domingo, 29 de outubro de 2017

CENTRIFUGAÇÃO EUROPEIA



Manuel Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Por mais que os diferentes governos europeus e as instituições da União Europeia (UE) repitam que o processo independentista catalão é um assunto que só ao Estado espanhol diz respeito, a verdade é que o drama catalão não pode ser desligado de uma situação de descarrilamento do "projeto europeu", que afeta os diversos sistemas políticos nacionais e põe em evidência as tensões internas da UE e a sua incapacidade de movimentação política útil.

Expressões de desagregação ao nível dos sistemas políticos nacionais incluem o reforço de independentismos (Escócia e Norte de Itália), a rutura de coligações centristas (envolvendo a social-democracia e atrofiando-a) e o reforço da Direita nacionalista, particularmente a Leste. Manifestações de descarrilamento da União Europeia incluem, nomeadamente, o processo do Brexit, a exclusão da agenda negocial de questões vitais para meia UE - desde logo a questão da dívida -, divisões crescentes nas questões das migrações e impasses quanto ao Euro, as suas regras e instituições.

É certo que o independentismo catalão está longe de ser uma novidade e que as suas raízes históricas são diversas. No entanto, é muito ampla a perceção do crescimento da vontade independentista de largos setores da sociedade catalã durante os últimos anos. Foi um período marcado pela crise associada à imposição da agenda neoliberal e pela ingerência externa, mas também, em Espanha, pela construção de perspetivas de ampliação da autonomia da Catalunha seguidas de manobras das forças mais conservadoras para as aniquilar.

MEMORIAL DE ESPANHA!



Martinho Júnior | Luanda

Sonora e ardente,
Tão apaixonada como sempre
Espanha estala
Sob o chicote de Rajoy…

Nada será uma vez mais,
Como antes não o foi
Nem para o neofascismo,
Nem para uma malparada
E ensombrada monarquia
E seus artesões!

Nas ruas de Barcelona,
Há um velho sentido
Duma história antiga,
Mas sempre presente,
Que numa diáspora intemporal,
Uniu, une e unirá
A dignidade dos povos!

Nem o sangue,
Nem as lágrimas,
Nem a memória pungente,
Nem o chicote de Rajoy,
Nos poderão agora
Parar!

A RÚSSIA E A CHINA CONTRA O IMPÉRIO DO DÓLAR



Manlio Dinucci*

Existe uma grande variedade de tensões e conflitos que se estendem desde o Leste Asiático até à Ásia Central, do Médio Oriente à Europa, da África à América Latina. Os "pontos quentes" ao longo deste arco intercontinental - Península da Coreia, Mar Meridional da China, Afeganistão, Síria, Iraque, Irão, Ucrânia, Líbia, Venezuela e outros - têm histórias geopolíticas e características diferentes, mas, ao mesmo tempo, também estão ligadas por um único factor : a estratégia com a qual o “Império Ocidental Americano em declínio” procura evitar a manifestação de novos problemas estatais e sociais.

O que Washington teme é que o que se designa como Cimeira BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), ocorrida de 3 a 5 de Setembro, em Xiamen, na China. Dando voz “à preocupação do BRICS com a injusta arquitetura económica e financeira mundial, que não tem em consideração o peso crescente das economias emergentes", o Presidente russo, Putin, salientou a necessidade de "superar a influência excessiva de um número limitado de moedas de reserva”.

É uma referência clara ao dólar americano, que representa quase dois terços das reservas monetárias mundiais e a moeda com a qual se determina o preço do petróleo, do ouro e de outras matérias primas estratégicas. Isso permite que os EUA mantenham um papel dominante ao imprimir dólares cujo valor se baseia, não na verdadeira capacidade económica dos EUA, mas, no facto, do dólar ser usado ​​como moeda global.

No entanto, o yuan chinês, entrou há um ano no cabaz de câmbio da reserva do Fundo Monetário Internacional (juntamente com o dólar, o euro, o iene e a libra esterlina), e Pequim está prestes a lançar contratos de compra de petróleo em yuans/iuanes, conversíveis em ouro.

BLOQUEIO A CUBA, A MAIS LONGA PRÁTICA DE CONSPIRAÇÃO



Martinho Júnior | Luanda 

1- As práticas de conspiração são, duma forma geral, a mais provada experiência contínua levada a cabo pelo poder da hegemonia unipolar, onde quer que seja e numa escala sem precedentes para a história da humanidade, desde 1945 aos nossos dias!

Elas são evidências dum princípio doutrinal de relacionamento com os outros que integram procedimentos recorrentes, com duas alienações inerentes que lhe são subjacentes, entre as muitas que poderíamos evocar, que eu realço: o “slogan” da “Guerra Fria” e o“slogan” da “teoria da conspiração”!

