terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

ANGOLA – 4 DE FEVEREIRO: RECORDAR A LUTA PELA LIBERDADE




Em 1961, o dia 4 de Fevereiro marca o início oficial da luta armada. Depois de mais de meio século, relembrar essa data não tem sido fácil para os angolanos. Muitos preferem esquecer as histórias que reflectem dor e sofrimento, enquanto outros orgulham-se da coragem que tiveram os seus antepassados, ao tornar Angola livre da opressão e das inquietudes do colonialismo. Contudo, independentemente de sentimentos de orgulho ou vergonha, sempre se demonstrou impossível fugir à história de um povo.

Angola e Portugal: Uma relação de séculos

Angola foi a primeira colónia onde se iniciou a luta armada organizada contra o domínio português. A data de início do conflito não é consensual para todas as partes envolvidas, contudo, para o Governo angolano, só reconhece o 4 de Fevereiro de 1961 como o dia oficial do início da Luta Armada de Libertação Nacional. O contexto desses acontecimentos encontram-se numa linha do tempo maior do que se possa imaginar. Portanto, para o interpretarmos com coerência, é necessário dar alguns passos atrás.

Depois de quatro séculos de presença em território africano, e de conseguir vencer heróis nacionais e a sua oposição e resistência, como Nzinga Mbande e Mandume ya Ndemofayo, Portugal reivindicou a soberania de Angola junto das outras potências europeias na Conferência de Berlim em 1884.

Entretanto, no início do século XX, Portugal, liderado por António de Oliveira Salazar, olhava para Angola não só pela possibilidade de crescimento do seu regime mas também pelas potencialidades económicas. Terra rica em recursos naturais como o café, petróleo, diamantes, minério de ferro e algodão, este último recurso teve um papel preponderante no decurso da história entre os dois países.

A luta pela liberdade: Os primeiros passos e a revolta da Baixa de Cassange

Em 1961 mais de 126 mil colonos já residiam em Angola. Um número demasiado elevado aos olhos de alguns, principalmente do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e a UPA (União dos povos de Angola), "pai" da actual FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) eram exemplos disso. Um mês antes do famoso 4 de fevereiro, deu-se a revolta da Baixa de Cassange em Malange. Segundo fontes próximas aos acontecimentos, António Mariano da UPA esteve por trás da "empreitada" e em muitos círculos o acontecimento é também lembrado como “Guerra de Maria”. Milhares de trabalhadores dos campos de algodão da companhia Luso-Belga Cotonang revoltam-se pela constante repressão colonial e as duras condições de trabalho.

Deu-se início a uma greve geral enquanto os trabalhadores armavam-se de catanas e canhangulos, as famosas espingardas artesanais. A destruição de casas, pontes e plantações  trouxeram a ira portuguesa que respondeu de forma dura e violenta: companhias de caçadores especiais e bombas incendiárias lançadas de aviões da Força Aérea Portuguesa provocaram a morte de mais de 300 pessoas. Neste caso as fontes divergem no número, alguns indicam chegar mesmo aos milhares.

Este dia foi o ponto de partida para o crescer do sentimento nacionalista, que contribuiu para o despertar de uma consciência patriótica que impulsionou os acontecimentos que viriam a seguir.

4 de fevereiro: O início do fim

Enquanto ainda duravam as operações de contenção da revolta de Cassange, chegava a madrugada de 4 de Fevereiro. Um foguete, accionado num bairro vizinho da Cadeia de São Paulo, rebentava às quatro horas da manhã, dando sinal para que mais de 250 nacionalistas, divididos em 10 grupos, e vestidos de camisolas e calções pretos e de catanas em punho, largassem os bairros a caminho das cadeias.

Atacam simultaneamente a Casa de Reclusão Militar, em Luanda, a Cadeia da 7ª esquadra da polícia, a cadeia da PIDE no bairro de São Paulo e tentam ocupar a sede dos Correios e a Emissora Nacional de Angola. Dentro da prisão, os grupos de presos que, há meses, preparavam a fuga, resolviam avançar, preparados com todos objectos que fossem cortantes. Com o objectivo de libertar alguns detidos e sem armamento adequado à situação real, o ataque foi um fracasso. 40 assaltantes perderam a vida, juntamente com cinco polícias, um cabo e sete guardas prisionais.

O MPLA reivindicou os assaltos e os líderes dos grupos Paiva da Silva e Imperial Santana ficaram conhecidos como os autores desse dia. É precisamente neste parte que a história tropeça. Fontes ligadas ao partido  afirmam que o MPLA não teve peso suficiente nos acontecimentos e que muitos dos seus militantes estavam na Guiné Conacry, na altura confrontados com as difíceis condições políticas impostas pela vigilância policial e militar. A fonte revela que um dos intervenientes principais desse dia foi o cónego Manuel Mendes das Neves, “Neves Mendinha” que na altura tinha ligações à UPA juntamente com Raul Deão.

O Comité Director do MPLA concebeu um comunicado na altura, onde assume a autoria do assalto, liderado à distância em articulação com a ala interna do movimento. O comunicado foi divulgado em todas as rádios da época, tendo mobilizado a comunidade internacional, os países africanos já independentes, os Estados Unidos e alguns países do então bloco socialista do Leste Europeu. Desta mobilização conseguiu-se obter meios financeiros e materiais, tais como armamento e outros equipamentos, bem como meios referentes à assistência médica e medicamentosa.

O ataque coincidiu com a presença de jornalistas estrangeiros que aguardavam por notícias do navio Santa Maria, que tinha sido desviado pelo capitão Henrique Galvão e outros oposicionistas ao regime português, e que, supostamente, iria atracar em Luanda. Desta forma, o evento foi de conhecimento público.

O ataque, ao combinar o “timing” certo com uma estratégia política nacionalista à altura do poder colonial, dá passos sucessivos para afirmação do  poder de guerrilha e não-conformismo dos nacionais.

A 6 de Fevereiro, durante as cerimónias fúnebres dos polícias, mais de 20 angolanos foram mortos devido a uma suposta provocação. No mesmo dia, segundo um missionário Metodista, as autoridades portuguesas e cidadãos brancos atacam cidadãos angolanos que viviam nos musseques, matando cerca de 300 pessoas.

15 de Março: O que viria a seguir

No mês seguinte nada parecia ter acontecido. A acalmia demonstrou-se provisória com o primeiro ataque da UPA de Holden Roberto no dia 15 de Março, nas províncias do Uíge e do Zaire. O ataque foi orquestrado no Congo meses antes e disfarçado de evento festivo - “Dia do casamento da filha do Nogueira”. Durou três dias onde as forças da UPA invadiram fazendas e postos administrativos, tirando a vida a todos que encontrassem pelo caminho. Munidos de catanas e canhangulos, os homens da UPA acreditavam serem invencíveis e imunes às balas dos colonos, que a seu ver eram feitas de água.

