sábado, 26 de agosto de 2023

O beijo Maldito e Contas Furadas – Artur Queiroz

Presidente da Federação Espanhola de Futebol beijou uma campeã do mundo nos lábios durante um segundo. Está lixado.

Artur Queiroz*, Luanda

Eu vi um porco andar de bicicleta mas não fiquei admirado. Mais tarde vi uma bicicleta andar de porco. Depois de me certificar que não estava sob o efeito do tinto achei isso normal. Até que um dia vi um belfo, daqueles que enrolam a língua e põem os lábios em bico, falando na televisão. Estou com uma bebedeira das antigas? Não. Era mesmo verdade. Fiquei admirado porque no audiovisual são proibidos os defeitos de dicção. Mas quando vi o belfo chegar a presidente, a admiração atingiu o máximo. Pensava que mais nada me surpreendia e eis que o belfo apareceu em Kiev falando ucraniano com sotaque de vaca espanhola. Rendo-me!

Nunca fui medroso mas ando verdadeiramente assustado. Meti o rabo entre as pernas e tenho medo de sair da cubata. Temo chocar de frente com uma desvairada que me abraça, beija na boca e depois chama-me Tarzan. Conheço várias assim. E gosto desse tratamento ainda que já há muitos anos não seja o rei das selva. Vai daí vem o Pedro Sanchez e seus ministros prontos a condenarem-me a prisão perpétua. Porque tenho um passado complicado. Um dia fui com o Zeca Afonso à Galiza. Enquanto ele actuava eu bebia vinho ribeiro e dava bicos às rapazas. 

Espanha nunca mais. O presidente da Federação Espanhola de Futebol beijou uma campeã do mundo nos lábios durante um segundo. Está lixado. A FIFA abriu um processo por causa do toque de lábios contra lábios. A campeã do mundo, Jenny Hermoso, disse que “no passa nada” mas agora também está ofendida com o contacto labial. Ai se me apanham! Além de bicos ousei acostar-me com algumas meninas divertidas. Hoje nem com uma grua. Mas estes crimes não prescrevem e eu sinto-me em perigo. Contava com tudo menos morrer no garrote. Meninas beijos na boca ou no corpo todo, nunca mais!

O Iraque de Saddam Hussein era o país mais progressista e desenvolvido do Médio Oriente. Estive lá em serviço várias vezes, inclusive na primeira Guerra do Golfo. Sendo uma república socialista, havia liberdade de culto. Igualdade de direitos. Nunca me esqueço que uma mulher era a reitora da Universidade de Bagdade. No parlamento estavam deputadas! Tarek Aziz, ministro das relações exteriores e depois primeiro-ministro, era católico. Os templos da Igreja Católica estavam abertos ao culto, tal como as mesquitas. 

O estado terrorista mais perigoso do mundo foi lá impor a democracia. As tropas invasoras mataram um milhão de civis, causaram mais de dois milhões de refugiados ou deslocados, destruíram tudo, roubaram os fundos soberanos e roubam o petróleo à vontade. O regime democrático imposto pelos EUA ao Iraque acaba de aprovar uma lei que condena a homossexualidade com prisão perpétua ou pena capital. 

Jogadora da Espanha beija namorada após vitória contra a Irlanda na Copa do Mundo. Não foi lixada.

Como diria o Ventura do Chega, paneleiros e fufas (ele não tem estudos para dizer homossexuais) vão à vida! A líder do Chega de Esquerda, Mariana Mortágua, mal subiu à chefia informou logo que é lésbica. Assim os militantes, amigos e simpatizantes não se atrevem a engatá-la. Só para meninas. Cada macaco no seu galho. Caso um dia os venturas cheguem ao poder, homem que beije um homem, menina que beije uma menina são castrados quimicamente. Se forem as marianas, beijos entre homens e mulheres dão campo de reeducação com trabalhos forçados. Estão a ver porque tenho medo de sair da cubata. 

O antigo secretário-geral da UNITA, criminoso de guerra Abílio Camalata Numa, acaba de declarar que o Executivo não devolve ao partido os seus bens, adquiridos antes de Savimbi desencadear a guerra em 1992. Já nada na vida me admira. O sicário informou que as propriedades estão avaliadas em 200 milhões de dólares. Estou a ver Dona Vera Daves depositando o dinheiro na conta que o Adalberto indicar. Entrega o ouro aos bandidos. 

Um antigo ministro das Finanças, meu colega no Liceu Salvador Correia, fez as contas às destruições de bens públicos e privados (as mortes são irremediáveis) perpetrados pela UNITA entre 1992 e 2002. E o que se perdeu devido à situação de guerra. Concluiu que o Galo Negro deve ao Tesouro mais de 50 mil milhões de dólares. O sicário Abílio Camalata Numa diz que Angola deve 200 ao seu partido. O regime racista de Pretória conseguiu matar e destruir sem pagar nada. Mas acabou. Os seus líderes já morreram. A UNITA está aí. Os seus dirigentes também. Vão ter de pagar. E nas contas do meu amigo não estraram os diamantes de sangue! Nem as destruições a meias com os racistas sul-africanos.

O historiador Mabeko (Jean-Michel Mabeko-Tali) disse ao Jornal de Angola que o Acordo de Alvor fracassou porque os signatários MPLA, FNLA e UNITA “tinham uma agenda construída com base na exclusão absoluta dos dois outros na ocupação do espaço político do futuro Estado nacional angolano. Nenhum dos movimentos de libertação estava disposto a partilhar o poder, mesmo a UNITA que, por razões tácticas, devido à sua fraqueza militar na altura, deu a impressão de ser mais conciliatória”. 

Esta tese tem feito caminho e sendo uma aldrabice ignóbil, passou a ser verdade. Mabeko está brasonado por Lúcio Lara e agora usa o brasão cintilante de quem trabalha para o estado terrorista mais perigoso do mundo. A aldrabice propalada por ele é ainda mais ignóbil. 

A verdade é outra. Graças ao trabalho diplomático do MFA (Melo Antunes), diplomacia do Zaire de Mobutu e diplomacia queniana, os três movimentos de libertação (MPLA, FNLA e UNITA) estiveram reunidos em Mombaça, na “State House”, e ali trabalharam até chegarem a uma posição comum que permitiu negociar a Independência Nacional com Portugal. Estou a falar do Acordo de Mombaça. 

No dia em que o documento foi assinado, Agostinho Neto discursou em nome dos seus colegas e garantiu que o imperialismo e as grandes potências colonialistas não conseguiriam quebrar a unidade acabada de obter. Depois os três líderes foram com Jomo Kennyatta até à esplanada da Fortaleza de Mombaça e plantaram a “árvore da paz”. Mabeko, eu estava lá! A agenda dos três movimentos tinha um nome: Acordo der Mombaça!

A agenda dos EUA era outra. Por isso impôs o alto-comissário Silva Cardoso, seu agente. O oficial da CIA disfarçado de embaixador dos EUA em Lisboa, Frank Carlucci, com Mário Soares, montaram as pontes aéreas para retirarem de Angola os quadros portugueses e angolanos. Lançaram Daniel Chipenda como agente provocador (estava ao serviço dos racistas de Pretória), no dia da tomada de posse do Governo de Transição. O general Altino de Magalhães mandou retirar, no início de 1975, as tropas portuguesas do Norte de Angola para o território ser ocupado pelas tropas de Mobutu. Lisboa assistiu indiferente à invasão de Angola pelas tropas estrangeiras (Zaire e África do Sul), ainda na vigência do Acordo de Alvor.

*Jornalista

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