sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Maria Laura, a indonésia que queria Timor-Leste independente e que nunca abandonou o país




Díli, 29 ago (Lusa) - Maria Laura é indonésia, mas prefere um nome português para contar a história de amor que a uniu a Timor-Leste, país que sempre quis que fosse independente e onde sofreu por causa da consulta popular.

O amor começou em Surabaya, na Indonésia, quando casou com um mestiço, um luso-timorense, que a trouxe para Timor-Leste em 1993 e onde nasceram todos os seus filhos.

"O meu marido era favor da luta pela independência do país e eu também era contra o regime que naquela altura estava instalado na Indonésia", explicou à agência Lusa Maria Laura, que faz 40 anos no dia 04 de setembro.

Do dia da consulta popular que deu a independência a Timor-Leste, realizada a 30 de agosto de 1999, faz sábado 15 anos, Maria Laura recorda o sofrimento.

"Estava em Díli e fugi para a montanha no dia 29 de agosto às nove da noite. Tinha um filho com dois anos, outro com um e estava grávida de outro", disse num português quase perfeito, que foi aprendendo sozinha por razões profissionais.

Para a montanha, Maria Laura levou uma panela e um bocado de arroz e os filhos. O marido já tinha fugido.

"O meu marido era português-timorense e estava a ser perseguido. Por isso fugiu primeiro. Eu fiquei. Sofri muito. Não havia comida, não havia nada. Dormia na barraca e estava muito frio", recordou.

Maria Laura tomou a decisão de fugir depois de um milícia ter batido à porta de sua casa.

"Nem me quero lembrar. Tapei a boca do meu filho com um pano para não fazer barulho. Estava em casa sozinha", afirmou.

Depois disso, encheu a casa com zinco velho, plantas para parecer que não vivia ali ninguém e fugiu.

A 30 de agosto de 1999 milhares de timorenses foram às urnas escolher a independência de Timor-Leste. A participação foi superior a 98 por cento.

As consequências da sua decisão não se fizeram esperar. No dia 31 as milícias pró-indonésia iniciaram ataques contra a população em vários locais de Timor-Leste. A violência aumentou a 04 de setembro, dia em que foi anunciado o resultado do referendo que deu a vitória à independência.

Na sequência do anúncio dos resultados, as milícias indonésias destruíram, mataram, incendiaram e roubaram. Milhares de pessoas fugiram para as montanhas.

"Fiquei contente quando o resultado da consulta popular foi anunciado", disse. Mas, insistiu, o sofrimento foi grande.

"Depois tudo ficou bem. Senti-me bem porque acabou a confusão. Foi um período difícil", recordou.

Quinze anos depois, Maria Laura não tem dúvidas: "Nunca me fui embora porque sou timorense".

"O meu marido era timorense, os meus filhos são timorenses e eu sou timorense", afirmou.

Para uma felicidade completa, Maria Laura só queria a nacionalidade timorense, um processo que já iniciou, mas que até ao momento lhe parece interminável.

"Continuo a querer viver em Timor-Leste, só saio para ir de férias e regresso logo. Gostava mesmo de ter nacionalidade timorense", concluiu.

MSE // EL - Lusa

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