No
contexto político do Estado Novo (1937-1945), que se caracterizou pelo
nacionalismo e pela centralização do poder, Getúlio Vargas (1882-1954) chegou a
dizer: "Não temos mais problemas regionais; todos são nacionais, e
interessam ao Brasil inteiro". Com isso, as bandeiras dos Estados chegaram
a ser queimadas e os símbolos regionais, assim como os partidos políticos,
foram extintos.
É
provável que, devido ao seu caráter regional, o projeto do prefeito Loureiro da
Silva (1902-1964) de inaugurar, em 1940, uma estátua do artista plástico Marcos
Bastos tenha sido inviabilizado. Premiado no Centenário Farroupilha (1935),
atualmente, não se tem notícia desse artista, e a sua maquete em gesso, O
Bombeador, que representava um gaúcho a cavalo, está desaparecida.
Na
última semana,, o jornalista Ricardo Chaves, colunista do jornal Zero Hora,
teve contato com a família de Marcos Bastos, que liberou a publicação, no
Almanaque Gaúcho, de fotos inéditas do artista e de sua escultura “ O
Bombeador” que são desconhecidas pela maioria dos porto-alegrenses. Desde 1940,
dezoito anos haviam se passado quando, pelas mãos do artista pelotense Antônio
Caringi (1905-1981), o ideal de erigir um monumento à figura do gaúcho
finalmente se concretizou.
O
Laçador foi inaugurado em 20 de setembro de 1958, durante comemorações do 123º
aniversário da Revolução Farroupilha (1835-1845). De acordo com o saudoso
pesquisador Rodrigues Till, com quatro metros e 40 centímetros de altura e
pesando, em bronze, 3,8 mil quilos, o monumento teve três denominações:
Bombeador, Boleador e, finalmente, Laçador.
Criado
no Rio de Janeiro, no atelier de Caringi, O Laçador esteve exposto no Parque
Ibirapuera, no Pavilhão do Rio Grande do Sul, em 1954, durante as festividades
do IV Centenário de São Paulo. Depois de ser adquirido pela prefeitura de Porto
Alegre, o monumento foi instalado e inaugurado na entrada da Avenida Farrapos.
Seu criador, Antônio Caringi, inspirou-se no homem campeiro, tendo sido o seu
modelo o tradicionalista João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, nascido em
Livramento no dia 12 de julho de 1927.
Considerado
símbolo da cidade, pela lei complementar nº 279, de 17 de agosto de 1992, O
Laçador foi tombado pela Secretaria Municipal da Cultura, de acordo com edital publicado
na imprensa em 17 de julho de 2001. Em 1991, por votação popular, o monumento
já havia sido eleito símbolo oficial de Porto Alegre, confirmando a expressão
Vox populi vox Dei (A voz do povo é a voz de Deus).
Durante
a cerimônia de inauguração d'O Laçador, em 20 de setembro de 1958, o prefeito
Leonel de Moura Brizola (1922-2004) discursou na Praça do Bombeador, destacando
a grandeza do Rio Grande, seu povo e sua tradição. Suas palavras emocionaram a
multidão presente. Há consenso de que seu discurso inaugural foi fundamental
para alavancar sua campanha para governador do Estado pelo Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB). A banda marcial do Colégio Gonzaga, convidada pela prefeitura
da Capital, veio de Pelotas para abrilhantar as comemorações da data
farroupilha.
Em
11 de março de 2007, o monumento foi transferido para o Sítio do Laçador,
localizado em frente ao antigo terminal do Aeroporto Internacional Salgado
Filho, a uma distância de 600 metros do seu antigo local. O Laçador encontra-se
numa elevação que recebeu a denominação de Coxilha do Laçador. Os custos foram
de R$ 1 milhão, e o motivo de sua transferência foi a construção, naquele
local, do Viaduto Leonel Brizola.
Símbolo
de Porto Alegre, O Laçador segue, ao longo dos anos, recebendo quem chega à
nossa cidade. Como um velho amigo, ele abraça a todos com o laço da
hospitalidade do nosso Estado, cuja capital, fundada, em 26 de março de 1772,
completou 245 anos.
Parabéns,
Porto Alegre!
*Pesquisador
e coordenador do setor de imprensa do Musecom
Imagens:
1)
O prefeito Leonel Brizola e o artista Antônio Caringi, / Acervo família Caringi
2)
Caringi e o tradicionalista Paixão Cortes / Acervo família Caringi
3)
O Laçador de Antônio Caringi
Bibliografia
ASSIS
Luiz Antônio; GOMES, Paulo. Antônio Caringi – O escultor dos pampas. Porto
Alegre, Ed. Nova Prova, 2008.
GALVANI,
Walter. A Difícil Convivência. Porto Alegre: Ed. AGE, 2013.
PAIXÃO,
Antonina Zulema. A escultura de Antônio Caringi / Conhecimento, Técnica e Arte.
Pelotas: Pelotas, Ed. Universitária UFPel, 1988.
TILL,
Rodrigues. Antônio Caringi / O escultor do Rio Grande do Sul em seu centenário.
Porto Alegre, Ed. Evangraf, 2005.
Jornal
CARINGI,
Nicola. Diário Popular, Pelotas, 30 de mai. 1991. p. 25. Lembrando tio Antônio.