Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
A coligação parece
estar a cair aos pedaços e o CDS perdeu peso com as substituições
São tantos os
sinais de tensão e desacordo à volta da coligação governativa que não é
possível disfarçar o mal-estar entre PSD e CDS e até dentro do próprio PSD, com
posições críticas assumidas por figuras do partido. Se no PSD nenhum dos
protagonistas tem vontade de gerar uma crise política, ou condições para o
fazer, já no CDS a situação é diferente.
No fim-de-semana
agravaram-se os sinais de crispação, com mais declarações de Pires de Lima, que
insistiu no pedido de uma remodelação profunda, sugerindo agora que a Economia
passe a ter a mesma dignidade que as Finanças, ou seja, que fique na alçada de
um ministro de Estado. Evidentemente que Vítor Gaspar seria o primeiro a perder
poder se a ideia fosse acolhida.
Há uma evidência que a mexida governamental trouxe: o CDS perdeu peso e quer
reequilíbrios. Ascenderam a ministros dois militantes do PSD, Marques Guedes e
Poiares Maduro, quando só saiu um social-democrata, Miguel Relvas. É consabido
que as paridades nas coligações são acordadas ao milímetro. É portanto natural
o desconforto do CDS, que se viu ultrapassado por um movimento da iniciativa
exclusiva de Passos Coelho, que aparentemente pôs os centristas perante o facto
consumado.
Seja por estas seja
por outras razões atendíveis do ponto de vista pessoal, o facto é que a isto se
soma a circunstância de Paulo Portas ter primado pela ausência na tomada de
posse dos ministros e dos secretários de Estado. Os esclarecimentos foram
pífios e não convenceram e a cara de Passos Coelho quando foi confrontado com o
facto pelos jornalistas diz mais que mil palavras. A degradação da relação
pessoal e política entre os líderes da coligação não pode deixar de ser
considerada uma realidade geradora de tensões.
A saída de Miguel
Relvas gerou, entretanto, a necessidade de os barrosistas passarem a ter um
protagonismo maior no quotidiano. No fim--de-semana houve recados na imprensa e
ontem pela fresquinha José Luís Arnaut demoliu a conferência de imprensa em que Aguiar-Branco
anunciou desajeitadamente e sem diálogo com a oposição e o parlamento uma
reestruturação das Forças Armadas que só será concluída depois das próximas
legislativas. E assim o ministro rompeu uma praxe da nossa democracia, que
Arnaut não deixou passar em claro.
Mais óbvio que isto para sinalizar o mal-estar político só mesmo uma ruptura,
que não aconteceu apenas porque ainda há mínimos que os parceiros querem
assegurar.
Silva Peneda: um
coração do tamanho do país
Silva Peneda foi
nomeado por Cavaco Silva para presidir às comemorações do 10 de Junho.
Percebe-se. O presidente do CES tem mostrado equilíbrio e bom senso, devendo-se
em grande parte a ele que o país ainda não tenha conhecido episódios verbais e
sociais mais extremos. Deste homem discreto disse um dia o bispo emérito de
Setúbal: “Tem um coração do tamanho de Portugal.” Na altura Peneda era ministro
do Emprego e Segurança Social e, em vez de cortar, deu a mão aos
desfavorecidos. Não admira por isso que seja apontado como o mais capaz de
liderar um governo de salvação nacional se a situação o exigir.
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