Díli,
29 ago (Lusa) - Maria Laura é indonésia, mas prefere um nome português para
contar a história de amor que a uniu a Timor-Leste, país que sempre quis que
fosse independente e onde sofreu por causa da consulta popular.
O
amor começou em Surabaya, na Indonésia, quando casou com um mestiço, um
luso-timorense, que a trouxe para Timor-Leste em 1993 e onde nasceram todos os
seus filhos.
"O
meu marido era favor da luta pela independência do país e eu também era contra
o regime que naquela altura estava instalado na Indonésia", explicou à
agência Lusa Maria Laura, que faz 40 anos no dia 04 de setembro.
Do
dia da consulta popular que deu a independência a Timor-Leste, realizada a 30
de agosto de 1999, faz sábado 15 anos, Maria Laura recorda o sofrimento.
"Estava
em Díli e fugi para a montanha no dia 29 de agosto às nove da noite. Tinha um
filho com dois anos, outro com um e estava grávida de outro", disse num
português quase perfeito, que foi aprendendo sozinha por razões profissionais.
Para
a montanha, Maria Laura levou uma panela e um bocado de arroz e os filhos. O
marido já tinha fugido.
"O
meu marido era português-timorense e estava a ser perseguido. Por isso fugiu
primeiro. Eu fiquei. Sofri muito. Não havia comida, não havia nada. Dormia na barraca
e estava muito frio", recordou.
Maria
Laura tomou a decisão de fugir depois de um milícia ter batido à porta de sua
casa.
"Nem
me quero lembrar. Tapei a boca do meu filho com um pano para não fazer barulho.
Estava em casa sozinha", afirmou.
Depois
disso, encheu a casa com zinco velho, plantas para parecer que não vivia ali
ninguém e fugiu.
A
30 de agosto de 1999 milhares de timorenses foram às urnas escolher a
independência de Timor-Leste. A participação foi superior a 98 por cento.
As
consequências da sua decisão não se fizeram esperar. No dia 31 as milícias
pró-indonésia iniciaram ataques contra a população em vários locais de
Timor-Leste. A violência aumentou a 04 de setembro, dia em que foi anunciado o
resultado do referendo que deu a vitória à independência.
Na
sequência do anúncio dos resultados, as milícias indonésias destruíram,
mataram, incendiaram e roubaram. Milhares de pessoas fugiram para as montanhas.
"Fiquei
contente quando o resultado da consulta popular foi anunciado", disse.
Mas, insistiu, o sofrimento foi grande.
"Depois
tudo ficou bem. Senti-me bem porque acabou a confusão. Foi um período
difícil", recordou.
Quinze
anos depois, Maria Laura não tem dúvidas: "Nunca me fui embora porque sou
timorense".
"O
meu marido era timorense, os meus filhos são timorenses e eu sou
timorense", afirmou.
Para
uma felicidade completa, Maria Laura só queria a nacionalidade timorense, um
processo que já iniciou, mas que até ao momento lhe parece interminável.
"Continuo
a querer viver em Timor-Leste, só saio para ir de férias e regresso logo.
Gostava mesmo de ter nacionalidade timorense", concluiu.
MSE
// EL - Lusa
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