Díli, 09 nov (Lusa)
- O toque para a entrada ecoou no pátio central da Escola Portuguesa Ruy
Cinatti em Díli, Timor-Leste, e os alunos correm para fazer a formatura, depois
seguem em filas para as salas de aulas levados pelos professores. É assim todos
os dias na escola onde todos querem andar.
Com mais de 800
alunos, a maior parte dos quais timorenses, a escola portuguesa tem oito
centenas de famílias a aguardarem vagas para os seus filhos.
É que, apesar de
ter ficado em último lugar na lista das escolas portuguesas elaborada pela
agência Lusa com dados do Ministério da Educação, em Timor-Leste, a escola Ruy
Cinatti é considerada uma das melhores, com o máximo de propinas mensais de 15
dólares.
Depois do toque, o
silêncio volta a reinar na escola e nos corredores só se ouvem as vozes dos
professores, interrompidos por dúvidas de alguns alunos.
Dispersos por
grupos espalhados por sombras alguns alunos que vieram mais cedo conversam em
sussurros e risadas. Vale tudo menos perturbar as aulas.
Às 09:00, a
biblioteca já está cheia. É lá que encontramos o timorense Steven Sales Luís,
17 anos, que tirou no exame nacional de geometria do ano passado 20 valores.
"Gosto imenso
da escola. Estou aqui desde 2002 e já estou no 12º ano. Vim inaugurar a escola
portuguesa", disse Steven Sales, um dos melhores alunos daquele
estabelecimento.
Questionado sobre a
nota máxima a geometria, Steven Sales Luís disse que não é fácil.
"Tive que estudar
muito, praticar todos os dias em casa, fazer exercícios e qualquer dúvida é só
perguntar aos professores", afirmou aquele futuro engenheiro ou arquiteto,
que quer continuar os estudos em Portugal.
Sobre os exames
nacionais, Steven Sales Luís afirmou que não são difíceis, mas deixou críticas
à falta de sensibilidade.
"É que os
exames são feitos à noite e os alunos têm mais dificuldade em estarem atentos.
Nós acordamos cedo e fazer os exames à noite é um problema", disse.
Entre Portugal e
Timor-Leste existe uma diferença horária de oito ou nove horas, consoante a
hora de verão ou inverno.
Na altura de
exames, os alunos têm de fazer as provas durante o período noturno, com a maior
parte a começar às 22:30 (hora local).
O secretário de
Estado do Ensino e Administração Escolar de Portugal, João Casanova de Almeida,
anunciou em maio que para este ano vão haver provas específicas para Díli por
causa da diferença horária.
Steve Sales alertou
também que em Timor-Leste a língua oficial é o português, mas não é a língua
materna e muitos têm dificuldade em compreender os enunciados dos exames.
"Os alunos ao
lerem a primeira vez não percebem de imediato o que é a pergunta. Às vezes
perguntam aos colegas o que é que a pergunta quer dizer. Traduzimos em tétum e
depois conseguem fazer o exercício bem", acrescentou.
Marcos Araújo, de
17 anos, também partilha da opinião do amigo.
"Acho que o
horário é um pouco chato. É à noite e custa mais. É mais difícil ter
concentração. Mas acho que o mais difícil é o português nos alunos. Há mais
dificuldades em compreender os enunciados", disse Marcos Araújo, que ao
contrário dos seus colegas anda a aprender tétum.
"Aprendo todos
os dias mais vocabulário e tento ensinar-lhes também. Eu peço para eles falarem
português comigo e eu tétum com eles", explicou Marcos Araújo, que apesar
de ser filho de pais timorenses nasceu e cresceu em Portugal até os pais terem
decidido voltar ao seu país de origem.
Mas uma coisa
garante: a escola em Díli tem mais condições do que a que frequentava em Portugal.
É o que também acha
Nobelinha Sarmento, de 16 anos, que entrou na escola portuguesa de Díli para
fazer a "pré" e que este ano vai fazer pela primeira vez os exames
nacionais, como disse.
Aquela futura juíza
do Tribunal de Recurso de Timor-Leste já sabe que tem de estudar muito, mas,
por agora, diverte-se na escola que "tem tudo".
"As
professoras são simpáticas, ensinam bem, os alunos dão-se bem com os
professores e temos muitas facilidades que as outras escolas timorenses não
têm. Podemos dizer que somos uns privilegiados", concluiu
MSE // SO - Lusa
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