Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
O primeiro-ministro
disse, e o Expresso destacou para notícia principal, que o "normal" é
recandidatar-se a primeiro-ministro. Como Passos não admite eleições
antecipadas, presume-se que quer completar os dois anos de mandato que ainda
lhe faltam e depois cumprir mais quatro.
Pode ser
"normal", como diz. Mas não nestes tempos. Passos não ganha umas
eleições nem no prédio dele. As pessoas estão zangadas, estão fartas. Coisa
diferente é saber se podia ter sido de outro modo, ou se toda a culpa é de
Passos (apesar nos inúmeros tiros nos pés que deu e das piruetas sucessivas com
que nos brindou). Mas lá que ele não é eleito, disso podem estar certos.
Há dois anos o
atual líder do PSD foi escolhido com base num engano: o de que a crise era
apenas portuguesa. Como o seu antecessor destruiu boa parte da economia,
parecia que assim era. Mas não era. Depois disso, Passos ainda trabalhou estes
anos com a convicção de que a crise se resolve em Portugal. Só muito
recentemente o Governo começou a dar sinais de ter entendido que tem de haver
uma cooperação de toda a Europa para superar a situação em que nos encontramos.
Nos próximos dois
anos, talvez Passos, o Governo e a generalidade da nossa classe política
compreenda que nem a Europa nos salva (incluindo aqueles críticos do Governo
que só gritam "crescimento!" como se o dito crescimento nascesse nas
árvores). Porque cada país da Europa enfrenta a sua crise específica e precisa
salvar-se a si próprio. Cada vez mais, estará cada um por si, pois não creio
que até lá consigam (ou sequer aprendam) fazer novas instituições. Em 2015 (se
não for antes), quando chegarmos às eleições legislativas, será preciso muita
sorte para que Portugal não caia nos braços de um vendedor de ilusões fáceis
(claro que Passos também o poderia ser, mas já ninguém acreditará nele), de um
palhaço ou de um radical.
E nos anos
subsequentes - de 2015 a 2019 - o calvário vai continuar. O desemprego vai
manter-se elevado, as nossas exportações para a Europa não vão ter o fulgor de
que necessitariam, a nossa dívida terá um valor incomportável e a nossa
produção continuará baixa e os países emergentes continuarão a tratar o Velho
Continente ainda assim com maior delicadeza do que aquela que o Velho
Continente lhes dispensou no passado.
Vão ser anos
terríveis. Pode ser que encontremos gás ou petróleo - talvez para estoirarmos
em inutilidades noutro ciclo de prosperidade. Mas ninguém vai aguentar seis
anos no poder. Se Passos chegar a 2015, a sua resistência já será digna de nota.
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