Os ataques estenderam-se até Kwanza-Norte, Luanda e Bengo, e estima-se que mais de cinco mil pessoas tenham morrido. Portugal não consegue responder como em situações anteriores. Foram os próprios colonos que se organizaram em conjunto com o governo para criar a Organização Provincial de Voluntários da Defesa Civil de Angola. A resposta foi violenta.

A partir desta data, e depois de todos os acontecimentos registados desde o início do ano, Angola e Portugal estão em guerra. Movimentos anti-coloniais como o MPLA, a FNLA e a UNITA crescem e ganham força nos anos seguintes. Nomes como Agostinho Neto, Lúcio Lara, Holden Roberto, Jonas Savimbi são repetidos pelos quatro cantos do país em busca de liberdade nacional até à luta entre si pela conquista do poder. Aliado a esta inevitabilidade estavam factores externos como a ajuda internacional e a Revolução dos Cravos em Portugal um ano antes da independência de Angola, 1974.

Angola tornou-se independente a 11 de Novembro de 1975 e hoje é um dos maiores parceiros políticos e económicos de Portugal 

Sapo - Ianick Fernandes

Fontes: Angop, Público, Observador, In Viagem a Angola de Daniel Metcalfe

Renamo condiciona encontro entre PR e Dhlakama à aceitação das suas exigências




A Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) condicionou hoje a realização de um encontro entre o líder do partido, Afonso Dhlakama, e o Presidente à aceitação das suas exigências.

"Importante não é o encontro com o líder da Renamo, importante é acolher o que a Renamo reivindica", defendeu hoje à Lusa António Muchanga, porta-voz do maior partido de oposição, no dia em que o Presidente, Filipe Nyusi, declarou a sua disponibilidade para dialogar com Dhlakama.

"Estou pronto", afirmou hoje Filipe Nyusi, à margem da cerimónia do Dia dos Heróis, em Maputo, considerando que "o povo tem de ter a certeza de que vai viver em paz" e que já deu sinais da sua disponibilidade para o diálogo, "agora mesmo", e que só assim será possível um entendimento.

O porta-voz da Renamo disse hoje que o seu partido "já indicou algumas pessoas para iniciar essa aproximação e que é com elas que Nyusi tem de falar", para que um eventual encontro com Dhlakama "não seja um fracasso".

O presidente do maior partido de oposição percorreu nas últimas semanas as províncias do centro e norte do país, continuando a atrair multidões aos seus comícios, agora centrados na mensagem de uma região autónoma nas províncias onde tenciona governar.

"Juro pela alma da minha mãe, eu vou criar o governo do centro e norte", disse Dhlakama no sábado, durante um comício em Nampula, durante o qual voltou a rejeitar pegar em armas para conseguir os seus objectivos, na condição de não ser provocado.

"Não queremos guerra, mas se os comunistas da Frelimo tentarem provocar, disparar, a resposta da Renamo será dada na cidade de Maputo", afirmou, repetindo a ameaça já deixada há uma semana, em declarações à Lusa, durante uma visita a Quelimane, província da Zambézia, em que também dava conta da sua recusa em avistar-se com Nyusi, "uma pessoa que roubou votos, que fala de boca cheia e arrancou a vitória à oposição".

Nas últimas duas semanas, os enviados do presidente da Renamo encontraram-se quatro vezes com representantes do Presidente, assegurou António Muchanga, sem avançar mais detalhes.

O Governo nunca confirmou estas reuniões, deixando apenas a garantia que está disponível para dialogar e nos últimos dias apelou à Renamo que faça as suas reivindicações nas sedes próprias e que os seus deputados levantem o boicote parlamentar e se sentem nos seus lugares na Assembleia da República e assembleias provinciais.

O porta-voz da Renamo disse ainda que, "lamentavelmente, enquanto a Ponta Vermelha [residência oficial do Presidente da República] faz um discurso, a Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder] diz outra coisa", questionando "quem tem verdadeiramente vontade de dialogar".

A Frelimo desmentiu categoricamente a realização dos encontros entre Renamo e a presidência e hoje, enquanto Nyusi mostrava a sua abertura para o diálogo, o ex-Presidente Armando Guebuza, que se mantém líder do partido no poder, considerou os pronunciamentos de Dhlakama "desastrosos" e reveladores de alguém que "não quer, de facto, dar a sua contribuição para que este país viva em paz".

A Renamo tinha dado um prazo de sete dias ao Governo para se pronunciar sobre a sua exigência de uma região autónoma, e que expirou a 24 de Janeiro, mas, segundo Muchanga, a abertura para o diálogo do executivo levou a que não sejam necessários mais ultimatos.

"Acreditamos que havendo boa-fé podemos ultrapassar os nossos problemas", afirmou o porta-voz da Renamo, anunciando a continuação da digressão de Dhlakama país, com uma visita programada à província de Cabo Delgado, até sábado, a que se seguirá uma deslocação a Niassa.

Lusa

Moçambique: NYUSI DISPONÍVEL PARA DIALOGAR COM DHLAKAMA




O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, diz que está disponível para dialogar de imediato com o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, para preservar a paz no país.

Moçambique assinalou esta terça-feira (03.02.) o Dia dos Heróis Nacionais com cerimónias em todo o país.

A tónica principal das intervenções foi a necessidade de manter o diálogo e preservar a paz e a unidade nacional. Foi nesse sentido que o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, anunciou que está pronto para dialogar "agora mesmo, se houver possibilidade" com o líder do principal partido da oposição.

"Já dei o sinal da prontidão para podermos falar. Só falando é que nos entendemos uns aos outros", disse o chefe de Estado moçambicano.

Esta foi a primeira resposta pública de Nyusi aos pronunciamentos do líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, que ameaça criar um Governo de gestão ou uma região autónoma no centro e norte do país, em protesto contra os resultados das recentes eleições gerais.

Questionado se estaria disponível para abordar com Dhlakama as exigências do líder da oposição, Nyusi afirmou que "o diálogo nunca é pré-condicionado porque também não sabemos o que o povo quer."

"Através da conversa, do diálogo, podemos chegar a conclusões sobre aquilo que achamos ser útil para os moçambicanos", disse.

Apelos ao diálogo sucedem-se

Na mesma ocasião, o embaixador de Portugal em Moçambique, José Augusto Duarte, apelou igualmente ao diálogo sublinhando que há formas democráticas de fazer as coisas sem ser através da perturbação da ordem e da paz estabelecida.

