sábado, 16 de novembro de 2013

Moçambique: MUXUNGUÉ SOBRE ESCOLTA MILITAR

 


O chiar dos pneus dos camiões de grande porte invade Muxungué . São 5 da tarde e daqui já ninguém se atreve na estrada em direcção a sul. Maputo fica a 910 km.

Há seis meses que é assim. Ao longo de 100 km entre Muxungué e o rio Save não se circula sem escolta militar, ou seja, só se transita duas vezes por dia, para norte e para sul.

Este foi um dos locais de eleição da Renamo para fazer assaltos-surpresa, emboscadas, danos na via. Aqui o alvo são os militares do exército moçambicano.

Eles, a Força de Intervenção Rápida, andam stressados. Vem colegas tombar, ontem morreu um, 11 seguiram feridos para a cidade da Beira. Querem jornalistas ao largo, não há declarações, não há paciência nem disposição para nada. Escondem o que podem: os feridos, o local das emboscadas, o número de militares que está destacado na região. Não conseguem esconder a apreensão com que enfrentam este dia-a-dia. Saíem tensos para a escolta da manhã, sabem que são o alvo preferido da Renamo.

Ao mesmo tempo há uma normalidade inquietante em tudo isto. O arrastar do tempo parece que tornou normal toda está situação.

Aliás é incrível ver ao longo desta via as pessoas que aqui vivem cultivarem descontraidamente as machambas, ou seja, as pequenas hortas.

Os homens armados vem das matas e as pessoas vivem nas matas. Algo se passa. Não se assiste aqui à fuga face aos confrontos, seja por hábito seja por outras razões.

Ao mesmo tempo, esta situação está a provocar o estrangulamento da circulação de pessoas e bens em todo o país. Poucos homens retardam todo o movimento de um país imenso. Os danos econômicos vão fazer-se sentir.

Quem se atreve na estrada vai de coração apertado. Nunca se sabe o que pode acontecer. Quando se chega ao fim do percurso escoltado os rostos aliviam em sorrisos.

SIC - Cândida Pinto, Muxungué, Moçambique

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