Sebastião Velasco, São
Paulo – Correio do Brasil, opinião
Não bate! O clamor
que tomou conta dos arraiais do conservadorismo brasileiro desde o
anúncio do Programa Nacional de Participação
Social, há alguns dias,decididamente não combina com a
empáfia impostada de seus representantes políticos. Como é que
é? Aposentadoria antecipada para Dilma,
seis meses antes do pronunciamento das urnas? De que vale o
sarcasmo de Aécio e assemelhados, quando ele é desmentido cotidianamente por
seu patente nervosismo?
Fernando Henrique
Cardoso falava ao país em cadeia nacional, e estava tudo muito bem.
Por que a cólera? Por que o afã
em punir com os rigores de uma lei reinventada para
esse propósito, toda vez que Dilma Roussef faz isso?A mesma pergunta vale para
o decreto 8.243. Mal publicado no Diário Oficial,ele foi denunciada pelos
porta-vozes acreditados do conservadorismo pátrio como peça axial do programa
insidioso do PT de transformar em ditadura popular disfarçada nossa ainda
frágil democracia.
Mas a incongruência
entre o objetivo suposto e o instrumento empregado salta à vista. Um decreto
não tem o condão de alterar a ordem constitucional do país. Exercício
unilateral de poder do chefe do executivo, ele pode ser modificado, ou
simplesmente revogado, por outro decreto, em qualquer instante.Ora, ninguém em
sã consciência imagina que o governo venha a se lançar em obras de complexa
engenharia institucional nos próximos meses. Terminada a Copa, a campanha
eleitoral nas ruas, todos os esforços do PT estarão concentrados na tarefa de
conquistar os votos necessários para manter os
postos que detém no presente e conquistar
outros novos. Como essa é uma tarefa inglória, posto que o país rejeita o PT,
assim nos garantem, e tudo que a ele se associa não há porque
perder o sono. A revogação do malfadado decreto será o primeiro ato do próximo
Presidente da República.
Seria essa a
atitude dos opositores se estivessem tranqüilos. Mas eles não estão tranqüilos.
A ansiedade perturba-lhes o sono, e nas noites mal dormidas tomam sombras por
seres reais assustadores, aos quais reagem com alarde como se verdadeira
mente perseguidos. Melhor assim. Ao expressar em palavras o sentimento de
ameaça que os aflige esses personagens se descobrem e ao fazer isso se expõem à
crítica. Se nenhum outro mérito tivesse, o decreto em questão mereceria
aplausos por isso. O que os seus de tratores vêem de tão nocivo nele? Um
abuso de poder, uma tentado à Constituição, uma tentativa perversa de manietar
o Congresso, submetendo-o à vontade de grupos orquestrados, parcamente
representativos.
*Sebastião Velasco, é
professor da Unicamp, especialista em Ciência Política ,
com ênfase em
Economia Política e Relações Internacionais e pesquisador do
Centro de Estudos de Cultura Contemporânea e do Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU).
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