O diplomata português manifestou apreensão em relação aos pronunciamentos de Afonso Dlakhama e disse que o país tem um Parlamento onde as pessoas podem defender os seus pontos de vista.

"Todos nós, quer Moçambique, quer os amigos de Moçambique e, neste caso, Portugal e os portugueses, devemos estar empenhados na paz , na estabilidade e no desenvolvimento", afirmou José Augusto Duarte. "Manifestações de rutura ou de violência são extremamente preocupantes e geram apreensão nas pessoas que querem investir e em quem quer efetivamente apostar no desenvolvimento do país."

"São desastrosos os pronunciamentos de Dhlakama"

Também a representante das Nações Unidas em Moçambique, Jennifer Topping, disse que só com o diálogo se pode garantir o desenvolvimento do país. "Este é um assunto que interessa a todos os moçambicanos. Discutir o futuro do país e a continuação da consolidação da paz e do desenvolvimento. O diálogo está em curso e é importante que continue de forma pacífica."

Já o Presidente do partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), e antigo chefe de Estado, Armando Guebuza, considerou que os pronunciamentos de Dhlakama têm sido "desastrosos".

"Todo o povo fala em construção e ele persiste num discurso destrutivo. Ele não quer de facto dar a sua contribuição para que o nosso país viva em paz", disse Guebuza.

Ao falar com os jornalistas, o Presidente Filipe Nyusi reiterou que é a favor da inclusão, mas, segundo observou, no estrito respeito pela Constituição da República.

"A minha intervenção durante a tomada de posse foi muito clara. Sou pela inclusão, o que significa dar oportunidade a todos os moçambicanos - oportunidades na criação e distribuição de riquezas", afirmou Nyusi.

A RENAMO não marcou presença nas cerimónias do Dia dos Heróis Nacionais, ao contrário do outro partido da oposição com assento parlamentar, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM).

Leonel Matias (Maputo) – Deutsche Welle

CONSTITUIÇÃO MOÇAMBICANA "POSSIBILITA" PROVÍNCIAS AUTÓNOMAS




O constitucionalista moçambicano Gilles Cistac diz que, para criar uma "república autónoma", como pede a RENAMO, seria preciso mudar a Constituição. Mas isso não se aplica à criação de "províncias autónomas".

Afinal, as exigências da RENAMO de uma governação autónoma nas províncias em que obteve a maioria dos votos nas eleições de outubro passado não são tão absurdas ou infundadas, como acusam os críticos. Quem assim o considera é o moçambicano Gilles Cistac.

Em entrevista à DW África, o constitucionalista diferencia o conceito de "república autónoma", termo que usa o maior partido da oposição, de "governação provincial autónoma".

DW África: O que diz a Constituição de Moçambique sobre regiões autónomas?

Gilles Cistac (GC): A Constituição não fala de regiões autónomas, por isso não devemos associar o conceito de "regiões" a autonomia. Senão, seria necessário fazer uma reforma constitucional. Mas é possível falar de "províncias autónomas", porque, segundo a alínea 4 do artigo 273 da Constituição, o legislador pode estabelecer outras categorias autárquicas superiores ou inferiores à circunscrição territorial do município ou da povoação. Ou seja, hoje em dia há apenas autarquias locais de nível municipal, mas se, amanhã, o legislador quiser criar províncias como uma autarquia local pode fazê-lo.

É possível transformar a província numa autarquia local, o que significa criar uma nova pessoa coletiva de direito público, uma nova entidade jurídica, com autonomia. Porque a autarquia local tem autonomia administrativa, financeira e patrimonial.

DW África: Acha que é com base neste fundamento legal que a RENAMO vai negociar com o Governo da FRELIMO?

GC: A minha opinião é pública e creio que os negociadores da RENAMO estão atentos a ela. Não posso impedir que eles a utilizem no diálogo. Para mim seria até uma boa solução, de compromisso, para a solução de uma tensão político-militar bastante aguda.

Também defendi a ideia da técnica legislativa da "lei experimental". Ou seja, pode-se experimentar este modelo apenas em algumas províncias durante um determinado período de tempo – entre três a cinco anos, por exemplo. Depois se avaliaria se o novo modelo de gestão, uma autarquia local de nível provincial, é ou não sustentável, ou se é preciso fazer correções. No termo desta experimentação, o Parlamento poderia estender este modelo a todas as províncias do país.

DW África: A RENAMO terá suficiente preparo legal para poder jogar com este fator? Por exemplo, aquando das revindicações relativamente a irregularidades eleitorais, o partido não soube agir devidamente, algo que o prejudicou…

GC: Penso que a RENAMO deve preparar um projeto mais consistente. Porque esta questão da autonomia levantará problemas relativamente às competências ou financiamento das províncias, por exemplo. Se uma província tiver um orçamento próprio será preciso criar receitas ou transferir receitas do Estado… Será também preciso definir o relacionamento entre o atual governador e esta nova entidade, além do relacionamento entre as autarquias locais, de nível municipal, e a província.

A RENAMO deve estar preparada, do ponto de vista técnico, para este leque de problemas. O partido terá de demonstrar a sustentabilidade do seu projeto. Os assessores da RENAMO deviam ter em conta esses aspetos para convencer o Governo – se o projeto fica "no ar" é claro que o executivo não avançará com isso.

DW África: O que significaria a efetivação de uma governação provincial autónoma para o sistema de governação de uma maneira geral?

GC: Significaria criar uma nova entidade jurídica, com uma autonomia organizativa e financeira, significaria também ter uma política específica ao nível provincial e uma gestão patrimonial autónoma. Esta visão de autonomização será um salto qualitativo muito importante em termos de democracia local. As populações vão eleger pessoas que vão gerir a província e vão poder fiscalizar [mais de perto] a aplicação do programa eleitoral.

Mas tudo isto não significa o desaparecimento do governador. É claro que, com a implementação desta figura da autarquia local de nível provincial, os governadores perderiam muitos poderes. Nesta nova conjuntura de democracia local eles só iriam controlar os atos praticados pela nova autarquia, que é a província.

Nádia Issufo - Deutsche Welle

A PALESTINA GLOBAL



Rui Peralta, Luanda

I - Sob forte contestação dos USA e de Israel, a Autoridade Palestiniana (AP), submeteu a sua admissão ao Tribunal Penal Internacional (TPI) e assinou diversos tratados internacionais. A AP procura, desta forma, levar a julgamento os responsáveis israelitas (políticos e militares) sob a acusação de crimes de guerra nos Territórios Ocupados. Em retaliação, Israel, suspendeu a transferência de fundos para o pagamento de salários da função pública palestiniana. A decisão da AP foi após os USA e Israel terem travado uma moção do Conselho de Segurança da ONU, que exigia o fim da ocupação e o estabelecimento do Estado Palestiniano em 2017.

