Macau, China, 25
mar (Lusa) - O escritor Helder Macedo defendeu hoje que o Português "tem
de se assumir como língua da diferença" e "explodir em todas as
direções" até porque depende "muitíssimo mais dos que o
adotaram" como sua língua.
O português
"tem de se assumir como a língua da diferença porque se nós, em português,
não formos capazes de entender a diferença entre o português e o angolano ou
entre o brasileiro e o moçambicano, aí torna-se numa língua impositiva,
culturalmente colonialista, quando tem de ser o oposto: Tem de explodir em
todas as direções e ser uma língua da diferença", disse Helder Macedo, à
agência Lusa.
Como assinalou o
poeta, romancista e ensaísta - que proferiu, ao final da tarde, uma palestra
subordinada ao tema "O Português e a Cultura Lusófona no Mundo de
Hoje" no Instituto Politécnico de Macau - "é isso que, de certa
maneira, acontece um bocado com a língua inglesa", idioma literário de
paquistaneses, nigerianos, indianos ou de norte-americanos.
"Nós ainda
temos o sentido um bocado imperialista da língua portuguesa", criticou
Helder Macedo, para quem "é muito importante que os praticantes culturais
de língua portuguesa percebam que se podem entender uns aos outros sem nenhum
dominar".
Para o escritor,
"se as várias culturas de língua portuguesa se levarem culturalmente a
sério deixam de ser periféricas em relação à cultura inglesa e às outras
culturas e passam a assumir a sua própria identidade".
"A
sobrevivência da língua portuguesa vai ser muito menos dependente de Portugal
europeu do que do Brasil, Angola, Moçambique. Esses é que são os países que vão
manter a [sua] importância internacional e o desenvolvimento da língua portuguesa,
com todas as variantes que vai ter", argumentou.
Por outro lado,
nenhuma língua é estática, pelo que "se se vai desenvolver em contacto ou
participação e até criatividade de gente que vem de outras línguas e de outras
culturas - que é o caso dos africanos - é claro que a língua vai ser muito
diferente", prevê Helder Macedo, que aprendeu português nos bancos de uma
escola primária de Moçambique.
"Nós, falantes
e praticantes da língua portuguesa, - temos acesso a outras línguas, ao inglês,
por exemplo, - mas os de língua inglesa não nos leem: São profundamente
ignorantes da diferença", defendeu, apontando que "o nosso problema
em relação à língua portuguesa é manter a integridade da diferença num mundo
cada vez mais o mesmo".
Quanto à China,
"só recentemente está a penetrar, de facto, ao nível mundial nas outras
culturas e vai ser muito interessante o que vai acontecer porque aí vai haver
códigos linguísticos totalmente diferentes", defendeu, recordando, por
outro lado, "o investimento político, cultural e económico na língua
portuguesa" por parte dos chineses, os quais "perceberam a
importância comercial da língua por causa do Brasil e do potencial de
África".
"Ainda não
aconteceu nada parecido. Qualquer que seja o poder que exista, a cultura
chinesa tem raízes tão profundas e tão vastas ao mesmo tempo que vai ser
diferente e sendo diferente não imagino o que possa ser essa diferença. Mas que
não vai ser parecido com o tupi-guarani desaparecer e toda a gente no Brasil
falar português, isso de certeza que não vai", concluiu.
DM // APN - Lusa
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