domingo, 10 de novembro de 2013

ESCOLA PORTUGUESA RUY CINATTI, ONDE TODOS QUEREM ESTUDAR

 


Díli, 09 nov (Lusa) - O toque para a entrada ecoou no pátio central da Escola Portuguesa Ruy Cinatti em Díli, Timor-Leste, e os alunos correm para fazer a formatura, depois seguem em filas para as salas de aulas levados pelos professores. É assim todos os dias na escola onde todos querem andar.
 
Com mais de 800 alunos, a maior parte dos quais timorenses, a escola portuguesa tem oito centenas de famílias a aguardarem vagas para os seus filhos.
 
É que, apesar de ter ficado em último lugar na lista das escolas portuguesas elaborada pela agência Lusa com dados do Ministério da Educação, em Timor-Leste, a escola Ruy Cinatti é considerada uma das melhores, com o máximo de propinas mensais de 15 dólares.
 
Depois do toque, o silêncio volta a reinar na escola e nos corredores só se ouvem as vozes dos professores, interrompidos por dúvidas de alguns alunos.
 
Dispersos por grupos espalhados por sombras alguns alunos que vieram mais cedo conversam em sussurros e risadas. Vale tudo menos perturbar as aulas.
Às 09:00, a biblioteca já está cheia. É lá que encontramos o timorense Steven Sales Luís, 17 anos, que tirou no exame nacional de geometria do ano passado 20 valores.
 
"Gosto imenso da escola. Estou aqui desde 2002 e já estou no 12º ano. Vim inaugurar a escola portuguesa", disse Steven Sales, um dos melhores alunos daquele estabelecimento.
 
Questionado sobre a nota máxima a geometria, Steven Sales Luís disse que não é fácil.
 
"Tive que estudar muito, praticar todos os dias em casa, fazer exercícios e qualquer dúvida é só perguntar aos professores", afirmou aquele futuro engenheiro ou arquiteto, que quer continuar os estudos em Portugal.
 
Sobre os exames nacionais, Steven Sales Luís afirmou que não são difíceis, mas deixou críticas à falta de sensibilidade.
 
"É que os exames são feitos à noite e os alunos têm mais dificuldade em estarem atentos. Nós acordamos cedo e fazer os exames à noite é um problema", disse.
 
Entre Portugal e Timor-Leste existe uma diferença horária de oito ou nove horas, consoante a hora de verão ou inverno.
 
Na altura de exames, os alunos têm de fazer as provas durante o período noturno, com a maior parte a começar às 22:30 (hora local).
 
O secretário de Estado do Ensino e Administração Escolar de Portugal, João Casanova de Almeida, anunciou em maio que para este ano vão haver provas específicas para Díli por causa da diferença horária.
 
Steve Sales alertou também que em Timor-Leste a língua oficial é o português, mas não é a língua materna e muitos têm dificuldade em compreender os enunciados dos exames.
 
"Os alunos ao lerem a primeira vez não percebem de imediato o que é a pergunta. Às vezes perguntam aos colegas o que é que a pergunta quer dizer. Traduzimos em tétum e depois conseguem fazer o exercício bem", acrescentou.
 
Marcos Araújo, de 17 anos, também partilha da opinião do amigo.
 
"Acho que o horário é um pouco chato. É à noite e custa mais. É mais difícil ter concentração. Mas acho que o mais difícil é o português nos alunos. Há mais dificuldades em compreender os enunciados", disse Marcos Araújo, que ao contrário dos seus colegas anda a aprender tétum.
 
"Aprendo todos os dias mais vocabulário e tento ensinar-lhes também. Eu peço para eles falarem português comigo e eu tétum com eles", explicou Marcos Araújo, que apesar de ser filho de pais timorenses nasceu e cresceu em Portugal até os pais terem decidido voltar ao seu país de origem.
 
Mas uma coisa garante: a escola em Díli tem mais condições do que a que frequentava em Portugal.
 
É o que também acha Nobelinha Sarmento, de 16 anos, que entrou na escola portuguesa de Díli para fazer a "pré" e que este ano vai fazer pela primeira vez os exames nacionais, como disse.
 
Aquela futura juíza do Tribunal de Recurso de Timor-Leste já sabe que tem de estudar muito, mas, por agora, diverte-se na escola que "tem tudo".
 
"As professoras são simpáticas, ensinam bem, os alunos dão-se bem com os professores e temos muitas facilidades que as outras escolas timorenses não têm. Podemos dizer que somos uns privilegiados", concluiu
 
MSE // SO - Lusa
 

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