Riad Mansour o chefe da delegação palestiniana na ONU, afirmou que "esta é uma opção pacífica e civilizada. Os que cumprem a lei não têm medo (...) Mais de 500 crianças foram vitimas da ocupação israelita no passado Verão e mais de 3 mil foram feridas e mortas, além de  largos milhares de civis mortos e feridos". O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu assegurou que "Israel não permitirá que soldados e oficiais do IDF (Forças de Defesa de Israel) sejam condenados pelo TPI", na mesma altura em que um porta-voz do Departamento de Estado, em Washington D.C. considerava a decisão palestiniana como "inteiramente contra-produtiva e causadora de graves danos nas relações com Israel", o que originou uma resposta por parte de Wasiel Abu Youssef, responsável da OLP em Ramallah que assegurou que nada afetará "a determinação da AP e do Povo Palestiniano em busca da liberdade e da independência".

II - Dos 15 membros do Conselho apenas dois votaram contra a resolução que exigia o fim dos territórios ocupados (USA - que tem direito a veto - e Austrália), mas a abstenção da Nigéria (que mudou de posição, depois do presidente Goodluck Jonathan ter recebido chamadas telefónicas do primeiro-ministro israelita, do Secretário de Estado Kerry e do presidente Obama) foi decisiva para o chumbo da proposta de resolução apresentada pela AP. Mas esta proposta foi, também contestada por diversos sectores palestinianos, que acusam a AP de fazer demasiadas cedências a troco de nada e de fragilizar a segurança palestina. Na proposta da AP estava implícita uma terceira força militar na região (NATO?) que assumiria algumas funções que são agora desempenhadas pelas forças palestinianas.

O "chumbo" desta proposta pelo Conselho de Segurança acabou por ter um efeito positivo entre os palestinianos (internamente a proposta dividiu a resistência) e permitiu o apoio da grande maioria das forças palestinianas à decisão da AP em aderir ao TPI.  Mas - e voltando á proposta de resolução - se a AP estava a ceder em matéria de segurança interna palestiniana - ao ponto de propor que uma terceira força efectuasse algumas dessas funções e havendo campo aberto para que esse papel fosse entregue á NATO -  porquê a intransigente posição norte-americana, de repúdio á resolução, ao extremo de pressionar a Nigéria? A resposta a esta questão encontra-se, obscurecida nas entrelinhas, nas palavras da embaixadora dos USA na ONU, Samantha Power, quando explicava a objecção norte-americana: "Votamos contra não porque somos indiferentes aos esforços diários de implementação dos acordos estabelecidos entre Palestinianos e Israelitas, mas porque sabemos que esses acordos só subsistirão quando ambas as partes alcançarem as bases de entendimento através de negociações directas, sem intermediários".

Perante a surpresa de todos, Samantha Power atirou os palestinianos para a toca do lobo, como se o diálogo bíblico entre o cordeiro e o lobo, nos jardins do Éden, fosse a única solução para o problema. Para os USA a posição é simples: não assinam nada que seja apresentado pelos palestinianos, mesmo que isso represente um enfraquecimento da Palestina, ou seja, mesmo que a Palestina opte por desaparecer do mapa... Não! A política das administrações norte-americanas obedece a outra lógica: o cordeiro é o alimento do lobo. A alcateia que encha a barriga que depois logo se vê o que resta do rebanho...

III - O significado da adesão da Palestina ao TPI é enorme e muito mais eficaz que qualquer resolução do Conselho de Segurança ou moção da Assembleia-geral. O TPI é, ainda, uma instituição fraca, forçada à inercia, permeável às influências, debaixo de intenso fogo cruzado e de falsas acusações, rodeada por discursos populistas, nacionalistas e inflamatórios, mas ganha confiança e adquire significado nas dinâmicas globais. A possibilidade dos responsáveis militares e políticos de Israel serem convocados ao TPI para prestarem declarações é real, por isso a pressão exercida por Israel e USA sobre a AP para impossibilitar a adesão palestiniana ao TPI.

A posição da AP é também relevante porque abre as portas a outros povos e nações, permitindo-lhes repor a verdade histórica ou fazer jus às suas queixas-crime. Seria uma oportunidade para os paquistaneses - vitimas dos drones - exigirem justiça, ou para os iraquianos vítimas da invasão norte-americana, ou para os sírios, vitimados pelos raides aéreos norte-americanos, camuflados de combate ao terrorismo. Os curdos terão com certeza muito que exigir da Turquia, mas não só, do Iraque, Irão e Síria, em todos estes países foram cometidas atrocidades contra os curdos. Ou os arménios vitimas de genocídio.

Todo esse espectro (vasto, que passa pela Indochina, pela guerra da Coreia e por África pelos crimes e agressões cometidos pelo neocolonialismo) é aberto pela adesão da Palestina, para além da vitória diplomática que representa para a causa palestiniana. USA e Israel são dois Estados que não aderiram ao TPI, mas que exercem uma enorme pressão sobre a instituição. A adesão palestiniana comporta um outro importante factor: alteração de forças no interior da instituição. E esta alteração deverá ser aproveitada pelos países africanos, no sentido de reforçarem a capacidade do TPI e assim terem uma componente essencial ao seu longo e sinuoso caminho e uma arma decisiva para a batalha do desenvolvimento, que a retirará da situação periférica na economia-mundo: a Justiça.

IV - Ahmed Assaf, porta-voz da Al-Fatah, quando do chumbo da proposta de resolução da AP, expressou a indignação da sua organização face ao Conselho de Segurança da ONU: " (...) o Conselho de Segurança falhou na protecção dos seus objectivos e dos seus princípios. Isto acontece porque existe uma grande potência mundial que protege a ocupação israelita e que pratica o mais elevado nível de terrorismo". Esta acusação é um facto.

A política norte-americana condiciona o funcionamento do Conselho de Segurança (como a do TPI e de outra qualquer instituição internacional). E utiliza os mais diversos meios para o fazer. Vejamos o que se passou no Conselho de Segurança sobre esta questão: Quem levou a proposta da AP a votação foi a Jordânia. O lógico seria a proposta ir a votação em Janeiro, quando a Venezuela e a Malásia (dois convictos apoiantes da causa palestiniana) substituíram a Argentina e a Coreia do Sul (ambos os Estados abstiveram-se), mas a Jordânia optou pelo pior timing. Sabendo os fortes laços entre Washington e a monarquia hachemita jordana, esta precipitação foi intencional, para que a proposta não entrasse em Janeiro. Mesmo assim USA e Israel tiveram de subornar a Nigéria.

