Macau,
China, 24 ago (Lusa) - O académico Larry So defende que as recentes
manifestações dos trabalhadores do jogo em Macau nasceram da semente lançada em
maio, com o protesto contra uma lei que previa regalias para titulares dos
principais cargos, considerado o maior desde 1999.
O
diploma, intitulado "Regime de garantia dos titulares do cargo de chefe do
Executivo e dos principais cargos a aguardar posse, em efetividade e após
cessação de funções", acabou por ser retirado pelo próprio Governo.
A
decisão do Governo seguiu-se a uma manifestação, a 25 de maio, com entre 10.000
e 15.000 pessoas segundo a organização e 8.000 na versão da polícia, e de uma
concentração junto à Assembleia Legislativa (AL), dois dias depois, quando a
proposta ia ser discutida e votada na especialidade.
"De
certa forma, estes movimentos laborais surpreenderam-me, mas também fazem parte
do que chamamos desenvolvimento social, porque o movimento atual é uma extensão
do 25/27 de maio, quando um grupo de jovens cercou a AL", observou o
professor do Instituto Politécnico de Macau (IPM), em declarações à agência
Lusa.
Para
Larry So, a concentração junto ao hemiciclo "foi o ponto de viragem"
porque "muitos dos jovens que lá estavam trabalham nos casinos". O
tema "era bastante diferente, mas eles saíram do trabalho e começaram a
juntar-se, sobretudo ao início da noite, e a falar em grupo, de uma maneira muito
informal. Muitos dos organizadores dos recentes protestos laborais viram nesta
movimentação uma oportunidade para começarem a falar com as pessoas".
Por
outro lado, a rápida resposta do Governo de retirar o diploma e prometer
submeter nova versão a consulta pública teve, segundo Larry So, "um efeito
de demonstração para outros setores muito interessante", uma vez que
"deu alguma confiança às pessoas que lá estavam, as quais sentiram que se
pressionassem obtinham algo".
A
contestação "morreu" no período de cerca de mês e meio que se seguiu
ao cerco à AL, "por causa das férias e de outros fatores, mas, na verdade,
estas pessoas foram para as suas próprias unidades e começaram a
organizar-se", analisa.
Além
disso, aponta, a vaga de manifestações registada no território vizinho de Hong
Kong pelos mais diversos motivos - mas em que se destaca a reforma política -
também "desempenhou uma espécie de voz positiva para os residentes de
Macau".
"As
pessoas olham para Hong Kong e todas as semanas veem protestos. Este tipo de
exposição na comunicação social acaba por funcionar como o que designamos
'normalização dos movimentos sociais', no sentido em que transmitem o
sentimento de que não há nada de mal em manifestarem-se", remata.
Já
a investigadora Esther Castillo, natural de Macau e há mais de uma década
radicada nos Estados Unidos, onde está a fazer doutoramento sobre o impacto dos
casinos na vida quotidiana dos residentes de Macau, destaca a forma informal e
orgânica como nasceu a promotora dos protestos: a associação Forefront of The Macau
Gaming (FMG).
"É
muito interessante, porque era apenas um fórum 'online' participado por umas
cinco pessoas no máximo. Inicialmente não havia um líder, nem grupo, nem plano,
nem sequer a ideia de que algo iria nascer dali", comenta.
O
núcelo, nasceu e vive da internet, salienta a docente, ao realçar que os
elementos na FMG não têm reuniões formais: "Eles expressam o que ouvem dos
trabalhadores, eles não se sentam para decidir o que fazer. É tudo feito
'online', pelo Facebook e Wechat".
Por
outro lado, "são orientados por objetivos", acrescenta, ao explicar
que a primeira reivindicação que os fez sair à rua "foi a proibição de
fumar dentro dos casinos".
A
FMG iniciou em julho uma série de protestos por melhores políticas salariais e
de progressão nas carreiras em três das operadoras de jogo do território -
Sands China, Galaxy e Sociedade de Jogos de Macau (SJM) - e na próxima
segunda-feira vai estender as reivindicações às restantes três empresas com casinos
na Região (Wynn Resorts, Melco Crown e MGM).
FV
// EL - Lusa
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