Jornal de Angola,
editorial - 13 de Maio, 2014
A Comissão Política
da UNITA esteve reunida em Viana e no comunicado final acusa este jornal de
“incitação à intolerância absoluta e à violência”. Mas disparou mais uma rajada
afirmando que atentamos “contra a reconciliação nacional e a paz”.
O senhor Isaías
Samakuva recriminou “a passividade das autoridades” por não verem na liberdade
de expressão as coisas terríveis que o líder da oposição viu. E ainda que
vissem, era sempre intolerável que nos silenciassem como evidentemente é a
vontade da direcção da UNITA.
O comunicado revela uma tendência inquietante para a censura. O Jornal de
Angola emite opiniões que não agradam a Isaías Samakuva e ele acusa as
autoridades de “passividade”. Se o líder da UNITA estivesse no poder, era certo
e seguro que nos forçava a calar. E atendendo ao passado da organização, é
legítimo supor que os meios usados para a mordaça fossem ferro ou fogo.
Felizmente vivemos num Estado de Direito e Democrático. Até agora a única acção
que sentimos no sentido de atentar contra a liberdade de imprensa foi só o
comunicado da direcção da UNITA. Ainda bem que o maior partido da oposição
revela de uma forma clara e directa o seu compromisso ideológico com a censura.
Nós cá estamos, sempre livres, rigorosos, responsáveis e ao serviço do Povo
Angolano, sem discriminações nem preconceitos. Somos jornalistas, não somos
paus mandados nem estamos a soldo de ninguém. Quando for calada a nossa voz, os
leitores ficam a saber que há censura em Angola e pelo menos um partido, a
UNITA, defende a lei da rolha contra os jornalistas incómodos.
A UNITA diz que este jornal promove a intolerância e a violência. Rejeitamos
liminarmente tal acusação. Em nenhuma página deste jornal o senhor Isaías
Samakuva encontra uma expressão ou um texto a defender a violência ou a pôr em
causa a reconciliação nacional. Mas o contrário é possível. Podemos dar mil
exemplos de atitudes de dirigentes da UNITA que apelam à violência e põem em
causa a reconciliação nacional. Podemos dar o exemplo mais recente e que vem
expresso no comunicado da comissão política da UNITA: a anunciada homenagem a
Savimbi, o condecorado herói do apartheid. O que reduziu Angola a pó, só porque
perdeu as eleições de 1992. O que destruiu barragens, postes de alta tensão,
pontes, vias-férreas, aeroportos, escolas, hospitais. Savimbi matou, ao serviço
do apartheid, milhões de angolanos. Queimou mulheres vivas na Jamba.
Instrumentalizou crianças para a guerra. Assassinou friamente dirigentes da
UNITA só porque estava de mau humor. Desde 1992 a 2002 fez Angola
recuar económica e socialmente mais de 100 anos. Ainda hoje estamos a sofrer
com os problemas estruturais causados pela sua doentia ambição. Homenagear em
Angola um herói do apartheid é de uma violência inusitada. É um atentado de
morte à reconciliação nacional. É igual a glorificar Hitler ou negar o
Holocausto. Savimbi protagonizou no solo sagrado da Pátria crimes hediondos
contra a Humanidade. Não pode ser homenageado nem glorificado.
Intolerância imperdoável é o que Isaías Samakuva fez ao publicar uma “carta
aberta” em França onde lança graves insultos ao Chefe de Estado. Faltar ao
respeito a um símbolo da Nação é violência, intolerância e agressão. O líder da
UNITA agrediu todos os angolanos, mesmo os que votaram nele. Intolerância cega
e altamente reprovável é dizer que o Chefe de Estado anda a assassinar
opositores políticos, quando a realidade mostra o contrário: o Presidente José
Eduardo dos Santos salvou a vida a milhares de dirigentes da UNITA e seus
familiares. Abraçou todos os que estavam nas matas do Lucusse quando o herói do
apartheid, Savimbi, morreu em
combate. Quem foi salvo da morte certa, tratado como amigo,
libertado da sarna e dos piolhos, alimentado, recebeu tratamento médico
especial, considerado irmão, não pode acusar o seu salvador de assassino. Fazer
isso é mais do que violência gratuita e intolerância fanática: é ingratidão e
imoralidade. Todos os angolanos de bem se sentem violados e agredidos.
Violência e intolerância é publicar uma carta aberta por ocasião da visita do
Chefe de Estado a Paris e acusá-lo de burlão. Chamar-lhe “ditador dos Santos” e
dizer que quem se lhe opõe “definha nas prisões do sistema ou são
simplesmente suprimidos fisicamente”. Só um sinédrio de biltres insanáveis pode
fazer tais acusações. Violência e intolerância é afirmar que os jornalistas
angolanos são assassinados quando querem informar. Só se for pela UNITA!
Intolerância e violência moral, é dizer na carta aberta que “o presidente
angolano enriquece a sua família com o dinheiro do petróleo em detrimento do
povo”. E a UNITA atenta, sem qualquer pudor, contra a honra e o bom nome da
empresária Isabel dos Santos, apenas por ser filha de quem é. Quando um líder
político se comporta como um mero escriba de pasquim pode esperar tudo da vida,
menos que os angolanos lhe confiem o país. Nós vamos continuar a dizer que esse
rei vai nu, desde que despiu a farda das tropas do apartheid.
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