O suborno efectuado á Nigéria está directamente ligado á intensidade com que o fascismo islâmico alastra no território nigeriano, Camarões e Chade. Israel é um dos principais fornecedores de armamento e equipamento militar e de segurança, para além de ser o principal formador de quadros das força armadas nigerianas e das forças de segurança. Goodluck Jonathan foi, portanto, uma presa fácil para o predador-mor norte-americano e sua cria israelita.

Os USA têm um longo historial de pressão, suborno e chantagem na ONU. Em 1990, por exemplo, quando o Conselho de Segurança discutia a primeira guerra do Golfo, apenas dois países votaram contra a invasão ao Iraque: Cuba e Iémen. Estes votos contra, mais o "nim" francês e alemão, levaram a que a matéria fosse adiada. Os USA agiram de imediato e suspenderam a ajuda humanitária ao Iémen. Em Janeiro de 1991 o Iémen muda de posição e abstêm-se, permitindo que o Conselho de Segurança aprove a invasão. E a lista de Estados que cedem ao suborno e á chantagem é extensa. Assim como extensas são as dificuldades em que os povos destes países vivem. É uma longa balada, em tom menor, a submissão...

V - Num mundo onde a violência se instala nas relações entre Estados, nas relações centro/periferia, nas relações governantes/governados, Estado/cidadão, nas relações de classe, onde uma guerra suja é já prática corrente, consubstanciada pela permanência e eternização do desemprego (em algumas comunidades já considerado "modus vivendi"), pelo fosso abismal entre ricos e pobres; num mundo em que novas e sofisticadas práticas de domínio imperial comportam velhos hábitos coloniais, onde as elites tratam a "massa populacional" proletária e proletarizada de acordo com o calendário eleitoral, flutuando as massas entre o lixo  imundo e o lixo supérfluo; num mundo onde a Humanidade teima na Esperança de uma vida condigna, o papel das instituições internacionais assume uma relevante importância no âmbito das dinâmicas externas e também nas dinâmicas internas.

O complexo e controverso momento em que se encontra a economia-mundo representa uma viragem na correlação de forças. Mas esta viragem pode ser efectuada em dois sentidos opostos: pelo diálogo e consequente reforço das instituições democráticas ou pela violência. A opção depende do rumo dos acontecimentos presentes. Os povos do mundo, os pobres do mundo, sentem que é possível um mundo diferente, sem as amarras da pobreza e sem as algemas da submissão. Do centro á periferia da economia-mundo um frémito de revolta e uma ansia de liberdade acumula-se no sentir dos indivíduos e nas revindicações das multidões, nos anseios das pessoas e nas aspirações dos cidadãos. Ou o Estado de Direito é efetivado e as instituições são apropriadas pela soberania popular, ou a farsa em que as elites transformaram o Estado de Direito vai ter um final triste, na rua, onde a soberania do povo se assume quando não tem casa própria.

E como os ventos da História afirmam que não há "amanhãs que cantam", mas sim um presente que se conquista...

Bibliografia
Abunimah, A. The Battle for Justice in Palestine FreePress, 2014
Bennis, P. Understanding the Palestinian - Israeli conflict: a Primer IPS, Washington D.C. 2014
Bennis, P. Calling The Shots: How Washington dominates today's United Nation's IPS, Washington D.C. 2011
Institute for Policy Studies, Archives
The Electronic Intifada, Archives
The Guardian, Archives

O "ESTADO ISLÂMICO" INFILTRADO



Benjamim Formigo – Jornal de Angola, opinião

O belo trabalho feito por americanos, britânicos e franceses na Líbia está à vista. Não gostavam de Kadhafi porque não se submetia aos jogos das petrolíferas estrangeiras e aos desejos externos.

A tal “Primavera Árabe” serviu às mil maravilhas para uma intervenção dos três países, sob a capa da OTAN, para mal disfarçar a agressão externa, a pretexto de defesa de civis, para intervirem bombardeando as tropas governamentais, impedindo Kadhafi de controlar a situação.

Na altura escrevemos que estavam a quebrar um equilíbrio instável que só Kadhafi conseguira até então gerir.

Kadhafi caiu e foi barbaramente assassinado por um dos grupos defensores dos “valores democráticos” que assaltava o poder com o apoio activo no terreno da aviação dos Estados UNidos, Inglaterra, França e as armas que eles e outros forneciam.

Hoje a Líbia é um Estado falhado, como convinha aos agressores. O petróleo vai para os seus países sem terem de pagar nada. E ainda lucram comn a venda das armas.

A ONU pode fazer as reuniões que quiser em Genebra, estão lá políticos que não governam nem têm influência, agora participam também autoridades locais, mas quem manda: as tribos nem se sentam à mesa, preferindo agir como faziam antes de Kadhafi, combatendo-se umas às outras, ora por interesses tribais, ora em apoio do que parece serem os dois governos existentes no país: o reconhecido internacionalmente e que teve de abandonar a capital Tripoli, e outro autoproclamando governo que se instalou na capital com o apoio de milícias.

Ninguém tem uma solução e as soluções que se imaginam são elucubrações de tecnocratas que nunca puseram os pés na Líbia nem sabem nada de História da região.

Como se isso não chegasse, nestas situações cria-se sempre um vazio de poder de que o chamado “Estado Islâmico do Iraque e do Levante” se tem aproveitado para equilibrar as forças de poder em seu proveito e com isso estabelecer base a partir das quais tentou incursões no Chade.

A organização estabeleceu ligações nos Camarões que estão a tornar o Norte do país um deserto, acabando com a actividade agrícola na região e criando problemas alimentares tanto nos Camarões como nas zonas vizinhas do Norte do Níger, Sul do Chade, pouco se sabendo sobre a RCA.

Contudo, alguns grupos seus afiliados que agem naquela zona estão perigosamente próximos do Boko Haram, que continua imparável na Nigéria. E leva a guerra a toda a região, sobretudo ao Chade e aos Camarões, que estão já a sentir os efeitos da guerra.

As incursões militares das forças governamentais são poucas e sem a intensidade necessária e não dão garantias de protecção às populações aterrorizadas pelas atrocidades quer do Boko Haram, quer do EI (Estado Islâmico).

A União Africana não pode continuar pelo menos aparentemente passiva. Por isso, na cimeira de Adis Abeba, já  foi feita uma delcarçação de que são necessárias forças africanas para travar os rebeldes do
Boko Haram.

