Diz-se
que há imagens que valem por mil palavras. Mas também há imagens que valem por
mil silêncios enquanto se despejam enxurradas de asneiras e mentiras para as
esconder e ignorar.
José Goulão*, no Jornalistas sem Fronteiras
José Goulão*, no Jornalistas sem Fronteiras
A imagem de que vos falo não deixa dúvidas. Revela que a fuselagem do avião da Air Malaysian do fatídico voo MH017 mostra sinais indesmentíveis de ter sido metralhado na área do cokpit, o que só poderia ter acontecido por obra e graça de aviões de guerra a serviço da junta que governa parte da Ucrânia a partir de Kiev.
Os participantes, voluntários ou ingênuos, na monumental campanha de propaganda que pretende responsabilizar a Rússia e o seu presidente pelo abate do avião, têm usado – em surdina, porque não é aconselhável levantar turbulência sobre o assunto – argumentos de que a foto pode ser falsa, ou uma montagem, etc., etc., aquelas coisas a que se recorre quando se pretende desmentir a realidade quando ela se mete pelos olhos adentro.
A autenticidade das imagens está confirmada. Tanto pelas referências inscritas no aparelho como pelo testemunho do canadiano Michal Bociurkiw, chefe da delegação de Kiev da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), um dos responsáveis pela investigação que já visitou os destroços do aparelho.
A foto dá credibilidade à hipótese de o avião ter sido abatido por caças ucranianos SU-25 e não por um míssil seja de que nacionalidade ou grupo for. Testemunhos militares e também da aviação civil sublinham que os vestígios na fuselagem correspondem ao armamento instalado nos citados aparelhos.
Alguns estarão recordados de que logo no dia do acidente um controlador aéreo que se encontrava na torre de Kiev, e que usou a sua conta Twitter como “Carlos”, denunciou que o avião acidentado foi escoltado por caças ucranianos até poucos momentos antes de desaparecer dos radares; e que o Ministério russo da Defesa apresentou publicamente provas de que o MH017 teve a companhia de pelo menos um caça ucraniano antes da tragédia; e que testemunhas oculares ucranianas garantiram ter visto aviões militares junto do aparelho malaio.
Fotos em alta definição dos destroços captadas pouco depois do desastre chegaram a estar no Google e, entretanto, desapareceram. O tema ressurgiu com as imagens captadas no local durante a recente visita do chefe da missão da OSCE.
Os principais dirigentes mundiais, com o presidente dos Estados Unidos, reclamam que é preciso conhecer “a verdade”. Enquanto ela vem e não vem trataram de estabelecer a sua “verdade” – a Rússia abateu o aparelho malaio – e determinaram as respectivas sanções econômicas. Até veteranos da CIA escreveram uma carta ao presidente Obama sugerindo-lhe que, ao demonstrar tantas certezas sobre os autores do massacre, já era tempo de apresentar alguma prova concreta das acusações que faz, sob pena de perda de credibilidade.
A junta de Kiev multiplica-se em declarações sobre provas que diz ter e que logo são desmanteladas pela evidência dos fatos. O primeiro-ministro do governo saído do golpe, Iatseniuk, demitiu-se entretanto: existe pelo menos uma coincidência temporal entre o seu afastamento e a tragédia do avião malaio.
Podem surgir mil e uma provas para que se estabeleça “a verdade” sobre o voo MH017. Não pode, nem deve, ser silenciada a evidência que é testemunhada pelas fotos da fuselagem metralhada. Nem que seja apenas a milésima segunda prova.
*Jornalista português, editor do Jornalistas sem Fronteiras www.jornalistassemfronteiras.com/
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