sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Angola | Confissões de um Criminoso de Guerra -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Abílio Camalata Numa, assassino e criminoso de guerra, deu uma entrevista à TV RAIAR. As suas declarações são mais do que suficientes para o Ministério Público instaurar um processo-crime contra um dos mais sanguinários sicários da UNITA. A entrevista decorreu com público e ele disse isto: “ Muita gente pensa que o MPLA é (gestos com os braços e mãos indicando grandeza) mas é mentira. O MPLA não é nada. O vosso problema é o medo! (Muitos risos no auditório)

O general na reforma e antigo deputado instigou os telespectadores e as pessoas presentes no auditório contra um partido político que “não é nada”. A mensagem é muito clara: Não tenham medo. Partam as suas delegações e ataquem os seus militantes!

A prova provada de que os sicários da UNITA ainda não saíram das matas, do acampamento da Jamba e nunca mais se libertam da mentalidade de criados dos racistas da África do Sul está aí. Abílio Camalata Numa é o exemplo anexo. 

Para mostrar que ele não tem medo do MPLA porque “o MPLA é nada”, o assassino às ordens de Savimbi faz este relato sobre o golpe desencadeado pela UNITA em Luanda, quando perdeu as primeiras eleições multipartidárias, em 1992:

“Percebi que isto ia descambar na guerra. O Dr. Savimbi deixou aqui em Luanda o vice-presidente Chitunda, Gato, Salupeto, Alicerces (Mango) para negociações após as eleições”.

A memória do criminoso de guerra é selectiva. Não diz que ficou em Luanda o General Ben Ben, chefe das tropas golpistas. Ele tinha uma unidade de tropa especial, “comandos”, escondida numa quinta de Viana. Mas mais grave ainda é esconder que ele já pertencia ao alto comando das Forças Armadas Angolanas (FAA) tal como Demóstenes Chilingutila. Estavam proibidos de actividades partidárias! Afinal tomaram posse como Generais das FAA mas continuavam com a camisola do Galo Negro!

Abílio Camalata Numa revela na entrevista que “o Dr. Savimbi foi para o Huambo mas ficaram em Luanda Chitunda, Gato, Salupeto, Mango e Chilingutila para negociações após as eleições”. Quais negociações? O acto eleitoral decorreu sem qualquer incidente. Organização impecável. Nunca houve tão grande afluência dos eleitores. Só não existia informação fidedigna das assembleias de voto, onde a UNITA não permitiu a presença dos outros partidos. Nem sequer dos agentes da Comissão Nacional de Eleições. Mas esses votos em nada alteravam os resultados finais. Os dirigentes da UNITA ficaram em Luanda para tomar o poder pela força!

Abílio Camalata Numa, na entrevista à TV RAIAR confirma:

“Nós fizemos um a reunião na casa do Dr. Savimbi que já tinha ido para o Huambo, ali perto dos americanos…”

TV RAIAR  - No Miramar?

“Sim no Miramar. Fizemos a reunião e decidimos que os principais generais da UNITA deviam formar uma força dissuasora. Fizemos uma força dissuasora para que as negociações políticas se fizessem”. Os generais da UNITA nas FAA tinham acabado de fazer o seu juramento de fidelidade à Pátria Angolana e logo foram criar uma força armada golpista!

A “força dissuasora” era constituída pelos “comandos” do General Ben Ben. As tropas armadas até aos dentes aquarteladas nas delegações da UNITA na Maianga, Serpa Pinto e São Paulo. Mais de 2.000 homens bem armados. E ainda as tropas acantonadas a norte de Luanda e que só estavam à espera que Savimbi tocasse o apito. As armas estavam escondidas até na mansão do líder do Galo Negro no Miramar!

Quais negociações políticas? Em democracia, as eleições ditam maiorias parlamentares que apoiam um Governo. O Primeiro-ministro indigitado, Marcolino Moco (foi o cabeça de lista do MPLA, partido que venceu as eleições com maioria absoluta), convidou todos os partidos que elegeram deputados a indicarem membros para o seu governo. Depois do acto eleitoral, a UNITA só tinha que aceitar ou recusar o convite. Mais nada. 

Abílio Camalata Numa participou numa conspiração armada contra o Estado Angolano sendo o “número dois” das FAA, lideradas na época pelo General João de Matos. E acaba de confessar. Esse golpe de estado fez milhares de vítimas nas ruas de Luanda e outras cidades angolanas. A rebelião armada de Savimbi durou dez anos. Equipamentos sociais destruídos, Instalações do Estado arrasadas. Milhares de mortos, feridos e mutilados. Milhares de milhões roubados ao Povo Angolano em diamantes de sangue. O Ministério Público desta vez não pode assobiar para o lado. A entrevista do assassino e criminoso de guerra Abílio Camalata Numa foi publicada.

Mas há mais grave. Na entrevista, o criminoso de guerra da UNITA diz que o General Chilingutila foi para o Huambo organizar a “força de dissuasão”. E ele próprio obedeceu às ordens partidárias sendo General das FAA. Foi para Norte organizar as tropas para o golpe!

TV RAIAR – Comi saiu de Luanda?

“Saí por terra de carro, fui para Kibaxi. Encontrei lá a Polícia Nacional e o administrador municipal. Quando senti que já tínhamos entrado em fogo fui ao aquartelamento de Kanakassala, reuni a tropa e descemos para a cidade de Caxito. Ocupei Caxito!

Os agentes do Ministério Público e o Procurador-Geral da República podem não ter memória desses acontecimentos, mas Abílio Camalata Numa diz a verdade. Eu estava lá como repórter. Vi o rasto de morte e destruição deixado por Abílio Camalata Numa e as tropas que comandou até à capital do Bengo. Centenas de mortos civis. Agentes da Polícia Nacional massacrados. Destruição total dos equipamentos sociais e edifícios públicos entre Kibaxi e Caxito. 

O criminoso de guerra acaba de confessar os seus crimes ante as câmaras da TV RAIAR. Por muito que o Poder Judicial tenha um amor de estimação pelos sicários da UNITA, desta vez ninguém pode fingir que não aconteceu. O vídeo da entrevista de Abílio Camalata Numa até chega aos roboteiros e ao pessoal da zunga que ainda resiste. Se não chega à PGR então o melhor é irem todos para a Lua ou para Marte, aproveitando o negócio do Acordo Artemis. 

* Jornalista

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