África não pode contar a não ser consigo mesma. Se os dois grupos unem forças, com a infiltração islamista (terrorismo em nome do Islão, não confundir com islâmico) na costa Oriental a prolongar-se até ao Quénia e a situação instável no Sudão e em certa medida na RDC, formam uma tenaz que ameaça abaixo da cintura tropical.

A situação humanitária que já não é boa nas zonas de conflito, particularmente a Norte da cintura tropical, arrisca-se a tornar-se calamitosa. Nas zonas fronteiriças da Nigéria, Níger, Chade e Camarões começa a sentir-se com grande evidência a acção nefasta das investidas do
Boko Haram.

Não chega o auxilio humanitário, até porque as populações refugiadas estão em movimento e não existe segurança em parte nenhuma.

A zona estável do Sul tem de tomar a iniciativa, só ela tem condições para levar a União Africana e, por arrasto, a ONU a agir em favor das populações. As forças conjuntas africanas têm uma palavra importante a dizer.

Angola: RAFAEL MARQUES INVESTIGA EXPROPRIAÇÃO DE TERRAS




Jornalista afirma que dirigentes estão a registar em nome próprio terrenos que poderiam ser usados para a produção agrícola.

A expropriação de terras por parte de dirigentes angolanos está a ser investigada pelo jornalista Rafael Marques, autor do livro Diamantes de Sangue, que afirma ter detectado dezenas de situações irregulares.

“Um pouco por todo o país, os dirigentes estão a açambarcar terras e registá-las em seu nome. Só no Kwanza Sul já registei cerca de 30 dirigentes que detêm mais de 600 quilómetros quadrados de terra arável, por apropriação”, disse à Lusa o jornalista.

Rafael Marques afirmou que não existem medidas para racionalizar os recursos e impedir que os dirigentes se apropriem de centenas de milhares de hectares de terra.

De acordo com o investigador, o país, “dependente do petróleo”, precisa de políticas competitivas, através da realização de concursos públicos em setores como a construção de infra-estruturas e investimentos internacionais independentes, sem a participação dos governantes como sócios.

“Tenho estado a fazer um trabalho sobre a expropriação de terras por parte de dirigentes um pouco por todo o país e temos dirigentes com dezenas de milhares de hectares, centenas de quilómetros quadrados de terra arável – que não fazem nada com essas terras -, mas conseguem obter grandes empréstimos, sobretudo do Banco de Desenvolvimento Angolano”, explicou Rafael Marques, que criticou a forma como são utilizados os créditos bancários.

“Alguns (empréstimos) de dezenas de milhões de dólares são para comprarem carros de luxo, bens e serviços de luxo no exterior e não se investe efectivamente na infra-estrutura para dar suporte à produção agrícola necessária ao país”, acusou Rafael Marques, sublinhando que são raros os casos de sucesso empresarial no sector agrícola.

“No Cuanza Sul, o projeto mais bem-sucedido é o de uma fazenda onde foram investidos mais de 150 milhões de dólares mas não conseguem produzir mais de 200 hectares de terra e é uma sociedade que tem oito mil hectares. Não há investimento na agricultura que, por sua vez poderia suportar uma indústria de transformação de produtos alimentares”, exemplifica o jornalista.

Os casos estão a ser publicados regularmente na página “Maka Angola – em defesa da democracia, contra a corrupção”, que o jornalista mantém na internet.

Rafael Marques é o autor do livro “Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola”, em que denuncia alegados abusos na província diamantífera angolana da Lunda Norte.

Na sequência destas acusações, sete generais angolanos interpuseram uma ação judicial contra o jornalista, por denúncia caluniosa, que deve começar a ser julgado no próximo dia 24 de março.

Lusa, em Rede Angola

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Angola: TRÁFICO DE VAGAS ESCOLARES EM ANGOLA




Cada aluno tem que pagar quinhentos dólares para garantir matrículas

Coque Mukuta – Voz da América

Com o começo do ano escolar os “traficantes de vagas” estão a exigir centenas de dólares para estudantes se poderem matricular no ensino secundário e apesar de denúncias contínuas as autoridades nada fazem para impedir o crime.

Várias familiares terão os seus educandos fora do sistema de ensino por não terem dinheiro para as matrículas. Cidadãos denunciaram à Voz da América que para matricular o seu filho no ensino médio as instituições cobram mais de 50 mil Kwanzas, cerca de 500 dólares norte americanos.

O director provincial da Educação em Luanda, André Soma, tinha prometido anteriormente que quem fosse apanhado a traficar vagas seria responsabilizado, mas  até ao momento ninguém ainda foi punido.

Jornais, rádios e sites na Internet têm denunciado constantemente instituições escolares que cobram cerca de 500 dólares para matricular um candidato ao ensino secundário, que a constituição afirma ser algo gratuito.

Margarida Domingos afirma que foi confrontada com esta realidade quando foi matricular o seu educando numa das instituições.

“Fui matricular o meu irmão no Instituto Medio de Medicina e me estão a cobrar 50 mil kwanzas, eu não tenho este dinheiro”, disse.

Outra encarregada de educação que preferiu o anonimato disse que as matrículas para os educandos  estão cada vez mais difíceis.

“Na verdade as vagas estão muito difíceis”, realçou.

De recordar que este comportamento repete-se todos os anos e os cidadãos  apontam o dedo aos directores das escolas como promotores destes actos, criando dificuldades às inscrições de novos candidatos, priorizando famílias com maior poder económico.

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ENSINO SUPERIOR. LUANDA QUER TROCAR PORTUGAL POR… CUBA




Em 2011, na altura das actividades relativas aos 100 anos da Universidade do Porto (UP) uma delegação angolana visitou esta Universidade. Deram-se passos importantes ao nível da cooperação. Mas muito, muito mesmo, ficou por fazer. Ao que parece, Luanda quer – por exemplo – formar engenheiros mecânicos em Cuba que, nesta matéria, é uma verdadeira (im)potência mundial…

Orlando Castro – Folha 8 Diário (ao)

Na sequência da criação de oito regiões académicas em Angola, deslocaram-se à UP alguns dos reitores dessas novas universidades, assim como técnicos ligados ao ministério que tutela o ensino superior em Angola. Foram pedir ajuda e solicitar cooperação entre a UP (de facto fizeram um périplo por Portugal e visitaram diversas universidades) e essas novas universidades.