A “Guerra Fria” enquanto “slogan” por que, quando os ideólogos de feição querem retratar a época de 1945 a 1991 recorrem a essa figura, aparentemente limitada no espaço e no tempo, também por que a partir dela mais facilmente reduzem todos os fenómenos sócio-políticos ao “diktat” de sua alienação, algo que tanto serve a expressão sintomática da “civilização judaico-cristã ocidental” e da NATO;

A “teoria da conspiração” para, por um lado lavar a imagem dos fulcros globais do poder hegemónico unipolar, por outro integrar com essa crença difusa e mil vezes repetida, o pacote de medidas que compõem os métodos e vias de formatação das mentalidades, (tornando-as avassaladas, dóceis ou submissas) que visam melhor consolidar o seu domínio, inclusive nos termos duma acção psico-social afim aos expedientes típicos da “afirmação” da hegemonia unipolar!

PORTUGAL | Jerónimo de Sousa: Corte de 10% no subsídio de desemprego é para cair



Grande entrevista DN/TSF com o secretário-geral do PCP

Com tanta gente chocada, o senhor também está chocado com o ambiente de crispação que se gerou entre o governo socialista e o Presidente na sequência das comunicações feitas ao país quer por António Costa quer por Marcelo Rebelo de Sousa?

Nós não consideramos isso um elemento político relevante, consideramos que esse processo, o estado de choque ou não choque, não é um elemento político de avaliação tanto do Governo como do próprio Presidente da República; registamos, fazemos a devida avaliação, mas eu desdramatizaria esse acontecimento.

Considera que há um novo patamar no relacionamento entre o Governo e o Presidente com este episódio que tem diversos contornos?

Naturalmente compreenderão que eu não posso antecipar o que está no pensamento do Senhor Presidente da República, o que posso dizer é que pode tender a haver uma evolução da situação, mas seria excessivo dizer que a partir daqui vai haver um novo ciclo, um desenvolvimento político de consequências ainda imprevisíveis, não chego a esse ponto. O Presidente da República naturalmente saberá, mas há que observar esses possíveis desenvolvimentos.

Na discussão da moção de censura, muito centrada nos fogos que aconteceram este ano no país, o PS ficou, de alguma forma, a defender-se sozinho, contando com a ajuda do PCP apenas para atacar a direita e apontar-lhe responsabilidades históricas pelo que aconteceu. Em seu entender, o Governo não tinha defesa nesta questão?

Eu creio que é importante, em nome da coerência política, fazer o sublinhado em relação a omissões e responsabilidades próprias do Governo nesse trágico acontecimento. Creio que isso tinha de estar presente e particularmente claro na nossa intervenção, o que não invalida - e não invalidou -, a desmontagem do aproveitamento político e partidário do CDS, que talvez em concorrência com o próprio PSD, admito, procurou cavalgar nessa mesma tragédia, o que aconteceu pela primeira vez numa moção de censura. A moção de censura parte geralmente de um quadro político e social existente, seja no bom ou no mau sentido mas, particularmente, quando as coisas se agudizavam, ao longo destas décadas, no plano político, económico e social justificava-se essa moção de censura num quadro mais abrangente. Aqui não, o CDS escolheu apenas potenciar as emoções, os sentimentos e a própria dor de quem foi vítima da tragédia e, por isso mesmo, nós consideramos que tendo em conta as próprias responsabilidades diretas do CDS no Governo anterior, tendo em conta a ocupação da deputada Assunção Cristas na governação e, em especial, no Ministério da Agricultura, com medidas que eram contraproducentes para a necessidade de recuperação da nossa floresta, enfim, grandes questões que se colocavam no plano do financiamento, no plano da prevenção, no plano do combate, o CDS não tinha moral nenhuma para, aproveitando essa tragédia, fazer ali um exercício de instrumentalização política. Possivelmente para assumir um protagonismo maior em relação ao PSD e, simultaneamente, fazer um certo ajuste de contas com a derrota que teve nas eleições legislativas passadas.

DIREITA.PT | Perante o vazio de ideias




A vida não estava a ser fácil para a direita, tanto mais é assim que a própria liderança do PSD acabou por soçobrar às mãos do sucesso da solução governativa de esquerda e perante o mais absoluto vazio de ideias.

Depois da Europa ter abrandado a fome de austeridade (entre outras razões, ter-se-á apercebido que existem problemas incomensuravelmente mais graves do que a consolidação das contas públicas de Portugal e Grécia, sendo o Brexit um bom exemplo dessa enormidade de problemas com que a Europa se confronta), ter-se registado uma melhoria da economia mundial, por precária e efémera que seja, e depois ainda da actual solução governativa ter demonstrado que se podia ter as contas em ordem sem dar cabo da vida dos cidadãos, a direita viu-se confrontada com um enorme vazio de ideias, depois de ter aplicado um enorme aumento de impostos.

A comunicação social tem a seu cargo o desgaste diário da actual solução governativa, procurando, quer através da selecção das notícias, mas também através da opinião, mostrar as fragilidades da chamada "geringonça". Esta tem sido uma ajuda preciosa para um direita desnorteada.

Num dia fatídico, a tragédia abate-se sobre o país e que melhor oportunidade para desferir o golpe fatal ao Governo de António Costa. Assim, CDS e PSD (embora claramente fragilizado, ainda tem nas suas hostes quem consiga espernear), aliados a uma comunicação social refém dos grandes interesses económicos, jogam todas as cartas nesta oportunidade, incluindo uma moção de censura.

