agricultura terá uma "importância
estratégia" e por isso Cavaco aproveitou a ocasião para "desfazer
equívocos" sobre a evolução do sector no país. Pensar que "a adesão
de Portugal às Comunidades implicou a destruição do mundo rural e a perda
irreversível da nossa capacidade produtiva no sector primário" é, para o
chefe de Estado, um retrato "completamente desfasado da realidade". E
atrás de um regresso ao campo, acredita o Presidente, hão-de vir "o
turismo, o artesanato industrial ou o comércio", que em conjunto
contribuirão para "a qualidade de vida nos centros urbanos de média
dimensão situados no espaço rural".
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