“Naquela altura tinha algum tempo disponível e ao ver a notícia do pedido de ajuda dos meus patrícios (sou natural de Luanda) conversei com o Presidente do Departamento de Engenharia Mecânica (DEMEC) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e fomos falar com o Vice-Reitor da UP que tratava da Cooperação”, conta ao Folha 8 Carlos Pinho, professor da FEUP, acrescentando que “ele disse-nos que o assunto iria muito certamente ser tratado a nível central, nomeadamente do CRUP (Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas).”

Continua Carlos Pinho: “Eu disse ao Vice-Reitor da UP para a Cooperação que ele iria esperar sentado, porque daquela rapaziada do CRUP e de Lisboa não sairia nada de jeito em tempo oportuno, e pedi-lhe autorização para, como professor da FEUP e na condição de natural de Angola, eu tentar por minha iniciativa, responder a pelo menos duas dessas universidades. Expliquei-lhes, ao Vice-Reitor e ao Director do DEMEC, que do pondo de vista da Engenharia Mecânica interessava-nos o corredor do Lobito”.

“Mas não só à Engenharia Mecânica pois aquilo combinava tudo o que dissesse respeito à engenharia: Agronomia (Huambo e Bié), Portos (Engenharia Civil – Lobito), Benguela (CFB- Engenharias Mecânica e Electrotécnica), no futuro Engenharia Química (porque se previa a construção de uma refinaria do Lobito), etc.”, explica Carlos Pinho, acrescentando que “tive luz verde do Vice-Reitor e do Director do DEMEC e posteriormente do Director da FEUP, que é o actual Reitor da UP.”

Habituado a meter mãos á obra, Carlos Pinho escreveu aos Reitores da Universidade José Eduardo dos Santos – UJES (Huambo) e Katyavala Bwila – UKB (Benguela) “a propor os nossos préstimos na elaboração dos planos de estudo dos vários cursos de engenharia que desejassem.”

Tudo corria bem: “Tive respostas positivas das duas universidades mas principalmente da UKB”.

Foram então criadas equipas na FEUP e propostos planos de estudos para vários cursos, Mecânica, Civil e Química e mais tarde Electromecânica.

Carlos Pinho conta que “o que interessava mais à UKB (e concretamente ao Instituto Politécnico do Lobito – IPL) de imediato, era o curso de Mecânica. Trabalhamos em conjunto e o pessoal do IPL da UKB conseguiu ter pronto no início de 2012 um plano de estudos que enviou para aprovação, para o ministério competente em Luanda.”

“As coisas correram tão bem com esta interacção entre a FEUP e a UKB (e em certa medida com a UJES) que as duas universidades convidaram uma equipa da UP a deslocar-se às duas cidades, o que aconteceu em Dezembro de 2011, quando um grupo de professores da UP passou uma semana em Angola.”

Mas…

“O problema é que o dossier que foi enviado para Luanda ficou perdido lá pelo ministério, de tal modo que já foram enviadas pelo menos mais três cópias do mesmo, a ver se a maldita aprovação acontece. Mas nada até hoje”, lamenta Carlos Pinho.

Entretanto a UKB lá começou (em 2012, mesmo sem autorização) o curso de Engenharia Mecânica, de tal modo que no presente ano lectivo de 2014/2015 mandou para o Porto cinco dos seus melhores alunos a ver se eles lá completam o curso, pois não havendo aprovação do curso pelo governo, a continuação destes jovens em Angola seria um tiro no escuro.

“A UP, ao abrigo de um protocolo assinado ente a UP e a UKB e ainda entre o IPL e a FEUP, abriu vagas para estes cinco alunos e eles para cá vieram. Pretende-se que sejam cinco futuros docentes do curso de Engenharia Mecânica da UKB. Estamos todos a torcer por isso, embora estejamos a constatar com tristeza que a sua formação de base é fraca e que eles têm imensas dificuldades em acompanhar o nosso ritmo de trabalho”, relata Carlos Pinho.

Mas há mais. “A cooperação com a UJES (em termos de Engenharia Mecânica) não deu grande coisa, o curso de Mecânica que eles se propuseram fazer está baseado no leccionado na Universidade Agostinho Neto e não é mais do que o antigo curso da Universidade de Luanda (onde eu estudei até ao 3º ano), o qual está baseado na reforma do Veiga Simão. Ou seja é um curso que na sua génese tem por base um plano de estudos com 50 anos!!!”, desabafa num sentido lamento Carlos Pinho.

“Por outro lado, já o plano de estudos que propusemos à UKB, e que eles aceitaram, teve por base um estudo que estávamos na altura a fazer e que levou igualmente à reformulação do plano de estudos, do nosso curso de Engenharia Mecânica aqui na UP”, esclarece do docente da FEUP.

Diz Carlos Pinho que, “nesse estudo de suporte do novo plano de estudos, analisamos os cursos das melhores universidades do mundo. O plano de estudos proposto, sem paternalismos, pela UP à UKB, levava em consideração as regras do processo de Bolonha, ou seja propusemos algo devidamente avançado e ao nível do que se faz de melhor no mundo e já a pensar em futuros processos de equivalência de graus entre os diversos países e que, na sua essência, era o mesmo que queríamos para o nosso nova plano de estudos.”

Com satisfação, Carlos Pinho diz que “o pessoal do IPL da UKB foi impecável e demonstrou empenho, profissionalismo e competência na preparação e implementação do mesmo, mas tem esbarrado com a inépcia de Luanda, pois não há nenhuma resposta ao pedido de aprovação/homologação do curso”.

Neste contexto, o que se teme é que, com o actual ministro da tutela, “que não esconde as suas simpatias por Cuba, o plano de estudo proposto acabe por ser rejeitado e venha a ser substituído por algum clone cubano”.

Pois. E como Cuba é uma potência mundial em Engenharia Mecânica, a coisa promete…

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Moçambique: “É preferível enforcar-me do que comer com a Frelimo em Maputo”- Dhlakama




“É preferível eu enforcar-me do que um dia desses dizerem que o Dhlakama tudo o que dizia era mentira, está aí a comer com a Frelimo em Maputo”

Adérito Caldeira  - Verdade (mz), em Tema de Fundo

“Nampula vai fazer parte do nosso governo do centro e norte” começou por afirmar Afonso Dhlakama, neste sábado (31) num comício realizado no estádio 25 de Setembro, na chamada capital do norte de Moçambique, que foi pequeno para acolher as dezenas de milhares de cidadãos que continuam a clamar pela vitória do partido Renamo, e do seu líder, nas Eleições Gerais de Outubro passado. O líder do partido Renamo deixa claro que “não há guerra” mas não vai tolerar provocações. “Quero deixar claro aos comunistas da Frelimo se tentarem provocar a Renamo, tentarem disparar para a Renamo, juro pela alma da minha mãe que a resposta não será aqui no norte (...) agora é aquecer lá, nos prédios lá, lá em Maputo onde estão os chefes”.