Todavia, o vazio de ideias e de estratégia permanece, restando a velha e gasta cartilha neoliberal cuja aplicação não encontra, neste momento, as melhores condições.

Quanto aos partidos mais à esquerda do PS, e pese embora os fracos resultados autárquicos, sabem que seria pior sair desta solução governativa, deixando espaço a uma direita que, embora despida de ideias, não perde energia, como se viu nos últimos dias. Paralelamente, ainda resta uma incógnita no horizonte: a liderança do PSD.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

CASTELA vs CATALUNHA | O poder e as nádegas



Afonso Camões* | Jornal de Notícias | opinião

Bem pode a independência ser um sonho catalão. Até ver, porém, a independência da Catalunha é um ato falhado. Dois dias depois da declaração unilateral, em Barcelona, nenhum Estado no mundo real reconhece tal república. E o português terá sido o primeiro a negá-la, condenando "a quebra da ordem constitucional e o ataque ao Estado de direito em Espanha - parte integrante do quadro jurídico da União Europeia".

A Espanha que Ortega y Gasset definia como "criação de Castela" estremece com a ameaça separatista, a mais grave crise constitucional que a democracia espanhola enfrenta nos seus 40 anos de existência. E tudo o que de mau possa acontecer ali não deixará de nos afetar negativamente. Os estilhaços não tardarão a chegar, sobretudo os económicos.

E agora? - pergunta a geral, quando se dão os primeiros passos num túnel escuro que ninguém pisou. Porque não há precedente legal em Espanha para a suspensão da autonomia, a demissão de um governo e a dissolução de um parlamento regionais. O Governo central de Madrid marcou eleições regionais para 21 de dezembro, enquanto o Ministério Público espanhol se prepara para acusar de crime de rebelião os arquitetos da declaração de independência. O braço de ferro vai continuar e sobra para as ruas. A escalada pode degenerar em violência. E há forças que apostam nisso.

Em Espanha, como noutras paragens europeias, os movimentos nacionalistas têm sido terreno fértil para a incitação à revolta social e ao aumento do populismo, fundado no crescimento das desigualdades. A ira popular - perante a corrupção política, a escassez de mão de obra e tantas outras urgências ignoradas pelos poderes - por mais justificada que seja, acabará em desilusão, porventura desesperada, se os líderes políticos e sociais não souberem conduzir os desejos de mudança e de vida melhor aos seus cidadãos. É disso que trata a política. O arrepio, esse, é lembrarmo-nos de que ainda há 80 anos, aqui mesmo ao lado, se travava a sangrenta Guerra Civil que serviria de ensaio geral à mais ensanguentada das guerras mundiais.

Oxalá os dirigentes políticos espanhóis tenham lido bem Ortega y Gasset, um dos seus filósofos maiores no século XX, quando ele dizia que "o poder é menos uma questão de punhos e mais uma questão de nádegas". Foi ele que traduziu para os espanhóis o célebre diálogo em que um bispo, opondo-se às políticas de hegemonia centralista, explicava a Napoleão que nenhum regime se sustenta só pela força: "Com as baionetas pode-se fazer tudo, menos sentar-se sobre elas".

*Diretor do JN

Contra a Catalunha independente | Símbolos fascistas na manifestação espanholista em Madrid



Bandeiras da Espanha franquista e saudações nazis marcaram presença na Praça Colón, onde se pediu prisão para os dirigentes catalães.

Uma manifestação pela "unidade do país e a Constituição", convocada pela Fundação para a Defesa da Nação Espanhola (Denaes), reuniu este sábado centenas de pessoas na Praça de Colón de Madrid – incluindo vários manifestantes de extrema-direita, que agitaram bandeiras de Espanha com o escudo da águia de São João (a bandeira espanhola durante a ditadura de Franco) e fizeram a saudação nazi. Também foram vistas bandeiras da Cruz de Borgonha, adoptada por Filipe I rei de Castela no início do século XVI.

Entre gritos de "prisão" para os independentistas catalães e "vivas" para a Polícia Nacional, a Guardia Civil, e o rei Felipe VI, os manifestantes criticaram a actuação do Governo de Mariano Rajoy e a sua resposta, que consideram demasiado branda, ao desafio da Catalunha.

"Não basta o artigo 155 da Constituição, esta crise não se resolve em dois meses com umas eleições autonómicas para as quais não existem as mínimas garantias. O que é preciso é que se aplique o código penal contra os golpistas, com toda a contundência", defendem o secretário e fundador da Fundação Denaes e presidente do partido de extrema direita Vox, Santiago Abascal, que convocou o protesto.

Alguns dirigentes do Partido Popular, como a presidente da Comunidade de Madrid, Cristina Cifuentes, o vice-secretário nacional de comunicações, Pablo Casado, ou o autarca de Alcorcón, David Pérez, estiveram na Praça Colón a "título pessoal", disseram ao El País. 

Público | Foto: Sérgio Perez/Reuters

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