domingo, 21 de setembro de 2014

Angola: MUDEM-SE ALGUMAS PESSOAS E TUDO CONTINUARÁ NA MESMA



Folha 8, 20 setembro 2014

O Presiden­te José Eduardo dos Santos, seja como chefe do Governo, ou presidente do MPLA e da Repúbli­ca, continua a valorizar o acessório e a chutar para canto o essencial. Mais uma vez, para resolver os problemas de Luanda, aposta em não ir às ques­tões estruturais – comuns a todas as suas estratégias governativas – ficando­-se pela substituição de pessoas, qual delas a pior. O busílis está no tipo de governação, mas ele en­tende que por ser dono da verdade tem o direito de impor a sua visão, quase sempre distorcida.

José Eduardo dos Santos exonerou o governador provincial de Luanda, Bento Francisco Bento, e mais dois dos três vice­-governadores da capital. Em linguagem popular, mudou as moscas mas deixou a boiar a maté­ria putrefacta que as ali­menta. Que as coisas na capital não estão bem, todos sabem. Mas não estão há muitos, muitos anos. Remendando aqui, esburacando ali, Luanda precisa sobretudo de uma governação competente e não, como acontece, de uma gestão casuística que potencia interesses indi­viduais e marginaliza o colectivo.

E para substituir um po­lítico empolgante na es­tratégia do MPLA em Angola, nomeou um in­trovertido homem, que já havia dado mostras de pouco, também, saber fa­zer, quanto a gestão admi­nistrativa de uma grande cidade, como Luanda: Graciano Francisco Do­mingos. Recorde-se que o novo governador, retorna ao cadeirão que havia ocu­pado, interinamente, há três anos, tendo saído por inadaptação ao cargo, Segundo as motivações que levaram a sua exo­neração. No entanto, ele repete-se nos objectivos, que álias são sempre os mesmos, dando a sen­sação de haver já uma disquete, para cada novo governador. Oiçamos: “As áreas prioritárias da nossa atuação, conforme a atual política em cur­so, serão a saúde pública, o saneamento básico, a recolha de lixo, além da mobilidade, face ao caos diário vivido no trânsito automóvel em Luanda”. Santa misericórdia, esta visao está ao alcance de qualquer garoto da 4.ª classe…, mas enfim, são os governantes que temos. De programa e projecto em concreto Graciano, não tem nada, tanto assim é, que para demonstrar a sua eventual “incom­petência-competente”, na mesma altura, o chefe Eduardo decidiu-se pela repetição, quantas vezes já o fez, nem os seus as­sessores, se dão conta e têm o cuidado de rebus­car decretos anteriores, sobre quantas Comissões de Reestruturação de Luanda foram criadas e, caricatamente, com o mesmo objectivo.

“Necessidade urgente da desconcentração admi­nistrativa e da adopção de um modelo de adminis­tração local diferenciado para esta província, pelo facto de albergar a capi­tal e se tratar da mais po­voada, mais urbanizada e mais estruturada do país”.

E não parando na justi­ficativa a Casa Civil do Presidente, realça que o modelo de desenvolvi­mento do espaço urbano da província de Luanda “assenta em novos entes territoriais e em diferen­tes modelos de gestão”, exigindo-se “a prestação de um serviço público mais eficiente às popula­ções e a criação das me­lhores soluções para a futura administração au­tárquica”.

Óh santo, Dos Santos en­tão só agora? Esperemos que amanhã não venha a ladainha do facto de bi­furcarem cidade e zona metropolitana, para que, tal como agora, num prazo de 90 dias se apresen­te um relatório final. E o apresentado pelo Carlos Feijó ou ainda o do Higi­no Carneiro, foram parar ao tambor do lixo? É que eles também já estiveram na liderança de comis­sões de reestruturação.

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