Acolhido como um Messias, impressionante o delírio dos nampulenses quando Dhlakama subiu para a tribuna do estádio após aguardarem sob sol abrasador durante mais de três horas, o líder do maior partido da oposição enfatizou: “Nampula, Niassa, Manica, Tete, Zambézia e Sofala, esses seis fazem parte, constituem a república do centro e norte democrático com uma autonomia total: autonomia governativa, autonomia económica e financeira (...) governar com democracia, governar com justiça” e mais adiante tentou explicar como conseguirá essa autonomia: “Vamos governar mas sem confusão, a única coisa que vai haver se calhar um pequeno acordo entre a Renamo e a Frelimo, o Dhlakama assina, embora a gente não reconheça o Nyusi pode assinar, aquilo que também fazia com o Guebuza, aquilo que também fazia com Chissano (...) isso como forma de passar uma lei para que de facto essas províncias sejam conhecidas ou reconhecidos com autonomia, como um governo 

Porém, o líder do partido Renamo não soube esclarecer aos jornalistas após o comício em que termos será estabelecido esse governo autónomo do centro e norte, qual o cargo que ele ocupará e nem mesmo que período será necessário para a sua materialização. Mas deixou no ar que os deputados do seu partido eleitos para o Parlamento, e que ainda não tomaram posse, poderão fazê-lo a tempo de viabilizar essa lei que dê autonomia às províncias onde a Renamo foi o partido mais votado nas eleições de 15 de Outubro de 2014.

Polícias “burros”

Dhlakama apontou o dedo para as forças que deviam ser da Lei e Ordem, mas que sistematicamente são usadas como instrumento de repressão pelo partido no poder, e deixou-lhes um aviso: “Quero chamar atenção especial à Polícia, esses miúdos que são mandados maltratar a população (...) aqui em Moçambique ninguém tem força como a Renamo, mesmo esses miúdos da Intervenção Rápida, FADM a gente desmonta”.

E num claro desafio à Polícia da República de Moçambique (PRM), que poderá ser enquadrado pelas autoridades governamentais como incitação à violência, o presidente da Renamo afirmou que “a partir de hoje (sábado) qualquer elemento da Polícia que brincar com macua aqui, aquela brincadeira de amarrar e pôr na prisão, imediatamente liguem para mim vou endireitar”.

Afonso Dhlakama chamou os agentes da PRM de “burros” que maltratam o povo e declarou que “a partir de amanhã estou aqui quero ouvir que um polícia prendeu, eu vou lá na esquadra pegar todos, comandantes, todos ponho- os no carro e vão para Maputo lá onde estão os chefes deles”.

“Vocês são escravos da Frelimo”

Para os críticos que o acusam de tribalismo e regionalismo Dhlakama esclareceu: “Não sou tribalista, não sou regionalista aliás eles é que são tribalistas, eles é que são regionalistas porque o que fazem lá (Maputo) não fazem para um macua aqui”, uma verdade bem real sentida diariamente não só em Nampula mas pelos milhões de moçambicanos que por não estarem na capital são privados de educação de qualidade, acesso a cuidados de saúde, água potável, energia eléctrica ou mesmo de transporte seguro e condigno. “Quem está a dividir o país é o Dhlakama ou são eles? Porque é que não estão a igualar a vida da população com vocês; não é dividir o país?”

O líder do maior partido na oposição apontou depois o dedo aos filhos dos membros seniores do partido Frelimo, que sem nenhum esforço ou trabalho conhecido se tornaram empresários de sucesso e enriqueceram defraudando o erário e deu como exemplo a filha do antigo Presidente Armando Guebuza que começou a ser empresária aos 20 anos de idade e durante o mandato do seu pai ascendeu à lista das mulheres jovens mais poderosas de África, publicada pela Forbes, com interesses em diversos sectores da economia como a banca, as telecomunicações, os transportes, e os sectores mineiro e imobiliário.

“Valentina é tida como a segunda mais rica do continente africano. Meus amigos, onde é que apanhou dinheiro essa criança? (...) isto não é humilhação? Não é escravatura isso? Vocês são escravos da Frelimo. Então o Dhlakama tudo que está a fazer é para terminar com a escravatura contra vocês”, afirmou o presidente do partido Renamo.

“Sou vosso servidor, eu prefiro morrer em vossa defesa”

Afonso Dhlakama tranquilizou a sua plateia, e ao povo moçambicano. “Não há guerra não há nada, repito não há guerra não há nada! Mas não vai tolerar provocações. “Quero deixar claro aos comunistas da Frelimo se tentarem provocar a Renamo, tentarem disparar para a Renamo, juro pela alma da minha mãe que a resposta não será aqui no norte, nem em Sathundjira, nem em Muxúnguè, nem em Nampevo, nem em Namaíta, nem aonde”. O líder da Renamo disse que desta vez a resposta, que não concretizou em que moldes acontecerá, vai ser dada na capital do país. “A resposta tem que ser lá, porque se a resposta for aqui em Nampula, em Cabo Delgado, for em Sathundjira ali em Gorongosa sabe o que é que dirá a Frelimo: ‘ah são entre eles os chingondos aí, matam- -se entre eles nós os chefes aqui estamos bem’, agora é aquecer lá, nos prédios lá, lá em Maputo onde estão os chefes”.

Para aqueles que apregoam que ele está a lutar apenas para também beneficiar de recursos financeiros de Moçambique o presidente do partido Renamo enfatizou: “Sou vosso servidor, eu prefiro morrer em vossa defesa” e mais adiante repetiu: “Não irei decepcionar a vocês. Porque é preferível eu enforcar- -me do que um dia desses dizerem que o Dhlakama tudo o que dizia era mentira, está aí a comer com a Frelimo em Maputo, quero aqui dizer: nunca”!

É impressionante a moldura humana que presenciou este comício de Afonso Dhlakama. Contadas a olho, estiverem presentes algumas dezenas de milhares de pessoas de várias idades e sexo, mobilizados sem recurso a meios de comunicação públicos nem a uso de transportes. A maioria veio a pé, muitos vieram de mota para escutar o auto- intitulado “pai da democracia em Moçambique” que no final do comício rejubilou por entre os presentes a maioria serem jovens “97% (diria cerca de 70%) da presença aqui são jovens entre os 18 e os 25 anos, significa que o partido tem vida, mesmo daqui a 50 anos. Senão estariam só velhos!”. 


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