Mitos do século XX,
governantes da África do Sul e Cuba inspiraram-se mutuamente. Para Mandela,
presença cubana na África foi vital contra apartheid
Cauê Seignermatin
Ameni – Outras Palavras, em Blog da Redação
Um Nelson Mandela
adocicado, quase insosso, emergiu dos noticiários horas depois de morrer.
Especialmente no Brasil, aponta-se o líder sul-africano como uma espécie de
unanimidade, alguém que dirigiu o desmonte do apartheid quase sem enfrentar
oposição. Neste sentido, ele seria o antípoda de gente como… Fidel Castro —
este, rancoroso, ranzinza e ressentido. Publicado hoje, um texto de Hirania Luzardo, editora senior do Huffington
Post, mostra que tal visão é absolutamente fictícia. Além de manterem longa
amizade pessoal, Mandela e Castro inspiraram-se mutuamente e cooperaram de
forma intensa.
O triunfo da
Revolução Cubana, de 1959, inspirou
o jovem Mandela a articular o braço militar do Congresso
Nacional Africano (ANC/CNA). Denominada Lança da Nação (Umkhonto we Sizwe, na
língua zulu), foi fundada 16 de dezembro, junto ao Partido Comunista da África do Sul, como
resposta à sistemática opressão política, social e econômica movida contra a
população negra, mestiça e indiana da África do Sul pelo regime político do
Apartheid. Ou seja: Mandela compreendeu que a conquista de igualdade racial
exigiria ruptura radical com o status quo.
Além disso, a
presença militar cubana no sul da África contribuiu com a queda do regime de apartheid.
Entre 1974 e 1980, logo após a independência de Angola, cerca de 300 mil
soldados cubanos foram enviados à região, em apoio ao governo recém-formado em
Luanda — que sofria ameaça de tropas ligadas à vizinha África do Sul e EUA.
Esta presença debilitou militarmente o exército racista sul-africano. Em
paralelo, Cuba participou com brigadas militares e médicas em diversos países
africanos. De tal sorte que, a primeira
campanha de vacinação contra a poliomielite realizada no Congo, foi
organizada por médicos cubanos – décadas antes do Brasil fazê-lo.
Após sair da prisão
(em 1990), a primeira ação de Nelson Mandela foi visitar Cuba, no ano seguinte,
para expressar sua admiração e respeito pelo regime do país. ”Quem treinou o
nosso povo, quem nos forneceu recursos, que ajudaram tanto nossos soldados,
nossos doutores?” perguntou Nelson Mandela a Fidel Castro durante sua visita a
Havana. “Quando você vem nos visitará?”.
Isso ocorreria em
1994. Nelson Mandela elegeu-se presidente na primeira
eleição democrática após o desmantelamento das leis discriminatórias. Fidel
foi convidado de honra à cerimônia de posse. E ouviu
um elogio sentido: “O que Fidel tem feito por nós é difícil descrever com
palavras. Primeiro, na luta contra o apartheid, ele não hesitou em nos dar todo
tipo de ajuda. E agora que somos livres, temos muitos médicos cubanos
trabalhando aqui”.
A relação
diplomática formal entre Cuiba e África do Sul foram estabelecidas em 11 de
maio. Em toda África, há
cerca de 4 mil médicos cubanos. Para o aniversário de 90 anos de Mandela,
Fidel enviou uma mensagem
parabenizando-o:
“Glória á ti,
Nelson, que passou 25 anos na prisão defendeu a dignidade humana! Calúnia e
ódio não puderam fazer nada contra a sua resistência de aço. Você foi capaz de
resistir e sem saber, ou almejando ser, você se tornou um símbolo do que há de
mais nobre na humanidade. Você vai viver na memória das futuras gerações, e na
memória dos cubanos que morreram defendendo a liberdade de seus irmãos em
outras terras do mundo “.
Seguem algumas
fotos dos encontros entre Mandela e Fidel, no original.
Sem comentários:
Enviar um comentário