sexta-feira, 20 de junho de 2014

Ministro afirma que não há célula de qualquer grupo terrorista em Cabo Verde




O ministro da Defesa Nacional, afirmou hoje, 17 de Junho, que não há célula de qualquer grupo terrorista em Cabo Verde, contrariando informações de que o Governo admite a existência de elementos ligados às redes terroristas Boko Haram e Aquim no arquipélago.

Jorge Tolentino que falava aos jornalistas no âmbito da curta visita do seu homologo espanhol, Pedro Morenés, à Cidade da Praia, explicou que em relação à notícia que circulou, cintando como fonte um documento governamental, foi um “incidente infeliz”.

“Há documento que avança dados que são dados de um estudo, que aí não deveriam estar e muito menos ter sido publicados. Quem trabalhe com questões de segurança sabe perfeitamente que vivemos perante ameaças reais e concretas e todos os cenários têm de ser colocados  sobre a mesa. Foi isso que se fez com esse grupo de estudo”, disse.

Segundo Jorge Tolentino terá havido ao nível do Ministério da Justiça algum “excesso de zelo” na redacção desse documento, publicado no Boletim Oficial.

“Não há nenhum célula do grupo Boko Haram ou de qualquer  outro  grupo terrorista  aqui em Cabo Verde  e o nosso trabalho  enquanto segurança nacional é no sentido do controlo das nossas fronteiras, dos nossos acessos por forma a que Cabo Verde jamais possa ser o refúgio ou ponto de apoio a qualquer organização terrorista”, sublinhou o governante.

Noticias divulgadas na semana passada por um jornal da praça davam conta de que o Governo cabo-verdiano admite a possibilidade da existência de elementos ligados às redes terroristas Boko Haram e AQUIM (Al-Qaeda no Magreb Islâmico) no arquipélago, e que o crescimento da comunidade islâmica no país é um «factor de preocupação».

O documento em causa refere que “o país poderá estar a ser usado para trânsito, refúgio, recrutamento e treino de grupos terroristas e que o crescimento da comunidade islâmica é um factor de preocupação, na medida em que sempre existe a possibilidade de alguns aderirem e promoverem a ideologia radical”.

De recordar que o Boletim Oficial de 2 de Junho anunciava que Cabo Verde pode estar a ser usado como zona de “trânsito, refúgio, recrutamento e o próprio treinamento de grupos terroristas”, reconhece o governo no Boletim Oficial publicado no dia 2 de Junho.

Apesar de o país nunca ter tido registo de qualquer situação de actividade terrorista, a “situação geográfica e a fraca capacidade institucional de Cabo Verde no combate a este fenómeno, a manifesta invisibilidade do país nesta matéria, aliada a outros factores de risco internos e externos” tornam Cabo Verde vulnerável à entrada de elementos ligados a grupos terroristas vindos da região do Sahel, como é o caso da AQUIM e do Boko Haram.

“Do ponto de vista interno”, refere o Boletim Oficial, a instalação e o crescimento da comunidade islâmica no país, “constituída tanto por estrangeiros como por cidadãos nacionais que estão a converter-se ao Islamismo, constitui uma preocupação na medida em que sempre existe a possibilidade de alguns aderirem e promoverem a ideologia radical”. “Existem alguns indícios a respeito, transmitindo mensagens ofensivas à cultura ocidental”, lê-se ainda no BO publicado na passada segunda-feira.

Hotéis e representações diplomáticas

Embora Cabo Verde nunca tenha sido confrontado com ataques terroristas, “existem indícios de possíveis ameaças resultantes de grupos radicais que operam no país. Foram detectadas deficiências em matéria de monitorização de acesso e circulação em território cabo-verdiano de indivíduos que poderiam estar ligados ao terrorismo (incluindo AQIM e Boko Haram)” admite o governo no Boletim Oficial de 2 de Junho.

No entanto, o mesmo documento frisa que embora “exista baixo risco de se perpetuar actos terroristas em Cabo Verde, não deve ser descartada a ocorrência de tais actos, devido ao modus operandis dos grupos terroristas que têm na sua lista de potenciais alvos os hotéis e as representações diplomáticas”.

Financiamento terrorista não é crime autónomo

A criação da Unidade de Informação Financeira permite a investigação de casos suspeitos de financiamento de terrorismo, isto apesar de este financiamento não ser ainda, em Cabo Verde, “como um crime autónomo”, reconhece o governo no Boletim Oficial publicado ontem.

Apesar de, como diz o Boletim Oficial agora publicado, os principais bancos comerciais terem tomado “medidas para integrar as listas de indivíduos e entidades que estão sujeitos ao regime de congelamento de bens nos seus sistemas de monitorização” ainda não existe um quadro jurídico “específico ou abrangente, que regula o cumprimento das Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas n.ºs 1267 e 1373”, aprovadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, e que no caso da primeira se refere à situação no Afeganistão e à lista de financiadores da Al-Qaeda, enquanto que no caso da segunda adoptada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, a 28 de Setembro de 2001, relativa à ameaça à paz e segurança internacionais causada por actos de terrorismo.

Segundo o Boletim Oficial, existem indícios de fluxos de dinheiro nacional e internacional que poderão ser provenientes tanto de actividades ilícitas (narcotráfico) como lícitas relacionado com o financiamento do terrorismo.


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