Sabia que o Governo
tomou "quase 400 iniciativas estruturais separadas" (separadas, hã?)
que "removeram obstáculos ao crescimento"? Não? Pois The Wall Street
Journal sabe - mesmo se, questionado no Twitter sobre se pode indicar ao menos
dez, o autor da afirmação, o jornalista Simon Nixon, emudece.
Num texto desta
semana sobre Portugal, intitulado "Aguentando-se sozinho", Nixon,
"chefe do comentário europeu" no WSJ, aponta os inimigos do
ajustamento português: o Tribunal Constitucional e o PS. O primeiro, assevera,
"adotou uma interpretação o mais alargada possível das suas atribuições
para alinhar com a oposição em matérias politicamente controversas, tornando o
processo de ajustamento muito mais difícil". Informado (!) de que a
maioria dos "chumbos" do TC foram solicitados por Cavaco, o que
prejudica um bocado a ideia de que é um coio de radicais exorbitando as suas
funções em prol da oposição, volta a não ter o que dizer. Aliás, garantir que
as decisões do TC "prejudicaram o ajustamento" mas que 2013 foi o
momento da "viragem" do "aluno estrela da crise da
eurozona" (assim nos apelida) é outra flagrante contradição. As decisões
do TC só tiveram efeito prático em 2013 (em 2012 permitiu que o Estado ficasse
com os subsídios de Natal e férias de funcionários públicos e pensionistas),
quando o Governo aumentou o IRS para, disse-o na altura, "compensar"
o facto de não poder continuar a cortar os subsídios. Ora 2012 foi ano de
recessão, com défice do Estado superior ao valor fixado; mas em 2013, segundo
Nixon (e o Governo), ficou tudo joia: a economia "animou" e o défice,
alegra-se o Executivo nesta semana, "ficou abaixo do previsto".
Tudo tão joia que o
WSJ, mais uma vez alinhado com o Governo, associa a recuperação da economia
portuguesa prevista pelo Banco de Portugal ao "aumento das exportações
desde 2008" e ao seu peso relativo no PIB (que o PIB tenha encolhido não
interessa nada). "Ao mesmo tempo", diz, "o desemprego caiu para
15%, muito alto ainda mas com redução suficiente para possibilitar a animação
da procura interna." Confrontado com o facto de, ao contrário, as análises
do BdP atribuírem o reavivar da economia à procura interna, Nixon nega ter
atribuído o efeito às exportações e aconselha à releitura do seu texto.
Releia-se, sim. Por exemplo o final: "Muito depende da capacidade de os
três principais partidos portugueses serem capazes de assegurar que manterão a
estratégia que já deu resultados positivos. Quanto maior o comprometimento,
mais suaves as condições. Claro, se o compromisso fosse realmente credível,
Portugal talvez não precisasse de uma rede de segurança." Houvesse dúvidas
de que esta peça do WSJ, despudoradamente baseada na propaganda do Governo e da
troika, visa certificar "o sucesso" do "ajustamento
português" e pressionar o PS, ei-las desvanecidas. Só falta mesmo perceber
o que está o Journal a fazer no título da publicação.
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