quarta-feira, 27 de agosto de 2014

"Governo e a Renamo estão de parabéns, mas paz alcançada ainda não é efectiva"




Acordo de cessar-fogo em Moçambique

"Estou muito feliz, porque, finalmente, o Governo e a Renamo entenderam que as opiniões pessoais ou partidárias, em algumas situações, devem ser renunciadas para dar lugar aos interesses nacionais. É completamente impossível misturar interesses pessoais ou partidários com os interesses da nação”, disse, ontem, Dom Jaime Gonçalves.

O arcebispo emérito da Beira, um dos principais impulsionadores e mediadores do Acordo Geral de Paz, assinado em Roma em 1992, reagiu assim ao acordo alcançado entre o Governo e a Renamo, último domingo. “Quando falamos de interesses da nação, estamos a falar do bem de todos, e quando falamos do bem de todos, fica claro que não há espaço para interesses pessoais, porque, então, logo começam as tensões políticas que levam aos recursos militares. O Governo e a Renamo estão de parabéns”, sublinhou.

Não obstante a alegria manifesta do bispo católico, a satisfação é temperada pela prudência. É que, apesar dos progressos negociais, Dom Jaime Gonçalves ainda não acredita numa paz efectiva. Para o prelado, é importante que a paz agora firmada produza frutos,  para ser efectiva. E indicou que um dos seus frutos mais desejados será a existência de uma democracia genuína. “É importante que os moçambicanos, e de forma particular o Governo e a Renamo, entendam que os acordos alcançados para por fim às hostilidades, por si só, não são garante de uma paz efectiva”, alertou.

“Na minha opinião, o mais importante, neste momento, é não pormos em causa a nossa democracia, atropelando as leis para satisfazer interesses particulares ou partidários, tal como aconteceu no passado, facto que culminou com desavenças que levaram à instabilidade político-militar dos últimos tempos. Portanto, o Governo da Frelimo, a Renamo, as outras forças políticas e, de forma particular, os órgãos eleitorais devem guiar-se estritamente pela lei”.

O prelado avançou, ainda, que se as leis que regem os órgãos eleitorais nacionais são impróprias, então, urge alterá-las, para garantir que, durante a campanha eleitoral, “no processo de votação e no anúncio de resultados não haja desentendimentos que podem culminar com outras tensões políticas, deitando abaixo o acordo ora alcançado”. 

Dom Jaime Gonçalves apelou aos órgãos eleitorais a guiarem-se pela lei, para transformar as eleições de Outubro numa verdadeira festa democrática.

O País (mz)

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