quinta-feira, 27 de março de 2014

Angola-Alemanha: GRANDES LAGOS E A UCRÂNIA SÃO AMEAÇA À PAZ MUNDIAL




O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, recebeu ontem em audiência, no Palácio da Cidade Alta, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Frank-Walter Steimeier.

No centro da agenda do encontro esteve a cooperação entre os dois países, impulsionada pelas visitas ao mais alto nível além de missões sectoriais nos dois sentidos e os acordos nos vários domínios. A Chanceler alemã Angela Merkel esteve em Luanda em Julho de 2011, retribuindo a visita do Presidente angolano a Berlim em Fevereiro de 2009. 

À saída do Palácio Presidencial, Frank-Walter Steimeier informou que a audiência com o Chefe de Estado angolano teve também outras incidências, por exemplo, a Ucrânia. “O Presidente perguntou-me de forma muito interessada sobre as causas do conflito e a actual situação na Ucrânia. Nós, na Europa, 70 anos após o fim da II Guerra Mundial e 25 anos após o fim da Guerra Fria, não estávamos à espera que situações de conflitos violentos voltassem a ensombrar o continente”, disse o chefe da diplomacia germânica.

Frank-Walter Steimeier considerou a crise entre Moscovo e Kiev de “muito séria, com risco de uma cisão”. O ministro alemão garantiu que Berlim está fortemente empenhada na busca de soluções que impeçam uma “escalada do conflito na Ucrânia”.

Um passo no caminho certo

Para o chefe da diplomacia alemã o acordo conseguido na passada sexta-feira para o envio de um grupo de observadores da OSCE à Crimeia constitui um “grande sucesso” na medida em que foi possível fazê-lo juntamente com representantes dos governos russo e ucraniano. “É um primeiro passo no caminho certo para reduzir a tensão”, resumiu.

Frank-Walter Steimeier admitiu haver dificuldades para chegar a uma solução na situação na Ucrânia. “Não é fácil alcançar êxitos rápidos por ser um conflito político sobre a desintegração de um Estado”, disse o ministro alemão que está confiante na possibilidade de se criar um grupo de contacto internacional para a situação na Ucrânia. “Estamos ainda numa fase de sondagens e sem nada ainda de concreto, mas depois do passo que demos em relação ao grupo de observadores da OSCE talvez seja possível, com a Rússia e Ucrânia, darmos um outro passo, criando uma espécie de grupo de contacto internacional”, declarou Frank-Walter Steimeier.

Cooperação diplomática

O ministro germânico disse que apesar de serem países com relações “tradicionais e de grande proximidade”, Angola e a Alemanha têm grande margem de progressão em termos de cooperação. “É importante olhar para o futuro e ver que temos pontos em que esta cooperação pode ser reforçada”, disse Frank-Walter Steimeier. Para o chefe da diplomacia alemã, a experiência de Angola ao presidir à Conferência dos Grandes Lagos é também uma oportunidade para analisar formas de reforçar a cooperação, especialmente em matéria de política externa. “É uma experiência difícil, juntando interesses da região muitas vezes tão divergentes para criar um denominador comum, evitando uma escalada de violência”, referiu.

Frank-Walter Steimeier convidou o seu homólogo de Angola, Georges Chikoti, a visitar a Alemanha, no âmbito do interesse mútuo manifestado no sentido de reforçar a cooperação bilateral. A visita de Frank-Walter Steimeier a Angola faz parte de um périplo africano que o levou antes à Etiópia e à Tanzânia. O chefe da diplomacia alemã justificou a iniciativa com o facto de a Alemanha estar apostada em actualizar a percepção da sua política externa em relação a África. “Por isso decidimos fazer a visita neste momento e a países diferentes”, declarou.

Em relação à Tanzânia, Frank-Walter Steimeier disse que as relações entre Dar es Salaam e Berlim são “muito intensas, mas também muito antigas”. Quanto à Etiópia, a escolha deveu-se ao facto de ser um país que atravessa uma fase de profunda mudança e também por acolher a sede da União Africana. 

“Fomos a Addis Abeba com grande respeito em relação a tudo o que está a ser feito nos últimos anos em relação à capacidade de solucionar os problemas de África, nas questões de segurança, de cooperação económica e em relação ao financiamento”, frisou.

Angola potência mundial

Angola, última paragem do périplo africano de Frank-Walter Steimeier, mereceu a escolha por ser a “economia que regista o crescimento económico mais forte não só em termos africanos, mas em todo o mundo e por existirem boas perspectivas de cooperação entre empresas alemãs e angolanas”.

Mas a inclusão de Luanda na agenda do chefe da diplomacia alemã não se deveu apenas aos bons indicadores de crescimento económico: “Do ponto de vista da política externa, a Alemanha está neste momento a envidar esforços semelhantes aos de Angola em relação a conflitos regionais nas nossas proximidades”, disse Frank-Walter Steimeier, referindo-se à tensão entre Moscovo e Kiev.

Kumuênho da Rosa – Jornal de Angola

Foto em Deutsche Welle

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