Acordo
de cessar-fogo em Moçambique
"Estou
muito feliz, porque, finalmente, o Governo e a Renamo entenderam que as
opiniões pessoais ou partidárias, em algumas situações, devem ser renunciadas
para dar lugar aos interesses nacionais. É completamente impossível misturar interesses
pessoais ou partidários com os interesses da nação”, disse, ontem, Dom Jaime
Gonçalves.
O
arcebispo emérito da Beira, um dos principais impulsionadores e mediadores do
Acordo Geral de Paz, assinado em Roma em 1992, reagiu assim ao acordo alcançado
entre o Governo e a Renamo, último domingo. “Quando falamos de interesses da
nação, estamos a falar do bem de todos, e quando falamos do bem de todos, fica
claro que não há espaço para interesses pessoais, porque, então, logo começam
as tensões políticas que levam aos recursos militares. O Governo e a Renamo
estão de parabéns”, sublinhou.
Não
obstante a alegria manifesta do bispo católico, a satisfação é temperada pela
prudência. É que, apesar dos progressos negociais, Dom Jaime Gonçalves ainda
não acredita numa paz efectiva. Para o prelado, é importante que a paz agora
firmada produza frutos, para ser efectiva. E indicou que um dos seus
frutos mais desejados será a existência de uma democracia genuína. “É
importante que os moçambicanos, e de forma particular o Governo e a Renamo,
entendam que os acordos alcançados para por fim às hostilidades, por si só, não
são garante de uma paz efectiva”, alertou.
“Na
minha opinião, o mais importante, neste momento, é não pormos em causa a nossa
democracia, atropelando as leis para satisfazer interesses particulares ou
partidários, tal como aconteceu no passado, facto que culminou com desavenças
que levaram à instabilidade político-militar dos últimos tempos. Portanto, o
Governo da Frelimo, a Renamo, as outras forças políticas e, de forma
particular, os órgãos eleitorais devem guiar-se estritamente pela lei”.
O
prelado avançou, ainda, que se as leis que regem os órgãos eleitorais nacionais
são impróprias, então, urge alterá-las, para garantir que, durante a campanha
eleitoral, “no processo de votação e no anúncio de resultados não haja
desentendimentos que podem culminar com outras tensões políticas, deitando
abaixo o acordo ora alcançado”.
Dom
Jaime Gonçalves apelou aos órgãos eleitorais a guiarem-se pela lei, para transformar
as eleições de Outubro numa verdadeira festa democrática.
O
País (mz)
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