Jornal de Angola,
opinião – em A Palavra do Diretor
Angola somos todos
nós, mas para apurar quantos somos, onde vivemos e o que fazemos, está em
marcha o Censo Geral da População e Habitação.
Os recenseadores
vão bater-nos à porta para fazerem um inquérito de 40 perguntas. É rápido,
fácil e muito simples. Ninguém vai fazer perguntas que tenham a ver com a
reserva da intimidade privada. Os nossos segredos, os “jardins secretos” de
cada um, não são chamados para o censo. Depois de respondermos ao inquérito
vamos continuar exactamente na mesma, porque apenas revelamos aquilo que é de
interesse para as estatísticas.
O recenseamento da população (e no nosso caso, também da habitação) é uma
prática muito antiga. O imperador romano César Augusto quis saber quantos
habitantes tinha a Judeia, na época colónia de Roma. Maria e José saíram da sua
aldeia em direcção a Belém, para se recensearem. O Menino Jesus nasceu nessa
viagem para ser rei.
Há memória escrita de recenseamentos da população e das terras cultiváveis na
Idade Média, desde os reinos africanos à Europa, passando pelo Oriente, na
época muito mais avançado que o resto do mundo e com cidades organizadas à
custa do recenseamento dos habitantes, da oferta de habitação e dos recursos.
Na época colonial existiram em Angola vários recenseamentos da população. O
último foi em 1970 e ficou marcado o próximo para 1980. Em 1983 foi feito um
recenseamento parcial, porque a guerra de agressão estrangeira impediu
uma operação estatística que respeitasse os princípios básicos do censo.
De resto, os técnicos de estatística recomendam um Censo da População de dez em
dez anos, para acompanhar com fiabilidade a evolução das gerações, mas nada
pode ser feito na confusão generalizada.
O Executivo precisa de saber quantas crianças existem em Angola até aos seis
anos, para poder responder eficazmente aos cuidados de saúde maternos e
infantis. É necessário saber quantas crianças vão em cada ano frequentar o
ensino pré-escolar e quantas vão para as escolas. Com o recenseamento é
possível também prever quantas novas crianças vão entrar, todos os anos, no
sistema de saúde ou na rede pública de ensino.
Quem governa precisa de saber como estão alojadas as famílias angolanas. O
Plano Nacional de Habitação só pode responder positivamente às necessidades
reais do país se for apurado quantos somos, onde e como vivemos. Sem os dados
do Censo Geral da População e Habitação há o risco de construir centralidades
onde basta um bairro ou o contrário. Quando forem revelados os dados finais dos
inquéritos, quem mais fica a ganhar são os angolanos que hoje vivem os efeitos
da interioridade.
Uma vez tirado o retrato da grande família angolana, é possível responder com
eficácia às necessidades exactas de água, luz, comunicações, rede viária,
escolas, postos, centros de saúde e hospitais, espaços verdes, equipamentos de
lazer, aterros sanitários, saneamento básico e estações de tratamento de águas
residuais. O Censo Geral permite dar um forte empurrão à qualidade de vida e
fornece dados estatísticos para uma melhor organização e gestão do território.
A constituição das autarquias locais, que alguns políticos querem que seja
feita à pressa e sem o conhecimento real da situação de cada município e
comuna, tem no Censo da População e Habitação o seu mais precioso aliado. Os
municípios e comunas não são todos iguais. Em qualquer parte do mundo o Poder
Local é constituído por um número de autarcas que é determinado pela grandeza
de eleitores inscritos. Uma comuna com mil habitantes elege menos autarcas do
que uma com 100.000. Os recursos financeiros para gerir uma autarquia com
10.000 eleitores não são os mesmos do que os necessários para 80.000. Só depois
do Censo Geral é possível desenhar o novo mapa autárquico nacional. Onde há
actividades económicas pujantes, as autarquias têm financiamentos garantidos.
Onde nada existe, a não ser um comércio rural incipiente ou agricultura
familiar de subsistência, o Orçamento Geral do Estado tem que reforçar as
finanças locais.
Hoje temos municípios que cresceram de tal forma que justifica o seu
desdobramento em dois ou três. E no interior do país, onde a guerra de agressão
estrangeira destruiu tudo, há municípios em morte social. Face aos níveis de
destruição dos equipamentos básicos e do desmantelamento dos circuitos de
produção e distribuição, deu-se um êxodo de milhões de pessoas. É preciso ter
em conta estas realidades na reconstrução da nova divisão política e
administrativa do país. E só o Censo da População pode dar os números fiáveis
para que este importante passo seja dado.
O Censo Geral é o melhor amigo das futuras eleições autárquicas. A pressa só
pode dar confusão, oportunismo e corrupção. No actual quadro, com os números
que hoje temos, em vez de um poder local democrático, as eleições só podem dar
satisfação àqueles que aprenderam a trabalhar com base em clientelas políticas
sedentas de poder político e financeiro.
O Censo Geral é amigo da boa governação e do futuro dos meninos e meninas de
Angola. O Censo fornece os dados que dão sustentabilidade a uma melhor
gestão da Saúde, da Educação a todos os níveis, do Desporto, dos Transportes
Públicos, da Banca, dos Seguros, da Indústria, do Comércio, dos Serviços, das
Novas Tecnologias. Por isso, devemos encarar os inquiridores do Censo
como gente da casa e recebê-los de braços abertos. Quanto melhor for o seu
trabalho, melhor Angola vamos ter. Até ao fim deste mês vamos todos vestir a
camisola do Censo. Com os seus resultados, Angola fica mais forte.
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